“Na natureza (e acrescento eu – na Minha cozinha), nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.“
(Lavoisier)
Ainda não percebi bem o que faço, mas sempre que tento produzir em casa massas lêvedas doces… oh, desgraça!
Quer dizer, não é bem correr mal, até fica tudo muito bonito e as massas acabadas de sair do forno ficam fofas, mas, no dia a seguir, por mais que feche hermeticamente as ditas, em qualquer local longe da luz e do calor e do frio e mais trinta por uma linha, parecem pedras da calçada (coloridas, que as minhas tinham de ser diferentes). Já mudei de farinha, de fermento, coloquei a hipótese de ser do forno. Estudei os efeitos da altura, da alteração brusca de temperaturas, quando a massa leveda, e inclusive já a aconcheguei carinhosamente debaixo de mantas como as nossas avós faziam antigamente… Nada. O que me dana, a sério, é que com o pão, nada disto acontece.
No Domingo, apeteceram-me pãezinhos de Deus. Se querem mesmo saber, do que eu gosto mesmo é do coco e, como tinha visitas lá em casa, ia cozer pão, lá os fiz. Ficaram óptimos naquele dia, mas, no dia seguinte, já não se conseguiam comer, a não ser que se torrassem. Juro-vos que pensei que a minha fase de produção de material para construção civil já terminado, porém, ainda me ri sozinha, porque, no dia anterior, andei a martelar uns pregos para colocar uns quadros na parede com um sapato e, se tivesse esperado mais um dia, tinha um martelo perfeito feito por mim.
“O que vou fazer com isto? Ontem estavam perfeitos…”
Como é de calcular, não os ia mandar fora e só me ocorria fazer Pudim de Pão, mas os pudins que tinha provado até então eram horríveis, secos e sensaborões. Uma trifle também estava fora de questão e ainda pensei num crumble, só que não queria que o aproveitamento fosse parar ao lixo. Duas tentativas falhadas de uma só vez seria demais para mim.
Bom, um pouco contrariada, abri o frigorífico em busca de inspiração e de facto algo me inspirou. Entrei no papel da Alice no País das Maravilhas, pois encontrei uma garrafa ali especada a olhar para mim. Em vez de dizer “Bebe-me”, sussurrou-me apenas “Usa-me”. O Tico e o Teco acenderam as lâmpadas todas cá dentro e… Pina Colada. Tinha acabado de ter uma ideia genial – sim, amigos, desculpem que vos diga, mas álcool numa sobremesa é sempre uma ideia genial.
Fiz o pudim. Coloquei-o no forno. Retirei-o do forno e, quando olhei para ele, até tremi. Confesso que cheguei a pensar que seria uma daquelas receitas para colocar naquele separador da minha caixinha de experiências que ainda não tem lá nada e que diz simplesmente: “Sem Remédio Possível.” Só que Tcharam! Nem arrefeceu como deve de ser. Duas horas depois não havia nada para contar a história. Alívio!
É uma boa forma de aproveitar restos de pão normal, ou doce, Bolo-Rei, croissants, ou os meus malfadados Pãezinhos de Deus.
Vamos às compras:
4 Pãezinhos de Deus (cerca de 400 grs.)
150 grs de Açúcar
1 c. de café de extracto de Baunilha
450 ml de Leite
50 ml de Pina Colada, ou Sumo de Ananás (aconselhável para quem tem crianças)
6 Ovos
E agora preparar:
Ligar o forno nos 180º.
Num liquidificador, misturar o pão esfarelado e todos os outros ingredientes, até formar uma pasta homogénea.
Forrar uma forma com caramelo líquido e verter o conteúdo da massa que acabámos de preparar.
Colocar no forno em banho-maria, durante 50 minutos.
Retirar do forno, deixar arrefecer por completo e desenformar.
As simple as that