Em determinados momentos, somos transportados de regresso a determinadas etapas da nossa vida. Nem todos nos trazem um sorriso ao rosto, mas em todas as etapas do caminho encontramos pessoas que valem a pena e que nos acrescentam enquanto pessoa.
Hoje voltei a encontrar ainda que remotamente uma dessas pessoas da minha vida, uma colega que conheci em contexto profissional e que rapidamente de colega passou a amiga.
É bem verdade que acabámos por nos distanciar por circunstâncias várias, mas também é uma realidade que ela continua por aqui, no meu coração e nas minhas memórias, nós humanos, somos de facto muito completos, ainda que por vezes tudo nos pareça arrumado, no cantinho remoto das nossas recordações, uma simples conversa, pode rapidamente trazer tudo à superfície do nosso pensamento, tal qual o azeite na água
E depois de termos conversado ao telefone, lembrei-me das nossas horas de almoço sempre tão intensas, falávamos de tudo, e tínhamos sempre mais do que falar, o tempo era escasso para tanto que queríamos partilhar. Recordo uma altura em que a minha amiga estava a mudar de casa, e ela partilhou comigo, nas nossas conversas, cada detalhe das mudanças e de como seria a sua nova casa, com um grau de precisão tão ínfimo, que quase parecia ter na minha mente a imagem fotográfica, quer do antigo apartamento quer do novo, para onde se iria mudar com a família.
Partilhámos muitas das nossas preocupações relativas à adolescência dos nossos filhos, questões associadas a esta fase das vidas deles e das nossas, e de todo o processo de transformação por que as famílias passam nestas épocas da vida dos filhos que se for partilhado torna tudo mais fácil. Aliás como tudo na vida, quando partilhado é mais intenso e mais autêntico.
Na conversa franca de amigas, todo um leque de problemáticas associadas a este tempo da vida deles torna tudo mais leve e descontraído. Desde sempre falamos de tudo, sem tabus, tal e qual como fazem os amigos, e a vida parecia mais fácil, apenas porque alguém nos ouvia e compreendia.
A conversa franca sobre todos estes temas, nesta partilha de experiências de vida, permitia-nos perceber a real importância dos nossos problemas, relativizando o que de facto não era essencial.
E agora que me recordo das nossas conversas sorrio, porque foram boas, foram momentos verdadeiros de amizade simples, mas sincera, e que me fizeram tão bem, nos fizeram bem, porque nisto da amizade todos ganham.
A amizade desenvolve a felicidade e reduz o sofrimento, duplicando a nossa alegria e dividindo a nossa dor. (Joseph Addison)
Que bom foi ouvir a tua voz, ainda que ao telefone. Quando desliguei pensei de mim para mim, isto quase me pareceu os meus tempos de adolescência, em que passava horas ao telefone, durante a tarde, a falar com as minhas amigas.
Desta vez, a conversa fluiu tão bem e quase sem virgulas nem pontos finais, apenas algumas reticencias para repor o ritmo respiratório, foi um correr de vivências e partilhas contadas, tal e qual como se tivéssemos estado juntas ontem, e não há mais de quatro anos. Nem demos pelo tempo a passar.
É bem verdade que são várias as pessoas com quem nos cruzamos no caminho da vida, no entanto há umas que nos marcam mais do que outras, ou porque temos semelhanças na maneira de ser, ou temos temas em comum, o que for, não importa agora o motivo, por qualquer razão nos sentimos mais próximos, com mais afinidades, ou mesmo, porque por vezes passamos por dificuldades juntos, e isso aproxima-nos mais.
Um Amigo se faz rapidamente; já a amizade é um fruto que amadurece lentamente. (Aristóteles)
Gostei tanto de falar contigo!