Há uns bons anos, na minha adolescência, quando tentava aprender a ser uma pessoa decente (ainda continuo a tentar), queixava-me com grande frequência da quantidade gigantesca dos meus problemas. Uma grande amiga, quando ouvia as minhas lamúrias,dizia-me sempre com toda a calma que não eram problemas. Eram contratempos perfeitamente ultrapassáveis, se olhássemos para dentro de nós.
Essa perspicaz amiga, tal como eu, tinha raízes católicas e uma forte tenacidade de buscar um amplo sentido na vida e se nele se enquadraria a sua própria religiosidade. Talvez, devido a essa busca e à sua forma de ver a vida, eu também pensava no meu enquadramento espiritual.
Actualmente, a minha busca pessoal persiste, com outros contornos e definitivamente sendo uma pessoa menos chata, espero. Contudo, tenho sem dúvida uma convicção profunda. A de que não me compete julgar, descriminar ou diminuir a religião do outro. Para mim, é única e exclusivamente um direito. Acessível, atingível e não julgável, uma forma de cada um se permitir e respeitar e, desta forma, permitir e respeitar os outros. Religião é religar.
Há muito tempo que a religião faz parte do mundo e da nossa sociedade e pode impelir-nos a seguir grandiosos passos em frente. Por outro lado, ao utilizar a fé como pretexto,podemos evidenciar o nosso lado monstro, o que se torna perigoso e violento quando expresso em massa.
Esta nossa forma tão antiga de se ser humano tem obviamente despertado o lado científico. O que é que a religião provoca em nós? Como é que nos comportamos e como é que nos sentimos e principalmente, como demonstrá-lo de uma forma credível neste meio?
Não é novidade que o cérebro, em actividade meditativa, já foi estudado em monges budistas.Porém, recentemente estudos científicos têm sido conduzidos numa outra escala, como os efectuados na Universidade do Utah, nos Estados Unidos da América, onde a actividade cerebral de dezanove jovens devotos à religião mórmon, foi estudada enquanto efectuavam quatro tarefas de cariz religioso.
O estudo foi conclusivo: a experiência religiosa activou o circuito de recompensa do cérebro, o mesmo circuito que é estimulado por outras actividades como a música, jogos, sexo e algumas drogas. Os sentimentos religiosos também foram associados ao córtex pré-frontal medial, o mesmo que está envolvido nas nossas tarefas de avaliação, de julgamento e ainda outras regiões ligadas à atenção.
Durante estas tarefas, estes dezanove jovens respiravam mais profundamente, os seus corações batiam mais depressa e as regiões no cérebro iluminaram-se na ressonância magnética.
Somos complexos. E estes estudos não são ainda suficientes para chegarmos a todas as conclusões. Não sabemos ainda se os nossos corpos e mentes reagem de igual modo independentemente da nossa religião ou da ausência dela.
Da qualquer forma, no equilíbrio estão as regras de todos os jogos. Há que saber respeitar e reconhecer a existência do mistério enquanto estudamos o lado científico da vida. Mas enfim, esta forma de ver as coisas já faz parte da minha religião.