Os Loucos anos 20

Já todos passámos por esta fase. Os loucos anos 20.

Não, não. Tenham calma, não vai haver nenhuma “aula” de história. Apenas vou falar de algo que me é muito familiar. Vamos recuar uns aninhos e falar da época antes dos 18 anos.

Até aos 6 anos é tudo muito bonito, somos a coisinha mais me-me-me da família. Depois dessa idade, a coisa começa a complicar. Atenção que falo da minha experiência. Lembro-me da minha mãe já aos 6 anos ter vontade de me pôr de castigo assim que acordasse. Sempre fui muito rebelde e fartava-me de “mentir” à minha mãe. Coisinhas básicas como: “Fizeste os trabalhos de casa todos?”… “Sim, mãe, fiz”. Todos sabemos o que vinha a seguir: uns belos tabefes, daqueles que nos deixam a bochecha bem vermelhinha e com aquele calorzinho de quem correu a maratona de Lisboa. Eu tentava explicar à minha mãe que o “Batatoon” era só a coisa mais sagrada daquela época e que jamais por motivo algum poderia perder um episodio do “Dragon Ball”. Nem que tivesse o meu corpo todo a revoltar-se contra mim mesma. Para mim, ver esses desenhos animados era tão sagrado como a missa aos Domingos. Hoje, aos 29 anos, tenho os DVD toda da serie! “Dragon Ballfor ever!

Nesta idade, tudo nos parece motivo para nos revoltarmos. Nós, meninas, começamos a querer vestir aqueles vestidinhos todos fresquinhos, aquele batonzinho, a dar o toque à nossa cara imaculada de maquilhagem e começar a usar os penteados que vemos em duas revistas, que para mim, marcaram toda uma geração: a “Bravo” e a “Super Pop”! Gente, queria lá saber se ficava sem o dinheiro para a senha do almoço, aquelas duas revistas eram simplesmente a minha bíblia sagrada. A minha Mãe sempre me travou em algumas loucuras e ainda bem, porque senão as paredes do meu quarto iam ser simplesmente forradas com todos aqueles pósteres que nos faziam babar durante horas e iam passar a existir apenas molduras com fotos dos BackStreet Boys do que da minha família

E sejamos sinceras, havia sempre aquele ator ou cantor que nos fazia dar um beijo apaixonado e fantasioso no poster do moço, originando um amor platónico.

As cómodas iriam ficar atoladas de caixas e mais caixinhas, todas elas cheias com os brindes daquelas duas revistas que, provavelmente, custavam meia dúzia de cêntimos no chines, mas que para nós na altura era simplesmente o nosso El Dourado. Aquelas revistas eram o meu Dr. Phill e existia uma secção que era sempre a primeira coisa que lia: o Horóscopo. Malta, eu vivia aquilo com toda a minha convicção! Eu acreditava piamente em cada palavra ali escrita. E qual era a única coisa que me interessava? A parte do amor! Se uma das revistas me dissesse que aquela ia ser a semana em que ia encontrar o amor verdadeiro, eu acreditava tanto naquilo que ele tinha de aparecer, fosse de que sítio fosse.

É nesta altura que nos encontramos na adolescência. Começamos a ter atitudes como se fossemos adultos. Oh, miúda inocente! Se soubesse, tinha-me deixado lá naquela fase e ninguém se chateava. Agarrava nos cigarros de chocolate como se fossem cigarros verdadeiros. Hoje, como podem calcular, a minha carteira não achou piada nenhuma aos cigarrinhos que surgiram a seguir. E não eram de chocolate. Depois usava as caixinhas dos rebuçados Smit como se fossem comprimidos e eu fosse um corpo ambulante de doenças que tinha de todos os dias tomar uma caixa de Smit’s. Hoje vejo-me à rasca para tomar um Brufen sem beber a água toda que existe em Lisboa.

Os meus pais sempre me deram tudo, mas aquilo que mais desejava era chegar aos 18 anos.

Maldita a hora em que uma pessoa chega aos 18 anos! Parece que a vida se vira para nós e diz: “Querias aqui chegar, agora vais ver o que é bom para a tosse!” Ainda ontem tinha 18 anos e hoje já estou nos 29. Pumba!

No entanto, é aqui que começa a nossa aventura. Tiramos a carta, temos o nosso part-timezinho e dinheirinho no bolso. Esta fase resume-se a três palavras: Festas, Festinhas e Festões!

Começamos a ter a nossa independência e aquele sentimento de que a vida adulta é simplesmente bela. Não pagamos renda, a nossa mamã nunca nos deixa faltar comidinha no frigorifico, nunca se esquece dos nossos cereais preferidos, que nos aquece a barriguinha quando estamos com aquela ressaca tramada, e o nosso papá que jamais nos deixa faltar o combustível no popó. Tudo é motivo para festejar: Por não ter deixado o carro ir abaixo, por ter passado a semana sem bater com o carro e por não deixar morrer o carro por falta de “gasosa”. Porém, caros amigos, comigo não foi assim. Tinha sempre motivo para festejar: por deixar ir o carro abaixo umas 50 vezes (em minha defesa era a gasolina e foi só no dois primeiros dias de carta), por partir os faróis traseiros dianteiros do carro do meu pai por ter batido ou contra um poste de eletricidade ou contra a parede lá de casa, por na primeira semana de carta apanhar logo uma multa de excesso de velocidade e por, às 8h da manhã, no meu regresso a casa depois de uma noite de ramboia, deixar simplesmente o carro morrer por falta de gasolina… na mesma estrada em que o meu pai passa todos os dias para ir trabalhar.

Não preciso de contar o filme que foi, pois não?

Como podem ver, tinha muitos motivos para festejar e digo-vos que festejava com a maior loucura.

Sábado à noite em casa? Oi? Não, nem pensem numa coisa dessas. No auge dos 20 anos, ninguém jamais pode ficar em casa num sábado à noite, nem a uma quinta-feira, nem a uma terça-feira, nem a uma segunda-feira, que é para manter a circulação alcoólica de sábado à noite.

Chegámos aos loucos anos 20. O auge da juventude, pelo menos o meu. Sair à rua de pijama? Nem para ir comprar pão! Quanto mais ir ao café em frente à minha casa comprar gelados de pijaminha. Não brinca não.

Os 20 são aquela idade em que vivemos demasiado as coisas, sentimos demasiados as coisas. Chegamos a dar mais importância ao que os outros pensam, do que aà nossa própria opinião. É aquela fase em que, se o nosso crush passa por nós e não nos fala, oh, meu deus! É tema para a semana toda com as amigas, com todas as teorias e filmes. Passa pelo terror, pelo drama, pela estratégia militar de vingança e depois pela comédia, porque o crush fofito lá nos diz um “Oi, ‘tá tudo?” e a gente acaba por esquecer que ele é um brutamontes.

Nesta fase, podemos simplesmente comer tudo o que nos apetece, que o nosso organismo é nosso amigo. Pelo menos pensava eu. Depois dos 20 e pouco já o começo a “ouvir” a conspirar contra mim. “Teimaste em comer aquele hambúrguer às 8h da manhã com uma caneca de coca-cola? Agora vais ver o que te vai acontecer.”

Hoje, gosto muito de sopinha da mamã, um sushi ao fim-de-semana, um bom vinho e chega de grandes abusos.

Os 20 são um conjunto maluco de hormonas que nos fazem andar sempre com a genica em alta.

Caros amigos e amigas, chegada aos 28 tudo mudou completamente de figura. Sair sábado à noite? Essa era para rir. Sábado à noite está reservado ao meu amado sofá, à minha best friend Netflix e às saborosas pipocas que se vendem no continente.

Pensando nesses ingredientes todos, a vida é perfeita. Sair de pijama à rua? Oh, então, não! A senhora da mercearia do meu bairro, já me conhece quase os pijamas todos que tenho. Ir às bombas meter gasóleo de pijama? Check. Ir ao pão de pijama? Check. Para ir trabalhar? Umas boas sapatilhas e um rímelzito a tirar o ar de defunta e temos negócio fechado.

Neste fim de fase dos 20, tão perto da mansão dos 30, pouco nos importa a opinião dos outros. É aquela fase em que a preguiça vence qualquer ida ao Lux, a um restaurante novo e onde até a música alta no rádio do carro nos incomoda. Falo pelo menos por mim, que estou a escrever este texto enrolada na minha manta polar, com o meu pijaminha da Minie super-hiper-mega-quentinho e o meu robezinho ao xadrez todo colour fun, com todo o quentinho a que tenho direito. E assim vos deixo, com demasiada preguiça instalada em mim.

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