
Poeta, romancista e tradutor, Paulo Leminski nasceu no dia 24 de agosto de 1944, na cidade de Curitiba, estado do Paraná, no sul do Brasil. Mestiço, de pai polaco e mãe negra, Paulo Leminski teve contato com o latim, teologia, filosofia e literatura clássica aos 12 anos, quando entrou no Mosteiro de São Bento, em São Paulo. Em 1963, abandonou a vocação religiosa, tornou-se professor de História e Redação e, posteriormente, foi diretor de criação e redator em agências de publicidade, o que influenciou bastante a sua produção poética, sobretudo, no aspecto da comunicação visual. Em 1975, publicou o seu primeiro romance, Catatau, livro que denominou de “prosa experimental”.
Paulo Leminski tornou-se um dos mais destacados poetas brasileiros da segunda metade do século XX. Inventou a sua própria forma de escrever poesia, fazendo trocadilhos ou brincando com ditados populares: “sorte no jogo / azar no amor / de que me serve / sorte no amor / se o amor é um jogo / e o jogo não é meu forte, / meu amor?”
Foi um dos principais nomes da Poesia Marginal, também conhecida como Geração Mimeógrafo, que tinha este nome porque muitos poetas recorriam ao mimeógrafo (antiga máquina de fazer cópias) para reproduzirem os seus textos e livros. O método quase artesanal era um processo alternativo de criação, produção e distribuição do poema, que substituía os meios tradicionais de circulação das obras, como editoras e livrarias. Vendidos de mão em mão, os livros eram comercializados a baixo custo para um público restrito que frequentava eventos relacionados com a cultura marginal, assim conhecida por estar fora dos cânones literários e à margem da crítica literária.
O inconformismo com os moldes literários impostos pela academia e com a chamada “cultura oficial” brasileira, responsável por deixar à margem toda produção cultural que estava fora dos padrões, foi a força motriz para esse grupo de artistas criativos que subverteram a mesmice ao propor uma constante inovação poética.
Morreu a 7 de junho de 1989, há exatos 30 anos, em consequência do agravamento de uma cirrose hepática que o acompanhou por vários anos.
Comigo, em comum, somos do mesmo estado brasileiro e apaixonados pela mesma equipa de futebol, o Athletico Paranaense.
Destaco os seguintes poemas:
Bem no fundo
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
Dor elegante
Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha
Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra
Amor bastante
quando eu vi você
tive uma ideia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
basta um instante
e você tem amor bastante
Paulo Leminski