Antigamente, nós mulheres, nascíamos com o destino traçado: ser donas de casa e mães!
A nós mulheres e apenas a nós estava destinada a lida da casa, o cuidar do marido, o gerar e criar filhos. Sair de casa para trabalhar ou estudar (livre-nos Deus) era visto como uma libertinagem, coisa de “mulherzinha”. Trabalhar fora de casa era completamente descabido: o nosso papel não era esse! Professora? Médica? Arquitecta? Nunca! Então e os filhos? Esta teoria estava de tal forma enraizada na sociedade que poucas eram as mulheres capazes de ir contra a mesma.
Felizmente, os tempos mudaram. Hoje as mulheres não só são parte integrante do mercado de trabalho como também trabalham tantas ou mais horas que os homens. Ou seja: o tal destino definido à nascença se calhar não é bem assim.
Sendo conhecidas como seres capazes de realizar uma multiplicidade de tarefas em simultâneo, o nosso papel enquanto mulheres não pode nem deve ser posto em causa por decidirmos ter uma carreira ou ter um filho. Contudo, porque não ambas as coisas?
“Maria”, 35 anos, programadora digital de uma multinacional de sucesso.
Com 6 anos, entrou para a escola primária, com 18 para a faculdade, a primeira opção, com 23 estava a acabar o mestrado. Estagiou na empresa X e por lá ficou a trabalhar. Ali no meio namorou com o “Paulo”, freelancer na área da engenharia informática, há 7 anos decidiram casar.
A Maria sempre foi daquelas miúdas que não sonhava com casamento, muito menos com filhos. A Maria queria crescer na empresa e, por isso, quando o relógio biológico começou a apitar descontroladamente, a Maria simplesmente carregou no “snooze” repetidamente… mas o raio do bicho não se calava!
A pressão que algumas pessoas, como a Maria, colocam em si mesmas para atingir determinado estatuto pode dominar a nossa mente, fazer com que outras áreas da vida pareçam desfocadas e isso não é bom, quer a curto quer a longo prazo. A Maria sabia disso e, depois de muitas horas de ponderação, decidiu deixar o relógio tocar sem pausas: a Maria e o Paulo contam agora as semanas para conhecerem o João.
O coração da Maria palpitava com uma felicidade estupidamente feliz, mas lá em cima, na sua cabeça a pergunta teimava em ecoar: E agora? Como vou conseguir realização profissional, se estou grávida?
Há por aí tantas Marias como A Maria: preocupadas, ansiosas, a quererem os dois mundos distintos – carreira e maternidade. Porque temos de escolher um?
Há um provérbio africano que diz:
É preciso uma aldeia para educar uma criança
Uma aldeia é muita gente, mas, acreditem, não faz mal nenhum delegar. Ninguém é menos mãe por não ir religiosamente buscar os filhos à escola às 15:30 e também ninguém o é mais.
Não estou a dizer que seja fácil, mas conciliar maternidade e carreira não é missão impossível. Também não se trata de importância de prioridades, trata-se sim de um belo número de malabarismo digno do “Le Cirque Du Soleil”.
Voltando à Maria, nove meses passaram num ápice. A Maria trabalhou enquanto pôde, abrandou quando o corpo e o coração lhe pediram, para bem dela e do bebé. Hoje, as novas tecnologias permitem à Maria trabalhar de casa e, entretanto, o João também já chegou. Contudo, entre uma refeição e uma fralda, a Maria consegue enviar meia dúzia de e-mails e já sabe que, quando voltar da licença de maternidade, irá ocupar um novo cargo: o tal que ela ambicionava e para o qual trabalhou,
O Paulo não ajuda. O Paulo faz! Também muda umas fraldinhas, também dá o biberão, também adormece o João e se levanta a meio da noite. O Paulo é pai! Também o papel do homem sofreu mutações e agora o facto de um pai mudar uma bela cagadela ou fazer um belo ensopado para o jantar não é motivo de vergonha, mas de orgulho: não diminui masculinidade, mas aumenta, isso sim, o charme.
OK, mas talvez o emprego da Maria faça dela uma excepção ou talvez seja uma regra. No entanto, prova que é possível conciliar trabalho e filhos e a vinda de um bebé não significa o fim, significa sempre o começo.
Já eu? Eu não faço parte das mães que trabalham a partir de casa. Sou uma das outras: das que saem de manhã para trabalhar e deixam os filhos na escola a correr com um beijinho e um “porta-te bem!” Das que saem do trabalho ao fim do dia e correm para os buscar à escola ou à creche, sedentas daqueles abraços docinhos. Sou uma daquelas que vai para casa dar banhos e fazer o jantar, das que pedem secretamente que o dia tivesse mais umas horinhas para brincar com eles. Sou uma mãe que se senta no sofá com o pai para tentar ver um bocadinho de televisão, que não sejam desenhos animados, e passados 15 segundos já navega no mundo dos sonhos. Sou Mãe, Mulher e Trabalhadora, as três numa só, e a tempo inteiro!
Não tem mal nenhum querer ser mãe a tempo inteiro, e também não tem mal nenhum não querer. Não somos menos mãe por trabalhar fora, nem por trabalhar a partir de casa. Não gostamos mais do nosso filho por o ir buscar todos os dias à creche, nem gostamos menos se for a avó. Não faz mal sair sem os filhos, e faz tão bem sair com eles.
Não faz mal ser Mulher, ser a “Maria” e ser a “Mãe do João”!
Antigamente o nosso destino era sermos mães, hoje também… entre outras coisas!!