Road Movies: filmes que são uma viagem na estrada

“Quando nasceram os filmes de estrada? Em Homero, no desejo de Ulysses retornar à casa? Nos primeiros documentários de cineastas-viajantes como Robert Flaherty? Na influência dos fotógrafos humanistas que, como Cartier-Bresson, cruzaram fronteiras para entender como viviam os outros, aqueles que não faziam parte de sua própria cultura?” Estas questões foram colocados por Walter Salles, director e produtor de cinema. Salles conta, no seu currículo, com alguns road movies, como é o caso de On the Road (2012), baseado no romance de Jack Kerouac, lançado em 1957.

MM_roadmovies2On the Road é, sem dúvida, um dos meus filmes favoritos. Retrata,  da melhor maneira, o desejo de viajar e é um exemplo de rebeldia.  Baseia-se em várias viagens e como estas modificaram a vida e o  relacionamento de dois amigos e conduziram ao nascimento de uma  obra de arte, o livro de Jack Kerouac. Para realizar o filme, Salles  refez a rota idealizada por Kerouac, percorrendo os Estados Unidos  da América da Costa Leste a Oeste, na conhecida rota 66.

Porém, existem muitos road movies que são obrigatórios para os amantes de cinema e de viagens. Y tu Mamá También (2001) é imperdível. Transmite ao espectador a alegria que se sente em viajar, muito em parte devido à tenra idade dos jovens protagonistas, que dão uma vivacidade sem medida ao filme. Estes dois rapazes viajam pelo interior do México, com uma mulher mais velha. Ao longo do caminho, aprendem muito sobre amizade, sexo e valorização de cada momento da vida, como se fosse o último. Um belíssimo trabalho de Alfonso Cuarón.

O Into the Wild (2007) é, talvez, dos filmes que vi mais vezes. Este trabalho de Sean Penn retrata a vontade que todos os seres humanos sentem, em alguns momentos da sua vida, de escapar da sociedade, do consumo, da futilidade. Com este filme, descobrimos que o mais bonito está na Natureza, na nossa capacidade de sobrevivermos sozinhos, de combatermos as adversidades que vão surgindo. Conta-nos a história de um jovem que acaba de sair da faculdade, que decide percorrer um caminho de auto-conhecimento, de auto-determinação e que busca uma vida mais “selvagem”, saíndo do conforto a que a sua família o habituou. Uma inspiração.

This Must Be The Place (2011) é um road movie “diferente”. Cheyenne, interpretado por Sean Penn, tenta encontrar, nos EUA, o nazi que humilhou o seu pai num campo de concentração na Segunda Guerra Mundial. É uma história de vingança, misturada com “comédia dramática”. Premiado em Cannes e exibido no Festival do Rio 2011, o filme retrata uma jornada de autoconhecimento e de descobertas.

MM_roadmovies1Contudo, o que têm em comum estes filmes? Surgidos principalmente após a Segunda Guerra Mundial, estão relacionados pelas dimensões intrínsecas do ser humano, como o nomadismo, a capacidade de locomoção e o interesse nela por razões, ou necessidades distintas. Como declarou Salles, em Cannes, “quanto mais nos distanciámos das raízes, do ponto inicial, ganhámos mais perspectiva sobre quem somos, de onde viemos e, eventualmente, quem queremos ser.” Luiz Zanim Orichhio, crítico de cinema do jornal Estado de São Paulo, considera que a viagem é a metáfora da mudança. “Por um lado a viagem acaba por nos atrair e, por outro, atira-nos à cara a nossa irremediável finitude.”

Nos road movies, os caminhos realizados acabam por se tornar mais relevantes do que os lugares para onde se está a ir, embora nos deixe ansiosos por chegar ao destino. Um deslocamento físico que oferece aos seres humanos uma experiência única. Os road movies são um exemplo de liberdade, retratado num cenário de aventuras de pesssoas que estão insatisfeitas e procuram algumas respostas, procuram encontrar-se.

Se ficou com vontade de pôr o “pé na estrada”, aqui ficam alguns road movies imperdíveis: Easy Rider (1969), Thelma e Louise (1991), Little Miss Sunshine (2006), Central do Brasil (1998) e Diários de Motocicleta (2004).

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