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Amesterdão

Levava curiosidade e grande expectativa, que não saiu gorada após os três dias em Amesterdão, ainda que as primeiras impressões não tenham sido as melhores: um aeroporto caótico e uma cidade suja. Felizmente, há casos raros em que as primeiras impressões se desvanecem quando os episódios seguintes nos envolvem e isso aconteceu logo ao fim do primeiro dia.

Chegámos a meio da tarde do dia de Portugal, descansámos um pouco no hotel e fomos galgar a cidade: os canais e o cheiro a ganza (e o inenarrável aroma a mijo putrefacto junto aos WCs espalhados pela cidade), os barquinhos, as casas flutuantes e o Red Light District, uma waffle ou panqueca e toma lá 14 kms.

As casas inclinadas devido à cedência do solo.

Levava também a Casa de Anne Frank e um passeio de barco; o resto era o que fosse. No dia seguinte, a Ana (prima da Sofia) e o Pedro vieram passar o dia connosco. A visita à casa de Anne Frank foi impressionante (a leitura do livro tinha dois meses, estando ainda muito fresca). Entrámos também na exposição do World Press Photo, na igreja junto ao Palácio Real, e em Begijnhof, uma ilha de silêncio no centro da cidade. O resto: passear por Amesterdão, sentir os sons e odores, observar recantos, como as casas que vão inclinando devido ao apodrecimento das madeiras sobre as quais a cidade assenta (para “compensar” a água no solo), a placa assinalando a casa onde viveu John Adams, segundo presidente Americano, enquanto diplomata, sentarmo-nos num café ou esplanada e ver como os empregados nos atendem ou a gente que passa na rua.

Os holandeses não são bonitos: demasiado cavalões (e cavalonas) para o meu gosto. Parece que Deus ou a Natureza se atrasou a carregar no “Pause” e uma parcela considerável desta gente ficou a padecer de gigantismo envergonhado. O Pedro disse-nos que eram o povo mais alto do mundo e segundo a Ana, as crianças eram muito bonitas mas depois cresciam e ficavam enormes. E é isso: cavalões disformes. Saldo do dia: 13 kms.

O passeio de barco, o repasto e o casal americano

Levávamos na ideia comprar o passe de transporte para três dias mas à medida que fomos percebendo que a cidade se conhecia bem a pé, a decisão foi sendo adiada. Um desejo secreto – alugar duas bicicletas – foi prontamente riscado da lista de To Dos pois parecia que os ciclistas haviam sido recrutados entre os piores jogadores de GTA, assumindo que carregando no plim plim com o polegar nós saíamos da passadeira para deixar suas excelências, gigantones a abrir nas suas bicicletas, passar: umas vezes sim (se não passavam-nos por cima), noutras não. Seguimos a pé.

Muito mais do que fechar-me em museus de dimensão gigantesca (que chega a ser sinistra) a papar salas sobre salas pejadas de quadros, estatuetas, máquinas de escrever, etc… (os traumas do Museu da Ciência em Londres e do Prado em Madrid acompanham-me para a vida), gosto de museus pequenos, sobretudo lugares reais onde aconteceu História em vez de espaços artificiais para visitar (que também são necessários; eu é que não gosto). Assim, aos Cabinet War Rooms, em Londres, juntei A Casa de Anne Frank e a Casa de Rembrandt, visitada no terceiro dia, aos meus museus preferidos. Neste dia andámos pela zona dos museus, pelo Vondelpark, e demos o passeio de barco pelos canais (prenda de aniversário da minha irmã Maria, com direito a queijo e vinho – fiquei almoçado; a Sofia nem tanto…). O périplo foi fantástico: conhecemos um casal de americanos que haviam feito o Caminho Francês de Santiago (o meu boné, com as palavras Bom Caminho, foi o cartão de visita) e ficámos a saber que Amesterdão tem mais bicicletas do que habitantes (um milhão e duzentas versus oitocentos mil) e que todos os anos são retiradas quinze mil bicicletas dos canais. É o que dá não parar nos sinais!

O trânsito no rio Amstel junto ao Hotel de l’Europe

Passámos em frente ao Hotel de L’Europe e lembrei-me de Correspondente de Guerra, de Hitchcock. Cansados, fomos até ao hotel onde dormi hora e meia (nunca durmo de tarde!) Terminámos o dia num italiano, uma bela surpresa nas imediações do Hotel Larende, com mais 17 kms nas pernas.

No dia seguinte tomámos o pequeno-almoço e quando a Sofia passou o cartão para entrarmos no quarto pela última vez, visitou-me o pensamento de que a vida, afastando as rotinas (diárias ou anuais) é uma sucessão de últimas vezes. Também podemos dizer que é uma sucessão de primeiras vezes mas não deixa de ser curioso, ainda que Amesterdão tenha gravado em mim o desejo de lá voltar, pensar que provavelmente nunca mais voltaremos àquele hotel. Talvez ainda bem. E se voltarmos, ainda bem na mesma. Há que abrir espaço para novas experiências e repetir o que foi bom (como no filme Same Time, Next Year).

Pelos canais de Amesterdão

Final: Aeroporto de Schiphol novamente, o terror dos aeroportos mundiais!! Uma hora e meia na fila para passar a bagagem pela merda da passadeira! Não estamos a falar de controlo de passaportes nem de cidadãos extra-comunitários (que seria mau na mesma pois todos somos filhos de Deus): estamos a falar em passar uma mochila, o cinto e o cascalho dos bolsos por uma puta de uma passadeira!! O cartão de embarque aconselhava a estarmos com três horas de avanço no aeroporto enquanto eu queria estar lá apenas duas horas antes. A Sofia venceu a argumentação e ainda bem: sem saber o que nos esperava, imagino quanto iria stressar (a mais do que stressei) se visse aquela fila pornograficamente gigantesca e aquele lugar, que mais parecia um acampamento cigano montado no recinto de um Festival de Verão, a duas horas da partida.

Mais 9 kms a pé para fechar a viagem e não deixámos que o tenebroso aeroporto turvasse a nossa visão sobre a cidade. Amesterdão é uma cidade fantástica. Não gostaria de lá viver (não sei se gostaria de viver em alguma cidade) mas é daqueles lugares a que apetece regressar passada uma década ou duas. Valeu a pena.

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