Irrita-me! Irrita-me esta profissão da moda a que muitos chamam de comentadores, mas eu não sou pessoa de me agastar sem que vos apresente a razão de tamanha irritação.
Comentadores. É exatamente isso que me irrita, pois, como bem sabemos, nisso o português é, sem sombra de dúvida, extremamente hábil. Já tínhamos os treinadores de bancada, os ministros de café e os profetas do Facebook.
Os treinadores de bancada, nunca foram jogadores na sua vida e, normalmente, têm uma agilidade tamanha que os impede de subirem um vão de escada sem usarem uma bomba de oxigénio.
Os ministros de café são tão empenhados na política que optam por não votar.
E os profetas de Facebook passam o dia a ditar mandamentos que são completamente contrários à sua conduta diária e efectiva.
Como se isto já não fosse o bastante, começaram a proliferar, nos últimos anos, os comentadores nos canais de televisão.
Ele há comentadores para tudo.
Ex-jogadores que não passaram de futebolistas de média linha, mas que conseguem apontar todos os erros àqueles que fizeram dos pontapés na bola a sua profissão.
Os ex-treinadores, que só são comentadores porque não têm quem os contrate, passaram a ser os mestres da táctica e lá vão criticando o treinador A ou B por não ter feito aquela substituição maravilha em tempo útil que levaria a equipa à vitória.
Os ex-políticos que tiveram a sua oportunidade e não tiraram o país do lamaçal das dívidas e da corrupção dos últimos 40 anos, aparecem a criticar todas as medidas e mais algumas, mas chegarem-se à frente para fazer melhor é que nem pensar.
Depois existem psicólogos e advogados que são especialistas em tudo. Criminologia, vulcanologia, virologia e Ciência Política. Não há matéria que não dominem e que não sejam chamados a comentar!
Abençoados seres que de tudo percebem e tudo sabem.
Este país está cheio de licenciados em Tudologia!
Uma coisa é certa, para dar bitaites o português está sempre disponível.
Tem opinião para e sobre tudo, seja na mesa do café ou num canal de televisão.
Não há quem se acanhe e ainda lhes pagam por isso.
É por essa razão que estou irritado!
E o raio da irritação não me passa.
E sabem porquê?
Porque nós não precisamos de quem fale.
Precisamos de quem faça.
Urgentemente.
Quem sabe um dia, regresse um qualquer Sebastião que nos livre destas garras, que nos eduque pelo exemplo ao invés da cínica e triste hipocrisia das palavras!