Quinta das Lágrimas

Nada menos que o palco do (trágico) amor de Pedro e Inês assinalaram dois anos de vida conjunta.

A surpresa partiu dela: os dois dias de final de Janeiro, frio e soalheiro, encaixaram perfeitamente no molde da expectativa que eu levava para a cidade onde iniciei esta história. Nasci em Coimbra; nunca lá vivi e poucas vezes visitei esta cidade bonita, carismática, histórica e desperdiçada.

Começámos a recuperar a tradição à ida, quando saímos da A1 em Pombal para almoçar no Manjar do Marquês (panados e arroz de tomate), seguindo a Nacional 1 acima até ao berço. Antes de dar entrada no alojamento, um passeio no Choupal, o bosque que ficara a martelar desde a canção de Amália (♬ Coimbra do Choupal Ainda és Capital do Amor em Portugal ♪) e de uma entrevista ouvida há muitos anos de um qualquer representante da vida académica e do Fado de Coimbra.

Fomos conhecer a Quinta, junto ao Portugal dos Pequenitos (e como é hoje tão mais pequeno do que há trinta e cinco anos!) e passeámos no jardim – tudo plantado com gosto e evocações à História – finalmente descobri a sensação de sentar o cu num hotel de cinco estrelas, apenas para confirmar que a diferença não está nas estrelas (excepto se abrirmos a porta do quarto e constatarmos que não existe casa-de-banho, como aconteceu numa espelunca no centro de Paris que me custou o olho do cu!) mas em tudo o que levamos para a vida que ali deixamos, e trazemos.

Passear por Coimbra, subir a Ferreira Borges, o arco da Almedina (a livraria estava fechada!), a Igreja de Santa Cruz e a Câmara; seguir até à Universidade, a torre (♬ E o bater da velha cabra ♪) com a vista sobre a cidade e o Mondego (Nos saudosos campos do Mondego). Não sinto nenhuma ligação especial por lá ter nascido mas a conexão faz-se com facilidade. Imagino para quem lá tenha estudado.

O cenário escolhido para assistir ao anoitecer saiu-nos melhor do que num guia turístico: alguns estudantes de Erasmus já se encontravam no miradouro junto ao baloiço, no Seminário Maior, mas foram abandonando o lugar. Não me recordo se fomos os últimos a sair mas a cidade era outra quando deixámos o momento para jantar.

No dia seguinte, ao pequeno-almoço, encontrei o Ravi, colega de trabalho (nem num fim-de-semana romântico o trabalho deixa de saltar de trás da porta com um “Adivinha quem está cá?!”). Deixámos no domingo de manhã a cidade que acredito pouco mais oferecer do que turismo e vida académica, mas que a Sofia e eu guardámos como mais um lugar de partilha nesta caminhada.

Seguimos para a Lousã e ali, na amostra de caminhada que ensaiámos até ao castelo, decidimos que a serra merecia uma exploração mais cuidada, com amigos e roupa apropriada para calcorrear os trilhos. Já está marcada. A memória que levo da serra da Lousã começa a desvanecer-se: foi em 2005 e 2006 que lá me demorei três dias, mais concretamente em Foz de Arouce, em actividades com os putos do secundário nos anos em que dei aulas. Voltaremos agora com outra vida na bagagem, para ficarmos no Talasnal, uma das aldeias de Xisto. Mas isso ficará para outro texto. Este passa-se em Coimbra, na Quinta das Lágrimas, e na nossa vida.

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