Nova Iorque, três amigas solteiras, oufits incríveis e sapatos de babar…tem tudo para ser mais uma série pipoca como tantas outras, cheia de clichés e pautada pela procura do amor verdadeiro, só que não! The Bold Type é muito mais que o estereótipo de “série feminina” sob o qual se apresenta.
Quem passou a adolescência a devorar Sex and The City, Devil Wears Prada ou Gossip Girl, como eu, tem certamente um carinho especial por séries com mulheres como protagonistas e que abordam a amizade, a carreira e, obviamente, o amor. No entanto, em muitas dessas séries, debater tudo isso passa por criar pequenas intrigas, maldades e pela busca incessante do homem perfeito. Não me interprete mal, adoro o tema! Mas talvez pelo foco desajustado ser quase sempre o mesmo, é que senti que esta série iria ser mais uma entre muitas outras e demorei semanas a dar-lhe uma oportunidade. Mas ainda bem que o fiz!
The Bold Type estreou nos Estados Unidos em 2017, mas só em Maio de 2021 é que chegou à Netflix e a Portugal. Deste então, é um sucesso que está por semanas consecutivas nos primeiros lugares do ranking das séries mais vistas.
O palco central de toda a história é a revista Scarlet, uma revista feminina, liderada por Jacqueline Carlyle (Melora Hardin), a mítica editora-chefe à frente da publicação há mais de 10 anos, cuja caracterização nos remete para Miranda Priestly, de Devil Wears Prada, no entanto, as diferenças entre as personagens não poderiam ser maiores.
É na Scarlet Magazine que Jane (Katie Stevens) concilia o trabalho de sonho com a procura da sua voz e do seu estilo enquanto escritora; Sutton (Meghann Fahy), por sua vez, luta por quebrar barreiras e preconceitos sobre o amor e a carreira no mundo da moda, e Kat (Aisha Dee) equilibra a responsabilidade enquanto diretora de Social Media da revista, na procura de definição da sua própria sexualidade.
The Bold Type apresenta-nos o dia a dia destas três jovens mulheres e desafia a ideia do “onde estão duas, não podem estar três”, que imortaliza e perpétua a rivalidade entre mulheres. Mostra-nos que sim, podem e devem estar. Três ou mais, mesmo na redação de uma revista feminina.
São inúmeros os momentos em que as personagens da série, nos dão lições incríveis de sororidade e amizade, como quando se debate body positivity ou se fala de assédio sexual no local de trabalho, por exemplo. Os dilemas de Kat e a sua procura pela definição de identidade racial e sexual, faz-nos ver a angústia por trás de todo esse processo, mesmo longe da marginalizarão e dos pontos de vista habituais. O “não, é não” e o artigo sobre “Jeff” que nos apresenta o outro lado da história e a dificuldade de, mesmo as mulheres fortes, por vezes, terem dificuldade em afirmar um “não”.
A série e as personagens desvendam, com uma leveza totalmente nova e refrescante, outros pontos de vista sob as mais diversas problemáticas da atualidade. Temas que estão na ordem do dia, são desconstruídos e apresentados sob um novo olhar, com humor, flexibilidade e empatia. Promovendo a reflexão e fazendo com que nos coloquemos na posição do outro, experimentando novas perspectivas e afirmando sem rodeios, que entre o preto e o branco, há um sem fim de tons cinza.
The Bold Type é uma lufada de ar fresco dentro do género. Cheia de histórias que fortalecem o universo da mulher e que ajudam a quebrar estereótipos, cujas personagens principais representam e refletem a mulher atual em todas as suas multiplicidades. Uma série em que as mulheres desempenham o papel principal das suas vidas, com poder e sem a necessidade de se diminuírem, em que o amor e a carreira não se anulam, mas sim completam-se, e em que os homens apoiam e são parceiros, sem receios e cheios de uma confiança sexy.
”Numa revista feminina em Nova Iorque, três jovens mulheres conciliam as carreiras com o romance, a amizade, e a vida na grande cidade, enquanto tentam descobrir as suas próprias vozes”, assim é resumida pela Netflix. E é isso. Mas é tão, tão mais que isso.
As quatro temporadas de The Bold Type estão disponíveis na Netflix Portugal, a quinta e última temporada será brevemente transmitida nos EUA, no entanto, ainda não há data de lançamento para Portugal.