Pediram-me que falasse da máxima “menos é mais”. Há uma frase muito conhecida que diz que as melhores coisas da vida não são coisas – e é esta a minha leitura dessa máxima que tem ganhado força. Ora, se as coisas mais importantes não coisas, não precisamos de ter muito para sermos melhores ou mais felizes. Basta-nos ter o essencial e deixar de lado o supérfluo.
Quando nos deixamos embrenhar nas coisas que poderíamos ter perdemos a noção daquilo que já temos. Podíamos ter um novo telemóvel, um novo computador, mais uma dúzia de livros, mais uma grande quantidade de roupas novas e mais dinheiro. Mas não temos. E enquanto pensamos em todas as coisas que gostávamos de ter, vamos deixando para trás as pessoas, os sorrisos daqueles que amamos e os abraços daqueles que nos querem bem.
N’Os Lusíadas, Camões descreve, através do Cupido, no célebre episódio da Ilha dos Amores, o desconcerto do Mundo, afirmando que a sua causa reside no facto de os Homens amarem coisas que lhes foram dadas para serem usadas e não para serem amadas – nomeadamente o dinheiro e o poder. A minha insistência na questão das coisas versus pessoas tem que ver com isto, porque – sejamos sinceros – o melhor da vida são as pessoas e o que eles têm para nos dar.
Por isso, enquanto não conseguirmos perceber que menos é mais e que quanto menos nos deixarmos levar pelas coisas que podíamos ter e passarmos, pelo contrário, a amar mais as pessoas e a sentirmo-nos gratos pelas coisas que já temos, mais seremos felizes. Porque menos amor pelas coisas implica, obrigatoriamente, mais amor por aquilo que nos é dado, por aquilo que não precisamos de comprar, por aquilo que nenhum dinheiro pagaria.