Que a humildade seja sempre o nosso guia…

Por vezes basta um momento, para nos perdermos na nostalgia que nos envolve e abraça sempre que recordamos aqueles que em dada altura das nossas vidas, nos marcaram e deixaram em nós alguns sinais que nos vão acompanhar durante o resto do nosso percurso.

Lembro-me claramente de quando perdi um colega, no início do ensino secundário, teríamos ele e eu, não mais do que 11 ou 12 anos. A sua partida foi um verdadeiro pesadelo, e demasiado prematura, como tantas outras.

Depois de todos estes anos recordo ainda com profunda tristeza, aquele dia em que todos acompanhámos o nosso amigo, num pesaroso e quase macabro percurso que o levou à sua última morada. Uma leucemia galopante a razão da sua partida.

Lembro-me de ter tido medo de que me pudesse também acontecer o mesmo, revolta porque era profundamente injusto, tristeza porque senti o desalento da família e o nosso dos amigos. Mas em simultâneo, creio que foi o primeiro momento da minha vida, em que percebi a finitude e a precariedade da nossa existência.

Memória cinzenta e triste que nunca se apaga da minha mente, lembro-me tão bem daquela tarde… era verão, estávamos de férias e um calor terrível, que ainda adensava mais aqueles momentos que vivíamos, tornando-os verdadeiramente terríveis e difíceis de ultrapassar.

Dor gigante que nos envolvia a todos, num sofrimento que nos tirava a capacidade de respirar e sequer a vontade de continuar, não era justo, era apenas o que conseguíamos perceber.

Foi tudo muito rápido, o processo da doença, não me recordo com precisão, mas não durou mais do que um par de meses, também por isso, a perda se agigantou e arrastou-nos a todos numa lava que nos puxava cada vez mais para baixo, permitindo-nos apenas perceber o drama e o pesar de toda aquela situação.

Contudo, e apesar da sua partida física naquele dia, a mim tem-me acompanhado ao longo da vida, recordo-o muitas vezes, lembro-me do seu jeito meigo, sempre disponível e bem-disposto.

Não somos nada de facto, somos muito frágeis, pequeninos e precários, todos temos um prazo de validade. Que a humildade seja sempre o nosso guia e que a bondade nos encaminhe os passos diários.

A qualquer momento pode ser a nossa hora. Que aqueles com quem nos cruzamos ao longo dos caminhos da vida, nos recordem com um sorriso, e lembrem de nós as histórias e peripécias que ultrapassamos, mas sobretudo que nos recordem com Saudade, esse será o sinal de que fizemos a diferença na vida daqueles com quem tivemos oportunidade de conviver.

Eu tenho a felicidade de ter conhecido muitas pessoas, de algumas afastei-me ou afastaram-se por motivos vários, ficou a saudade. No entanto e apesar da distância, de cada vez que recordo esses tempos já longínquos que se vão desvanecendo ao longo das minhas últimas décadas de existência, a simples lembrança de algumas pessoas ainda alegra o meu coração e faz-me sorrir!

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Não se deixem iludir

Next Post

O desconforto dá bagagem

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Read next

O ecoar dos protestos

O mundo vive, hoje, num período de crescente indignação e descontentamento, mas, também, num período em que as…