Não se deixem iludir

Confesso que me muitas vezes me questiono se porventura quem se diz especialista em assuntos internacionais (entenda-se política) e tem a sua opinião publicada se preocupa, mesmo que minimamente, em olhar em seu redor antes de dar corpo ao que pensa. Isto, porque já não é a primeira vez – e creio que não vá ser a última – que leio opiniões de ditos especialistas a analisar o tremendo avanço da extrema-direita no Velho Continente como se ainda estivéssemos no século XX. Lamento ter de “chamar os bois pelos nomes”, mas não só não estamos no século XX, como a extrema-direita mudou. Mudou de tal forma que hoje em dia começa a ser vista como uma natural alternativa política e não como o tremendo perigo que os extremos são (sejam eles oriundos da direita ou da esquerda).

Aproveito, desde já, para aqui fazer um pequeno esclarecimento.

Obviamente que a extrema-direita, enquanto agente político, não se reduz às palermices xenófobas que ouvimos e vemos nos estádios de futebol (por exemplo). E muito menos tal se reduz às manifestações nazis da Alemanha. Alias, é precisamente aí que reside o cerne da questão. Quando reduzimos a nossa linha de pensamento a um conjunto de palermas que acham que Hitler está vivo e que os islâmicos são o fim da Europa e do Mundo, estamos a dar margem de manobra à extrema-direita que hoje governa e prospera em países como a Polónia, Hungria, Itália e Brasil.

O extremismo na política é hoje o “novo normal”. É algo que para muitos povos europeus (alemães, inclusive) é a resposta aos seus problemas. Só desta forma se explica a força crescente da Sra. Le Pen em França (até quando irá a Constituição francesa impedi-la de governar?), a “galopada” eleitoral do VOX em Espanha, o “assalto” ao Poder de partidos de extrema-direita – mesmo que em coligação – na Bélgica/Áustria/Itália e a chegada a Primeiro-ministro do Reino Unido de uma personagem ridícula como Boris Johnson. Nem vale a pena aqui falar de Donald Trump e da sua crescente popularidade.

Efectivamente, falar-se do avanço da extrema-direita/esquerda no panorama político mundial não pode, nem deve, ser analisado da mesma forma que o fazíamos no passado. Hoje em dia, o eleitorado – na sua grassa maioria – já não é ignorante e muito menos iletrado. Quem deposita o seu voto no extremismo já não é o típico aldeão pobre ou o trabalhador fabril dos primórdios do século XX. Quem hoje acredita na extrema-direita e na extrema-esquerda tem formação académica e plena capacidade de saber ao que vai.

Para mais, ambas as alas extremistas da política mundial aprenderam a saber passar a sua mensagem e a aplicar a sua política de um a forma tal que, para o nosso mal, conseguem ser eleitos e governar a seu bel-prazer.

Não nos iludamos, porque o mal também aprende com os seus erros e a modificar-se para se adaptar aos tempos modernos.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Parque Linear Ribeirinho do Estuário do Tejo

Next Post

Que a humildade seja sempre o nosso guia…

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Read next

Um salto pelo mundo

Coreia do Norte Fundação Dos dos 193 países do mundo reconhecidos pela ONU, há um que acho especialmente difícil…

Para sempre na memória!

Portugal já está sujeito à concorrência de países de fora da Europa. Os chineses estão a entrar por aí adentro,…