Face às recentes notícias, o «Brexit» parece ser cada vez mais um facto. É verdade que poderão ainda existir meios legais e políticos que possam atrasar ou, inclusive, até mesmo impedir que a saída do reino Unido da União Europeia seja uma realidade, mas estou em crer que o «Brexit» vá mesmo ser uma realidade com a qual todos nós teremos de lidar. Isto, repito, face ao que tem sido amplamente noticiado nos últimos tempos.
Tudo isto é, sem sombra de dúvida, uma péssima noticia para todas as partes envolvidas no processo. É uma má notícia para Inglaterra/Escócia/Gales/Irlanda do Norte, porque se vão aventurar num profundo desconhecido comercial e económico-financeiro (de nada servem os recentes apelos de Theresa May para que as “colónias” australiana e indiana “salvem a honra do convento”) e é também uma terrível noticia para os europeus que terão de lidar com a saída de uma dos maiores contribuintes da União Europeia, onde, por mero acaso, se localizam muitos dos grandes interesses financeiros do Velho Continente.
Ora, face a tal, penso ser pertinente uma profunda reflexão sobre o que colocou a Europa e o Reino Unido nesta situação. E esta reflexão não pode passar nem deve passar – nunca – pelo famoso sacudir a água do capote que muitos agentes políticos levaram a cabo. Especialmente em Portugal, dado que o PSD de Rui Rio assume publicamente que problemática é a consequência de uma decisão soberana dos britânicos, deixando de lado (se calhar por conveniência, digo eu) tudo o resto.
Não estou com isto a dizer que a forma como o PSD (e outros partidos da direita europeia) olham para o problema está completamente errada. Em parte, até que têm a sua razão, mas não convêm descurar o resto. E aqui por “resto” não se entenda as famosas «fake news» e outras coisas tais que servem de desculpa para tudo o que de mau na Democracia produz. O tal “resto” a que me refiro é a política autoritária de austeridade cega que a Europa seguiu nos últimos anos. Foi esta mesma política que colocou os Povos do Norte da Europa contra os Povos do Sul da Europa e que fez renascer os famosos estereótipos que “rasgam” a Europa. Tal aliado às consequências da desastrosa “Primavera Árabe” criou a “tempestade perfeita” que fez com que o «Brexit» viesse a ser uma realidade.
É por tudo isto – e pelos tremendos desafios que o «Brexit» vai colocar a ambos os lados – que este sacudir a água do capote por parte de alguns agentes políticos com responsabilidades acrescidas pode vir a ser tremendamente perigoso. Convém recordar os mais “distraídos” que as “feridas” abertas pela postura tresloucada dos últimos tempos do Eurogrupo ainda estão bem abertas e não faltam por esta Europa fora movimentos populistas que se vão aproveitar de tal para, desta forma, poderem chegar ao Poder e colocar – ainda mais – em xeque todo o projecto europeu.
Hoje, mais do que nunca, é necessário fazer-se uma profunda reflexão sobre a Europa e não sacudir a água do capote como se tem feito nos últimos tempos numa Europa onde o “Centrão” tem procurado destruir uma harmonia que foi tão difícil de conquistar após duas grandes guerras.