Efeito poluição

De que forma é que os nossos comportamentos nos afectam? De que forma é que produzimos mudanças no mundo com os nossos comportamentos? Mais do que na nossa esfera pessoal, falo de um aspecto global, mais abrangente: a nossa relação com o mundo, com o planeta terra, com este berlinde à beira sol plantado.

No caso do ambiente, de que forma é que os nossos comportamentos impactam na saúde dos nossos mares e rios, com o ar que respiramos e com os alimentos que consumimos? No fundo, como nos relacionamos com o elemento água, com o elemento ar e com o elemento terra? Não vamos agora falar no elemento fogo, senão a discussão nunca mais acabava.

Relacionamo-nos mal… Inconscientemente, descuidadamente. Até podemos fazer reciclagem, levar os nossos próprios sacos para o supermercado, reutilizar materiais, dar a roupa que já não nos serve ou não utilizamos e por aí afora. Mas e a água do nosso banhito ou duche diário, sempre a correr enquanto nos ensaboamos? Ou mesmo o facto de tomarmos duche diariamente, em termos de consumo de água potável. Para não falar dos dois e três banhos que muitas pessoas dão por dia. A água a correr das nossas lavagens de dentes? O autoclismo que se descarrega depois de deitarmos algodão ou cabelos ao nos despacharmos de manhã ou à noite? Incorrecto por si só. E as beatas no chão-porque-não-há-baldes-do-lixo-perto? Lixo que se atira pela janela do carro, já falei nas beatas? Principalmente na praia… Lixo que se deixa dos piqueniques nas matas e jardins. Lixo que se deita ao mar pelos pescadores ou pessoas comuns.

Etc., etc. Somos turistas neste planeta, ao que parece. É chegar, passear, usar e abusar do que existe, e depois regressar a casa. Ah pois é, só que nós já estamos em casa. Dá-me que fazer se deitar lixo ao chão. Acaso fazemos isso na nossa casa ou no nosso quintal? Se não, porque o faremos na rua ou fora de casa?

Realizam-se simpósios, debatem-se as alterações climáticas, discutem-se as pegadas ecológicas dos nossos consumos, elaboram-se planos de redução da poluição nos mares e nos ares. Instituem-se políticas de redução de plástico nos supermercados, medidas de separação do lixo em hotéis e restaurantes, acções de sensibilização nas escolas acerca da reciclagem, publicidade informativa sobre o assunto e ainda hoje vejo pessoas com uma quantidade considerável de garrafões de plástico e caixas de papelão a deitarem tudo no contentor do lixo normal, que, por acaso e por comodidade, está mesmo ao lado dos contentores de reciclagem, com a desculpa de que “Ah e tal, isso vai tudo para o mesmo lado”.

Não posso deixar de ficar abismada perante tal inconsciência e desinteresse. Não sei se uma ou outra, ou se uma coisa leva a outra ou qual a primeira a manifestar-se. Inconsciência porque não se reflecte nestes assuntos, não se identifica uma necessidade, não se dá importância. Desinteresse porque se desvaloriza, porque preferimos olhar para o lado em coisas que realmente importam porque, na verdade, dão trabalho. Mudar hábitos dá trabalho. Envolve mudar estruturas cerebrais, flexibiliza-las, trabalhá-las, nomeadamente o nosso córtex pré-frontal (área da decisão consciente, pensamento complexo, planificação, etc.).

Mais do que o efeito da poluição nas pessoas, eu falo no efeito das pessoas na poluição. Sermos inconscientes está a prejudicar-nos e nós não estamos a ver ou não estamos a querer ver. Urgem mudanças de comportamentos e atitudes perante os nossos consumos de tecnologia, roupa e alimentos. A sobreprodução de tudo isso aumenta o desperdício, aumenta a pegada ecológica, aumenta o lixo no nosso planeta que, por sinal, é limitado em termos de espaço e de recursos.

Os efeitos dessa poluição já são visíveis e não podemos fugir deles. Qualquer pessoa tem, pelo menos, uma rede social activa, lê o jornal ou alguma revista pontualmente, vê ou ouve notícias nalgum lado, seja no rádio do carro, TV de casa, o que seja. Também há uma coisa maravilhosa, que é a publicidade boca-a.boca: falar dos assuntos prementes. E tem havido frequentemente a divulgação de imagens bem poderosas nesses meios que não podem deixar ninguém impune e indiferente: baleias, tartarugas, pássaros ou outros animais cujos estômagos estão revestidos a plástico. A ilha de plástico do Pacífico Norte. Pesquisem sobre o assunto os leitores mais desavisados destas questões que vão ser, literalmente, inundados de artigos sobre o tema e irão jogar as mãos à cabeça em como tal possa ser possível. Mas é humanamente possível, causado por cada um de nós.

Já foi dito que em 2050 a quantidade de lixo poderá ser superior ao número de peixes e que os peixes confundem plástico com comida e introduzem-no na sua cadeia alimentar. Ou seja, estamos a contaminar o nosso alimento com a poluição ou lixo que criamos e deitamos fora. Mais tarde iremos consumir esses alimentos com aquilo que, imprudentemente, descartámos.

Então, o que podemos fazer? Comprar conscientemente, agir com consciência, pensar no impacto dos nossos consumos, das nossas práticas e naquilo que deitamos fora, para onde deitamos. Informar-se, interessar-se. A saúde diz respeito a todos e a cada um, nos seus hábitos diários. Alimentar-se saudavelmente, fazer exercício físico entram no rol de hábitos a desenvolver. Tudo o que disse atrás também, mas pela saúde não só dos nossos mares mas também da nossa terra, do ar que respiramos e dos alimentos que consumimos. Sejamos saudáveis ambientalmente também.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Youtuber, Instagramer, Blogger, Influencer

Next Post

Um álbum para sarar as feridas de Ryan Karazija

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Read next

O Sequestro da Mente

Todo o nosso progresso tecnológico, que tanto se louva, o próprio cerne da nossa civilização, é como um machado…

“The Game is Life”

Esta semana deveria escrever um artigo sobre o facto da ficção científica estar ou não a tornar-se realidade?…