É o exemplo perfeito do self-made man. Descendente de gente pobre, mas cheia de garra, cedo percebeu que tinha uma fibra especial a correr nas veias. O seu tio Joaquim foi forçado a ser um contrabandista e isso trouxe lucidez e força para a sua vida.
É o maior empresário português no ramo do café e o Estado reconheceu os seus bons serviços com uma comenda. Contudo, isso não lhe sobe à cabeça pois a sua natural humildade não se perde com os títulos que possa ter.
Campo Maior deve-lhe muito, pois, de terra ignota, passou a capital do café e mostrando às suas gentes que o lugar onde se nasce tem um encanto tão poderoso que continua a chamar.
O café é tomado agreste, sem açúcar, para que não perca a sua tão poderosa essência. Tal como a que lhe deram os seus avós e pais. Onde hoje está a fábrica era o local da barraca onde viveram os avós.
O pai aprendeu a escrever na tropa e a mãe era analfabeta, o que não quer dizer que não fosse exímia no governo da casa. O pai tinha que se ausentar muitas vezes e a mãe fazia o papel dos dois. Por isso os filhos foram à escola. Rui tem apenas a antiga 4º classe.
A Guerra Civil Espanhola também lhe deixou lembranças das duas, das boas e das más. Havia os presos devolvidos a Espanha, que já se sabia o destino certo e o outro lado, menos mau, era o comércio que a mercearia da família proporcionava.
O café era o produto mais contrabandeado e não importava se era ou não correto. A sobrevivência tinha de estar assegurada e fazia-se o que era possível. A vida sempre foi dura e quem passou por ela sabe dar-lhe valor.
E num ápice a vida foi mostrando que quem labuta consegue a sua recompensa.
Começou com a marca Cubana, mas passou para a Camelo e o alvo era o público espanhol. Só mais tarde veio a Delta, que é um nome que até os chineses sabem pronunciar.
Sem vontade de se reformar, sabe que os filhos e netos têm uma forma diferente de gestão, mas que a empresa ficará em boas mãos. Os netos tiveram outras hipóteses de aprender e os seus frutos já se notam.
Atento a todos os tempos, de olho colocado no futuro, soube estar presente para a comunidade. Como tal, as suas iniciativas culturais, que começaram com pequenos excertos literários nacionais, em pacotes de açúcar, o que ele nem consumia, chegaram bem longe. Pessoas destas são de conservar.
Curiosamente, quem visita Campo Maior ouve falar deste homem tão amado por todos. Nunca se ouve dizer o Nabeiro, mas sim o senhor Nabeiro. Além do respeito sente-se a gratidão e reconhecimento. Um homem que soube chegar a todos e com todos.
Partiu no Dia do Pai, um simbolismo curioso e profético. Pai e avô, soube legar os seus valores aos vindouros e a todos os que o rodearam. A sua partida é física que a obra continua.
Espera-se que a História lhe faça justiça e que o seu legado mantenha a chama e a lucidez que lhe foram sempre peculiares. Fez tudo o que estava ao seu alcance. Resta agradecer o seu labor e força de vontade para criar uma marca indelével.