A cada revolução dos Média, o método de transmissão de informação mais popular sofre com a introdução de um novo. Como todos sabemos, a rádio sofreu com a popularização da televisão, tendo ocorrido o mesmo a este último, aquando do aparecimento da Internet. No entanto, a criação de novos meios de transmissão não dita a morte do anterior, como é provado pelo crescente sucesso de séries de televisão, fomentado pela sua disseminação na Internet. O mesmo aconteceu com a rádio, ainda que em menor escala, através do formato de podcast. A seguinte lista apresenta alguns dos melhores programas a serem emitidos actualmente, através deste formato.
8 – Lexicon Valley
Apresentado por Mike Vuolo e, como seu side-kick, Bob Garfield, Lexicon Valley é certamente um podcast de nicho. Como o próprio nome dá a entender, o tema central do programa é a língua, ou, melhor dizendo, a ciência por detrás da língua. Ainda que os apresentadores tentem manter uma conversa agradável, engraçada e compreensível, Vuolo e Garfield não simplificam o assunto em demasia, confiando nos conhecimentos (mesmo que amadores) dos seus ouvintes. Depois de um hiato de alguma duração, as emissões do podcast voltaram a ser regulares, com a participação pontual e muito interessante do lexicógrafo Ben Zimmer, que lança desafios aos locutores e explica o aparecimento e crescimento de certas palavras e expressões populares. Certamente este não será um podcast para todos, mas a boa disposição dos seus intervenientes levará muitos desconhecedores do tema a seguirem o programa.
7 – Sawbones
Sawbones é um podcast que procura esclarecer várias dúvidas médicas relacionadas com problemas de saúde comuns, fazendo um resumo histórico de todas as formas ridiculamente erradas de como as tratávamos. Mesmo tendo em conta a sua leveza e agradável falta de seriedade, Sawbones é um dos programas mais informativos que se pode encontrar na Internet – ainda que isto não seja dizer muito. O podcast é apresentado pela Dr.ª Sydnee McElroy e o seu marido Justin McElroy. Até quando o tema envolve doenças mais graves (como o ébola), ou más escolhas de saúde (como não vacinar os filhos), o casal acaba por conseguir aliviar a tensão que este tema costuma causar, sendo uma óptima ferramenta para diminuir os tabus em volta de certas doenças. No entanto, como é anunciado no início de cada episódio, o objectivo da família McElroy não é o de substituir a opinião de um médico de família, mas apenas servir como puro entretenimento. A meu ver, consegue muito bem ser os dois.
6 – Governo Sombra
Dos oito podcasts aqui apresentados, apenas este não o é por natureza, sendo, no entanto, disponibilizado como tal (infelizmente, ainda é complicado encontrar podcasts portugueses de qualidade). Centrando-se na análise dos temas políticos que ocuparam a semana precedente, este programa de rádio transformado em programa de televisão conta com a mediação de Carlos Vaz Marques e o comentário de Ricardo Araújo Pereira, Pedro Mexia e João Miguel Tavares. Mesmo não sendo o único, nem o primeiro programa de comentário político com um carácter menos sério, o Governo Sombra ganha com a grande empatia que os quatro partilham, acabando por ser uma das melhores formas de nos mantermos a par das notícias nacionais e internacionais mais importantes – ainda que não esgote, de forma alguma, a discussão dos temas trazidos pelos comentadores. Acima de tudo, este programa é a prova que mostra que o Ricardo Araújo Pereira é o único comediante português com capacidade de fazer humor político.
5 – Oh No, Ross and Carrie!
Nascidos em famílias fortemente religiosas, Ross Blocher e Carrie Poppy começaram a questionar os preceitos da igreja organizada, tornando-se cépticos de todas as reivindicações paranormais e “ciências” alternativas. No entanto, Ross e Carrie tentam entrar nas suas investigações com um espírito aberto – o que nem sempre acaba por ser verdade –, procurando perceber, a partir de provas concretas, se o caso sob investigação se consegue sustentar sobre os seus argumentos. Ainda que a grande maioria dos episódios sejam constituídos pela mesma estrutura e a relação entre os dois apresentadores seja bastante agradável e engraçada (não faltam gargalhadas em cada episódio), existe uma grande variação no tipo de casos escrutinados, o que acaba por afectar a qualidade dos mesmos. Os melhores episódios são, invariavelmente, aqueles que envolvem mais trabalho e perigo, especificamente aqueles em que Ross e Carrie se “infiltram” em seitas, ou grupos religiosos, examinando, a partir de dentro, os seus princípios e crenças. Oh No, Ross and Carrie! procura celebrar o pensamento livre e científico, ganhando ainda mais mérito por tentar não ridicularizar as crenças de cada um.
4 – Judge John Hodgman
No comando deste tribunal, encontra-se o juiz – apenas na Internet – John Hodgman. Mais conhecido pelas suas esporádicas aparições no The Daily Show with Jon Stewart, na sua personagem de milionário demente, Hodgman veste aqui a sua batina para decidir as disputas levadas pelos ouvintes, acompanhado do seu fiel oficial de justiça, Jesse Thorne. Mesmo que o conceito do programa assente na sátira de programas como Judge Judy, o falso juiz não minimiza os problemas que assolam as vidas dos queixosos, acabando sempre por encontrar a melhor solução para o caso e, na maior parte das vezes, identificando o problema real que se esconde atrás daquele que é apresentado. Para além de tudo isto, todo o programa se encontra repleto de referências obscuras e comentários chistosos, ou não fosse Hodgman uma das “semi-personalidades de TV” mais engraçadas e inteligentes do momento.
3 – Political Gabfest
Ainda que forçosamente relacionado com o contexto político dos EUA, o Political Gabfest é uma óptima ferramenta que permite aos seus ouvintes exercitarem o seu lado argumentativo e, por vezes, perceberem a sua posição num determinado tema. Com um espírito amigável e convidativo, este podcast conta com os conhecimentos intermináveis de Emily Bazelon (em direito) e de John Dickerson (na área política), mediados por David Plotz, que, apesar das suas ideias demasiado não-politicamente correctas, faz um excelente trabalho ao conduzir o programa, levando a conversa para os assuntos mais pertinentes e prementes. Este gabfest é o perfeito exemplo de como grande parte dos média informativos se deveria comportar, não cedendo ao sensacionalismo que envolve os grandes temas, mas sem perder o seu foco, interesse e, acima de tudo, a sua delicada simpatia.
2 – Throwing Shade
Um podcast que “faz uma revisão semanal de todos os assuntos importantes para senhoras e homossexuais… tratando-os com muito menos respeito do que merecem”. Com uma descrição como esta, não será difícil perceber o porquê de Throwing Shade ser um dos podcasts mais engraçados e interessantes a serem produzidos hoje em dia – ainda que seja escassamente informativo. Todos os episódios são estruturados em três, ou quatro partes (dependendo se existe um convidado, nessa semana, ou não), nas quais Eric Gibson e Bryan Safi falam das suas vidas (que podem ser comparadas a uma mistura de cocaína com aulas de ioga) e apresentam assuntos invariavelmente discriminatórios para com as mulheres e a comunidade gay. No entanto, os assuntos apresentados acabam sistematicamente por acabar em trocadilhos pouco aconselháveis a menores de idade, ou em referências pop dos anos 80, também não aconselháveis a menores de idade. Ainda que não sejam aparentemente pensadas e, por essa razão, se tornem bastante fluídas, várias estruturas são recorrentes nas piadas dos dois texanos. O mais evidente e engraçado exemplo a ser dado é o momento em que Safi se atira para fora de pé num improviso mal pensado, como lhe é característico, e Gibson nada faz para o salvar, regozijando com a sua morte lenta até que o primeiro acaba por desistir. Throwing Shade, ainda que acabe por não analisar profundamente as questões que levanta, tem o mérito de dar algum destaque a assuntos que, por norma, passam desapercebidos da opinião pública. É, sem dúvida, uma óptima forma de juntar o útil ao agradável.
1 – Serial
Este é um dos podcasts que mais tem provocado entusiasmo nos ouvintes do formato. Emitido pela primeira vez em Outubro de 2014, a primeira temporada de Serial conta a história real de uma vítima de homicídio encontrada sem vida num parque, no ano de 1999. Sarah Koenig, que desenvolveu este spin-off do programa de rádio e podcast This American Life – que não consta da lista por não ser necessário -, dedica-se à procura da verdade sobre o caso, tentado descobrir se o condenado perpetrador é, de facto, responsável pela morte da jovem (mesmo que a jornalista não o desculpabilize à partida, o sentimento que passa para o ouvinte é esse mesmo). Ao serializar este documentário narrativo, Koenig consegue aprofundar a história ao longo de vários episódios, dando-lhe uma inigualável consistência que falta aos podcasts do género. Com o recurso a entrevistas a pessoas ligadas ao passado da vítima e do seu ex-namorado, documentos da investigação policial da época e vários outros elementos, a apresentadora do programa desenvolve uma narrativa consistente e magnetizante que leva o seu tempo a desenrolar-se. O resultado final é surpreendentemente cativante, sendo quase impossível esperar pelo próximo episódio.