Hoje quis escrever-te uma carta, algo de muito pessoal, de muito íntimo e que só nós possamos compreender e entender. Quis que o papel e a caneta fossem testemunhas daquilo que sinto, daquilo que tenho que mostrar, que está no meu mais profundo sentimento e precisa de sair. Escrever será uma terapia que nos irá ainda unir mais. Fica registado e, de cada vez que a lermos, temos a confirmação de que aconteceu, não o poderemos negar.
Faltam-me as palavras para dizer tudo o que sinto, aquilo que sei sentir e que quero continuar a ter, a saber que somos e seremos. Quase que mergulho num mundo diferente onde só nós existimos e nada mais interessa. Esta noite olhei para a lua e ela sorriu para mim. Ela sabe quem somos, aquilo que fazemos, como nos sentimos, o que nos irá acontecer. Ela sabe, mas podemos confiar nela porque não vai contar nada, vai guardar o segredo e será nossa cúmplice para sempre.
Esta noite quase morri de tanta alegria e satisfação. Os teus braços apertaram-me delicadamente, de modo atencioso e tão suave que pensei que estava a ser abraçado por uma nuvem. Foi então que percebi que és uma tempestade que acalmou, que se instalou em mim e teima em ficar. Quando te vejo percebo que és inacreditável, que preenches toda a minha existência, que completas aquele espaço que estava dentro de mim.
Vejo-te e afinal és tu que estás a olhar. Mesmo quando dormes, quando estás num estado de quase inconsciência, eu sei que olhas por mim, que zelas pelo meu eu, que sabes onde estou, quem sou e daquilo que preciso. Depois percebo que o meu sono é comandado por ti, que tu é que tens o dom de conciliar tudo, de conseguir que as peças soltas se encontrem e façam um encaixe perfeito.
Volto a olhar para ti. A tua imagem está presente na minha cabeça a orientar o meu caminho. Fecho os olhos e pronto, tu lá estás, sorridente e fresca, como costumas ser. Dizes-me palavras pequeninas, mas com significado gigantesco, tão poderosas e tão complexas que até me assusto de as compreender.
Ser feliz é tão complicado! É um sentimento tão profundo que oscila e nos altera o comportamento. Como é possível ser tão bom, tão agradável e, ao mesmo tempo, nos deixar ansiosos, inseguros e frágeis? O homem é forte uma ova! O homem tem sentimentos como qualquer pessoa e também sabe que dever disfarçar, não mostrar como está o seu íntimo. No entanto, ao pé de ti esqueço tudo e mostro-me como sou, o menino que cresceu contigo, que foi construindo um caminho aos poucos, que colocou as pedras certas no caminho da lama e encontrou o rumo, no meio do caos da floresta.
Mas queria escrever-te para demonstrar o que és para mim e não o sei fazer. Não tenho palavras que o consigam exprimir, não o sei colocar em papel. És tão grandiosa, tão complexa que qualquer palavra que escolha vai parecer uma injustiça para te enaltecer. E vacilo, não sei se consigo continuar com a minha tarefa, com o meu motivo.
Já comecei tantas vezes, mas não gosto do que escrevo. A caneta hoje não está a colaborar, quer descansar e não quer sentir. Tenho de a obrigar, ela sabe o que quero escrever e diz-me que a escolha das palavras está errada, que devo pensar melhor com o coração e deixar a semântica ir dar uma curva. Não quero que seja um papel sem sentido nem significado, quero uma carta exemplar, um documento privado que ficará arquivado nas nossas memórias, no nosso arquivo, no testemunho de uma vida.
Respiro fundo e tento novamente. Será que agora vou conseguir? É para ti, para uma pessoa especial, para alguém tão fantástica e extraordinária que me deixa sem palavras.
Começo a escrita. Olho para a caneta, esfrego o papel na esperança de uma grande inspiração,dum momento memorável que fique nos anais da nossa vida, que supere bem o tom prosaico que todos conhecem. Volto a suspirar. Vou-me aventurar e agora é que é. Começo:
Meu amor,