Uma nova ordem mundial

O ano de 2025 apresenta-se como um enorme aglomerado de lã, de origens diversas, previamente cardada e pronta a fiar. Serão as mãos dos fiadores e a sua destreza a determinar o tipo de fio obtido, mais ou menos linear, que permitirá depois tecer e criar belas peças de vestuário e adornos vários.

Ultrapassando a analogia, 2025 será um ano de grandes desafios e avista-se uma nova ordem mundial, na qual o velho continente, a Europa, aparenta perder posição nos lugares cimeiros da liderança política, económica e geoestratégica. Muita coisa dependerá de um só homem, o recém reeleito presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump. Tido como imprevisível, é através das suas mãos que as peças se movem no tabuleiro dos jogos mundiais.

Uma breve constatação histórica permite-nos perceber que a hegemonia europeia está em declínio já há algum tempo. Ao longo de vários séculos a Europa foi o centro do mundo civilizado e dominou os destinos da política mundial. Deste território saíram milhares de homens e mulheres para ocupar territórios e “civilizá-los”, criando sociedades decalcadas do modelo europeu, independentemente de ocupações pré-existentes e, sobretudo, independentemente da compreensão das caraterísticas singulares dessas terras e gentes.

A grande colonizadora estremeceu com as consequências das duas guerras mundiais. A antiga colónia, os Estados Unidos da América, surge como a salvadora, com a sua pungente força económica. Uma Europa destruída apoia-se no Plano Marshal para se reerguer, fortalecendo a aliança delineada na Primeira Guerra Mundial. E fê-lo, construindo uma sociedade supostamente igualitária e progressista.

A ligação entre estas duas potências reforça-se com a tensão geopolítica criada pela Guerra Fria, opondo o Bloco Ocidental (os ditos países de primeiro mundo) e o Bloco Oriental (liderado pelos soviéticos que procuram englobar os países em desenvolvimento) no período pós-guerra. É o período crítico das relações entre os Estados Unidos da América e a União Soviética, competindo por influência na América Latina, no Médio Oriente e nos estados descolonizadores de África e da Ásia. Com a queda do muro de Berlim em 1989 e a dissolução oficial da ex-URSS em 1991, dir-se-ia que este período terminou, mas são vários os historiadores e os analistas políticos que subscrevem que a Guerra Fria não teve ainda um fim declarado.

O projeto europeu, na sua tentativa de unir estados com valores comuns e sob uma mesma política económica, tem apresentado sucessivas lacunas. Nos últimos anos, sofreu um duro golpe com a saída do Reino Unido da União Europeia. Novo revés com a guerra na Ucrânia, atacada pela Rússia, ignorando o direito internacional que afirma a supremacia e independência de cada nação. Revive o crescimento das forças de extrema-direita, já com representação em vários parlamentos e governos europeus.

No mesmo tabuleiro mundial, observam-se tensões antigas, com o Médio Oriente em permanente ebulição e o agravamento da guerra na Faixa de Gaza. Nos países da América Latina, a instabilidade política e a inflação continuam a dificultar as condições de vida das pessoas que aí habitam. Em África e em muitas regiões da Ásia as populações vivem numa pobreza extrema, em que a sobrevivência é uma luta diária e onde os direitos humanos são relegados para segundo plano. São eles os que mais sofrem com as decisões políticas delineadas nos grandes centros de poder do mundo desenvolvido.

Atualmente verifica-se a existência de potências em queda (a Europa secundarizada) e potências em ascensão (China), ao qual se junta um complexo panorama mundial: guerras em vários pontos do planeta, alterações climáticas com consequências cada vez mais evidentes, tensões crescentes relacionadas com a imigração e os migrantes, supremacia tecnológica em detrimento das relações humanas, radicalização dos discursos de ódio.

Neste contexto, os holofotes estão direcionados para o presidente americano reeleito que tomará posse no dia 20 de janeiro de 2025. Sabe-se qual a posição política de Donald Trump em relação a vários dos temas do mundo atual e temos observado os elementos que seleciona para compor o seu executivo de ministros. Considerando o seu passado pessoal, profissional e político, calcula-se o que se avizinha nos próximos anos. Veremos qual será a o novo panorama tecido pelos donos do mundo.

A história é cíclica e vivemos indubitavelmente um regresso a políticas mais conservadoras, em que os valores democráticos são secundarizados em prol de um mundo supostamente mais seguro e próspero. Só para alguns, obviamente. Os dados estão lançados por quem elege os seus representantes e também por aqueles que se abstêm de o fazer. As consequências, essas, são para todos.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Na sombra da democracia

Next Post

“Comer com os olhos” faz mesmo bem!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Read next

Politiquices

Greves, manifestações, abaixo-assinados. Não sei se é por ser um activo no mercado de trabalho, mas, quando…

Calimerices no feminino

Estamos no século XXI. A Humanidade evoluiu e muitos dos preconceitos do passado estão “enterrados” ou vigoram…

Norte vs Sul

1 – Começo, desde já, por dizer que estou inteiramente do lado do actual Presidente da Câmara Municipal do…