Vítor Gaspar: O competente mal-amado

Brilhante além-fronteiras, incompetente em território nacional. Duas características opostas e incoerentes entre si, mas todas compõem o universo da mesma pessoa: Vítor Gaspar, antigo ministro das Finanças, da coligação PSD-CDS, actualmente no governo. Do seu currículo académico e profissional constam inúmeros cargos de grande importância tanto no panorama financeiro europeu como no nacional, mas em termos práticos toda a competência e elogios falharam no momento da verdade: Vítor Gaspar pediu a demissão a 1 de Julho de 2013, deixando uma imagem negativa sobre si.

Licenciado e doutorado em Economia, pela Universidade Católica de Lisboa e a Universidade Nova de Lisboa, respectivamente, Vítor Gaspar é um economista respeitado pelos seus pares. Com uma visão conservadora e pragmática da economia, a política macroeconómica, políticas públicas e integração financeira são as suas áreas de interesse. A rigidez e o controlo apertado dos gastos públicos foi a estratégia defendida por Gaspar enquanto ministro das Finanças, na promessa que os resultados iriam aparecer.

De acordo com a avaliação internacional, numa lista publicada no Financial Times dos melhores ministros das Finanças de 19 países da Europa, em 2012, Gaspar estava cotado em 10º lugar subindo oito posições relativamente ao ano anterior. Contudo, as previsões constantemente erradas e os acertos progressivos de austeridade contrariavam a visão mundial sobre o desempenho do ex-ministro.

 Aos olhos dos portugueses, não só a incapacidade para comunicar e explicar as medidas de austeridade bem como o seu feitio reservado e, para alguns, pouco simpático contribuíram para que Vítor Gaspar se tornasse num dos ministros com níveis de popularidade mais baixos dentro do executivo. Dos sacrifícios pedidos poucos resultados foram vistos, do anúncio do princípio do fim da crise, em 2012 também nada se viu culminando na mais que esperada e desejada, pelos cidadãos, demissão de Vítor Gaspar.

 Poucos dias depois da sua demissão, da forma discreta e reservada com que entrou, saiu e foi substituído pela actual ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, retomando funções como consultor do Banco de Portugal. Quase meio ano depois do seu afastamento, Gaspar volta a sair do anonimato com a publicação do livro “Vítor Gaspar”, escrito por Maria João Avillez, que será lançado no dia 18 de Fevereiro, onde dará um testemunho dos dois anos como ministro das Finanças, o competente aos olhos externos, mas mal-amado em território nacional.

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