Bem que amar poderia ser simples. E é! O corpo, a mente, a alma são invadidos, quando e por quem menos esperamos. Muitas vezes, para além dos suores frios, os sintomas são característicos: a pessoa de afeição não nos sai da cabeça, pensamos a cada instante onde estará e principalmente quando estaremos juntos. Raciocinamos mil vezes como agir ou o que escrever em mensagens. No inicio do amor, tememos não dizer as palavras certas, espalharmo-nos ao comprido no próximo encontro e não sermos amados e aceites como somos.
Muitas vezes passamos por processos iniciais de negação. Não, impossível, nem pensar que estamos a ter um ataque de ciúme. Nem pouco mais ou menos sentirmos algo, esta pessoa nem sequer tem nada a ver connosco.
Mas já está! Sentimos. Cada vez mais forte, a progressão do amor é inevitável, tem tendência a crescer e alastrar-se e não há forma de escapar.
Depois atrapalhamos tudo. Porque a acompanhar o inicio de uma nova e bela história, já existem duas. Histórias com bagagens, com medos, com esperanças, com personalidades e objectivos. Nada sabemos sobre os efeitos das histórias dos outros nos outros, mal conseguimos equilibrar os efeitos e retroactivos das nossas.
É normal tentarmos estar aprumadinhos, cheirosos, arranjadinhos. Muitas das vezes a felicidade é tanta que damos aquele trato na imagem e na roupa. Evitam-se lingeries largas e extremamente cómodas, barbas são aparadas e surgimos no melhor da elegância.
O problema surge, quando no meio da tal bagagem espreitam atentas as desilusões, os traumas, as rejeições. Damos por nós a mostrar ou a tentar mostrar o melhor que não existe em nós, um eu tão contornado de virtudes e preciosismos que a qualquer momento surge a tendência de desmoronar.
Amar poderia ser simples. Mas não é! O que sentimos é tão grandioso e tão bom que temos medo que o outro nos fuja ou de ficarmos desiludidos. Às vezes tentamos negar o que estamos a sentir. Fingimo-nos perfeitos na tentativa de construir um mundo a dois sólido, miraculoso, inabalável. E tão monótono, tão aborrecido.
Das melhores ideias que já ouvi surge-me sempre esta: é nas imperfeições, nos erros, que verdadeiramente nos revelamos, nos definimos. A simplicidade do amor reside nisso mesmo. O amor é amor, somente isso. É desbravar e conhecer pedaço a pedaço o outro e sentirmo-nos maravilhados na imperfeição que é tão perfeita. É rirmo-nos e termos carinho pelas imperfeições.
Somos o que somos. Somos o que nos define. Somos o que sentimos.
Bem que o amor é simples, complexo e imperfeito. Mas quem não é?