Gostava de agarrar o tempo com as mãos. Aquele breve instante que, se morrêssemos naquele preciso momento, não importaria porque tudo fazia sentido. Morreríamos felizes.
Afirma-se que o tempo é feito de muitos instantes. Instantes que podem esmagar quando amargos, que fazem renascer quando se desvendam em lições, que nos explicam em porquês quando sentidos e inesperados.
Mas o tempo não se agarra só com as mãos. Agarra-se de peito aberto, de olhos sentidos e despertos, com a certeza profunda de que se o sentíssemos em totalidade, de tão intenso que é, talvez não houvesse certezas de o aguentarmos.
Que instante único é esse, que nos poderia fazer morrer sem culpa ou amargura? O que é que realmente queremos que não conseguimos agarrar? Que história é essa que nos prometeram de que podemos viver felizes para sempre?
Corremos atrás do tempo, sem tempo a perder, mas ele passa através de nós. Corremos para agarrar aquilo que achamos que é perfeito, que nos ensinaram desde sempre que é correcto e que criámos em mente, sem perceber que ao estarmos presentes, o próprio tempo encarrega-se de trazer o que é melhor. Mesmo, que nos pareça, como o pior de tudo.
Temos medo de não ter tempo e esquecemo-nos de o viver, apesar de ele estar a passar a correr.
Quando não o podemos viver, damos-lhe valor. Quando o temos de volta, voltamos a vivê-lo a correr.
Dizem-me, por vezes, que a minha felicidade não depende de agarrar o tempo com as mãos. Depende de lógicas, de noções pré-estabelecidas e de que viver feliz para sempre está no que socialmente é necessário ser incutido. Na mente do que cada um acredita ser socialmente correcto.
No entanto, a sociedade que conhecia, até então, está a ser agitada em tremores inesperados e está abalada. Também ela quer agarrar o tempo mas não está a conseguir. Está a ser reinventada e não sabe por onde se reinventar.
Acredito que vai conseguir. Sei que não será feliz para sempre A única forma de se ser feliz para sempre é perceber que reinventar-se e descobrir-se, dói. Arde. Magoa tanto que, por vezes, não há outra forma senão deixarmo-nos mesmo cair.
Temos de o fazer. Para depois levantar. Perceber o que é que nos poderia fazer felizes, hoje. Só por hoje. Só agora.
Eu queria agarrar o tempo com as mãos. Inspirar, deixar ir, deixar ficar e perceber que o tempo é livre e solto de preconceitos. Que há leveza nos olhares, nos gestos e em todas as outras mãos que vejo que, neste momento, não se conseguem agarrar a nada. Dizer-lhes, de mansinho, que é preciso calma. Ainda há tempo.