Um bom professor não é aquele que nos diz só o que queremos ouvir.
Um bom professor é aquele que se dispõe a ensinar, aquele que assume um compromisso em transmitir o ensinamento que carrega.
Um bom professor não quer necessariamente agradar os alunos, à semelhança das mães que, de quando em vez, desagradam os filhos em prol de um bem maior: educar.
O ensino pode ser feito por várias vias: a palavra dita, a demonstração e o silêncio manifestado. Com o tempo percebemos que este último é tão ou mais importante que os anteriores, mas é preciso tempo para o reconhecer. Um bom professor é aquele que confia na competência do aluno, confia na sua capacidade de aprendizagem e, portanto, deixa um espaço vazio para que este possa fazer o seu caminho. Como um escritor. Um bom escritor confia nas capacidades do leitor, para além do seu entendimento semântico e sintáctico, confia-lhe a capacidade de ler nas entrelinhas, de perceber e construir a sua parte da história nos vazios que lhe são deixados. Assim, há uma dádiva de liberdade quando se ensina e escreve desta maneira. Afinal, a leitura de um bom livro é feita dessa parelha de entrega e retorno entre aquele que escreve e aquele que lê. O bom leitor lê para além do que está escrito. O bom aluno aprende para além do que lhe é ensinado. Os bons professores são capazes de nos tornar bons alunos, trazendo à superfície essa confiança mútua nas capacidades dos intervenientes na criação de uma história conjunta.
Não se dizem as palavras todas, antes as fundamentais. Respeita-se e deixa-se a porta aberta à intervenção do outro. Repetem-se as vezes necessárias, dá-se a volta ao texto para ver se ‘entra’ melhor… os exemplos podem multiplicar-se, mas nunca em demasia. Há que deixar espaço. Deixar espaço para crescer. Deixar espaço para o outro aprender a ganhar o seu espaço. Isto faz-se em generosidade.
Não é caso inédito o professor envaidecido do seu conhecimento, de tal forma que o quer transmitir em catadupa quando a audiência se mostra atenta e ávida. Aqui é o oposto. Aqui encontrei professores que usam a contenção como método, sem que essa contenção nos faça duvidar do que sabem e do que podem ensinar. Professores que respeitam os limites de cada um. Que não vêem vantagem em forçar o que ainda não é para ser forçado. Mas não se iludam. São exigentes! Pedem de nós aquilo que podemos dar. Dançando este bailado entre graciosidade e força, generosidade e demanda, doçura e disciplina.
Assim é um bom professor. Assim são os meus professores. Assim é a minha professora. Não diz as palavras todas. Vai doseando o verbo à medida que o aluno possa recebê-lo, respeitando a ordem natural das coisas, aceitando que só se pode dar a quem quer receber. Onde há mais generosidade? Dar sem critério, só por dar, ou esperar que cada um esteja no ponto onde possa receber? – esperando até que o aluno lá chegue, demorando o tempo necessário.
O ensino do Yoga é essencialmente isto. Respeitar o tempo e espaço de cada um e tomar esse estado como ponto de partida para o caminho que se vai fazer com a passada individual. Há uma linha condutora, claro. Há regras. Há indicações. Há instruções que devem ser compreendidas por todos, mas a forma como cada um as pode pôr em prática é sempre individual. O papel do professor é acolher as peculiaridades de cada um na sua jornada. Ao aluno apenas se exige que apareça. Não perante o professor, mas perante si próprio. Aparecer é o primeiro asana (postura).
E, depois de algum trajecto feito, se reconhece que as diferenças se esbatem à sombra do propósito maior, que todos se vão aproximando mais de um certo lugar comum, por rotas diversas e de cadência distinta. Este estúdio abre as portas a esse caminho. Os professores, também eles têm a sua individualidade, munidos de estilos diferentes, mas a entrada dilata-se diante daqueles que decidam aparecer. Tal como se pode aprender música escolhendo distintos instrumentos – a música é a mesma, variam os meios para a tocar – também assim pode ser com o Yoga.
Este não é um estúdio de ashtanga yoga, ou de vinyasa flow, ou de hatha yoga, ou yin, ou aerial, (… as nomenclaturas não terminam aqui, mas corríamos o risco de maçar o leitor). Este é um estúdio de Yoga. E há aqui uma mão quente, um coração largo e um ser humano especial que nos guia lembrando que apesar das diferenças, dos gostos e aversões, das preferências e tendências e manias, há algo que se sobrepõe a todas as práticas, que nos lembra que somos praticantes de Yoga, antes de sermos praticantes minuciosos de qualquer outra coisa.