O que se passa com o PSD?

Por estes dias encontrei na caixa de correio um panfleto do PSD intitulado “Pela Nossa Terra”. Apelava ao voto pelo PSD nas eleições para o Parlamento Europeu.

Sou apartidária. Inclino-me tanto à esquerda como à direita, mediante os temas que se abordam. Dispenso, aliás viver amarrada a opiniões que se balizam entre quatro linhas imaginárias. Ser humano é sermos livres para ter opinião e mudar de opinião as vezes que nos permitirmos.

Ler panfletos políticos soa-me sempre a chorrilhos de palavras bonitas em alegações bem emparelhadas, mas que não são enquadrados. Quando assumimos um trabalho técnico, é necessário efetuarmos um relatório, juntar evidências e demonstrar que determinada medida e ação terão um provável desfecho expectável e mensurável. Em nenhuma campanha política encontramos este tipo de informação técnica.

Descortinar o processo político, eleições e partidos leva-me a comparações com o campeonato futebolístico.

Comparando a política a um campeonato de futebol, com muita menor assistência e entusiasmo dos seus adeptos eleitores, vemos a rotação a cada época dos jogadores existentes, algumas rescisões agressivas, os que se vão mantendo sem grande evolução, a ascensão do jogador que passa a capitão, que anos mais tarde passa a treinador, ou a outra posição e até quem sabe a presidente do clube. Por vezes, esta dinâmica é afetada por contratações surpresa, que vêm confundir a gestão da ascensão por direito com a ascensão meritória e/ou seletiva. Outras vezes é preciso afastar temporariamente da ribalta determinados rostos. Noutras situações, existem fantoches que dão a cara e que são manipulados à distância. Ou é preciso recorrer a suplentes quando há lesões e suspensões. Paralelamente a este processo, por muitas polémicas de fruta e outros afins que surjam, mesmo que não se seja o vencedor do campeonato ou da/s taça/s, o clube vai vivendo com a fervor dos adeptos e a habilidade de falantes representantes.

O clube continua a representar-se pela cor do símbolo e pelas 4 linhas imaginárias que extrapolam o campo de futebol. Os jogadores continuam a entrar em campo, muitas vezes não passando a linha do meio campo. Há jogos escolhidos para atacar, outros para defender, outros para render. Há clubes que sabem que nunca serão candidatos ao título, que fazem alianças e acordos, que vão chateando os 3 primeiros. Depois há clubes que serão sempre grandes, mesmo que fiquem nos 5 primeiros por anos a fio. E de vez em quando existem vencedores surpresa da taça e terceiros lugares, que vêm abalar os acomodados, levando-os a espevitar o rumo do clube na época seguinte. Atentos a estas fases de hibernação dos clubes e conformismo com a manutenção acima da linha de água, desabrocham os eloquentes e saem do casulo alguns seres que realmente acreditam na mudança pela palavra.

O PSD, Partido Social Democrata, surgiu nestes momentos, em que era sempre o mesmo clube que ganhava o campeonato, em que havia a ânsia de mais e melhor.

O PSD nasceu pela busca ideológica de uma democracia política, económica, social e cultural. Defendendo na democracia política o poder popular para a escolha individual e livre de quem governa, na democracia económica que o interesse público deve sobrepor-se ao poder privado, na democracia social em que todos devem ter assegurados o direito fundamental à saúde, habitação, bem-estar e segurança social, e na democracia cultural pela garantia do acesso de todos à educação e à cultura.

E nos quase 50 anos de existência, o PSD tem feito um longo caminho e tem jogado entre 4 linhas imaginárias. Na cronologia de vida, no auge da adolescência, repetem-se nomes cujo rosto já confundimos com o próprio símbolo. Nomes que não foram populistas, mas que tiveram o consenso popular, e que foram campeões.

Nos últimos tempos, o PSD perdeu a identidade, falta-lhe um capitão, um treinador e um presidente que impulsionem os jogadores a trabalhar em equipa, e que impelem os seus adeptos a manterem-se fervorosos.

Jogar à defesa, trocar bolas no meio campo sem impulsionar as jogadas, descurar os ataques de equipa, não selecionar os jogos para ganhar, e perder tempo a testar os pontas de lança em ataques individuais e em jogos amigáveis tem-se tornado ruinoso.

Talvez seja o ciclo de um partido político a cumprir-se e esteja para breve a fase da retoma. Talvez a equipa precise de mais treino, de situações limite, ou até da catarse de serem uivados no fim do próximo jogo.

Talvez se trate de uma crise de meia-idade que culmine no reinício, que lembre e honre quem o fez nascer, e que no próximo campeonato, “Pela nossa Terra” que o PSD lute para vencer.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Viver em rotinas

Next Post

Poetas Sul Brasileiros: Paulo Leminski

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Read next