Arco-íris contra a serra, chuva na terra; arco-íris contra o mar tira os bois e põe-te a lavrar. (Ditado popular)
Fazendo jus à sabedoria do povo de que “depois da tempestade vem a bonança”, centro-me no desejo de ficarmos todos bem. Tanto durante como depois de passar este fedonho flagelo “covidonho”. Eis uma mensagem positiva, nesse Bem que tem sido copiosamente simbolizado na imagem poderosa e generosa do arco-íris. Que, ao ter 7 cores e olhando à acepção deste número, nos transmite a plenitude e excelência conjugadas: a beleza da vida está em fazer da vida bela. E o arco-íris, com a sua lógica e essência, é isso mesmo. Tanto tem de majestade como de simplicidade! De mãos dadas e entrelaçadas, abrindo-se a nós como um abraço talentoso e portentoso. Para, nessa unidade cromática, nos envolver e defender. De modo tão singular e, de igual modo, tão plural: por todos e para todos.
Ele é cheio de cor e feito de cores. E todas as cores projetam um estado de espírito, uma ligação ao humano. Segundo Jacinto Jardim, elas revelam um pouco do nosso perfil, através dos fenómenos fisiológicos e da sua paleta psicológica (como veremos de seguida). A nossa cor preferida – individualmente – tem, portanto, essa relação direta e predileta com o modo de ser e estar, de sentir e pensar, de agir e expressar de cada um/a. No fundo, o arco-íris representa a Humanidade: os continentes e nações que a constituem, sem olhar a raças, credos, culturas ou géneros sociais e sexuais. E simboliza, dum modo geral, a união entre a Terra e o Céu, entre os deuses e os humanos. Daí o seu nome ser dedicado à deusa grega Íris, mensageira dos deuses. A íris é, também, uma flor primaveril de várias cores que, no Japão, confina-se dum carácter “purificador e protetor”. Os japoneses, em cada 5 de maio, “tomam um banho de íris, a fim de atraírem todos os seus favores para o resto do ano”.
Exploro, então e brevemente, o significado dessas cores para nós – e segundo os autores J. Jardim, M. Pastoureau e S. Barbon –, pela sua ordem primária no arco-íris. Com o objetivo de ativar e reativar o que há de melhor em nós e de nós perante os outros. Que o ser da nossa cor se funda com todas as outras cores. E nesse colorado sejamos um só. Na proximidade do outro, rosto e coração de cada um/a, que dá cor à sua vida…
VERMELHO
– Estimulador do cérebro, é “a cor arquetípica, a primeira de todas as cores” e “cor da matéria e do materialismo”. Sugere alguém extrovertido, festivo, otimista, enérgico, dinâmico, transparente nos sentimentos, subjetivista e com falta de paz.
– Síntese: o encarnado alia-se ao ser muito emotivo e motivado, ao ser luxuoso e vigoroso.
– Repto: dê ânimo a todos os profissionais de Saúde, da Educação, da Economia e da Justiça; autoridades; governantes; cientistas; filantropos e obreiros dum mundo próspero!
LARANJA
– “Faz aumentar as pulsações sem afetar a pressão sanguínea”. O que se identifica com o laranja, cor sensorial de bem-estar, é pessoa calorosa, simpática, adaptável, corajosa, firme de carácter, séria, dinâmica, bondosa e com agilidade mental prática.
– Síntese: o laranja é sociável e saudável, encaixa-se em qualquer banja.
– Repto: mitigue o sofrimento de tantos milhares que não têm de comer, sobretudo crianças, dos sem-abrigo e dos novos pobres que passarão fome com esta crise mundial.
AMARELO
– “A mais luminosa das cores”, que realça aquilo que se quer ver bem, mesmo podendo ser tímida. É a cor do calor, da prosperidade e riqueza. Aquele que com ele se identifica, é um ser idealista, intelectual, curioso, sonhador, amigável, triunfador e charmoso.
– Síntese: o amarelo tem na alegria, na energia e na teoria o seu castelo.
– Repto: console todos os doentes, violentados, idosos, em solidão e às portas da morte – e os alivie nas suas dores; e pela saúde espiritual, física e mental de todos nós!
VERDE
– Cor tranquilizante: faz diminuir a pressão sanguínea, alivia depressões e fadiga ocular. Reflete aquele que é esperançoso, esforçado, pacífico, confidente, otimista, leal, estável, solitário e orgulhoso. É a cor da fortuna e do infortúnio, da liberdade (permissão) e da libertinagem (“cor do amor infiel”).
– Síntese: o verde do destino sacia na natureza, que ama, a sua sede.
– Repto: cesse o desemprego e a precariedade; atenue os problemas das alterações climáticas, dos ecossistemas e da biodiversidade – por um planeta mais limpo e saudável!
AZUL
– É um tonificador. Ao contrário do verde, acelera a pressão sanguínea e é “cor do amor fiel”, da fidelidade. O amante desta cor é inspirado e inspirador, honesto, humilde, sensível, cauteloso, lutador, compreensivo, sóbrio, sonhador, devoto aos ideais, com sentido do dever, teimoso e inseguro.
– Síntese: o azul faz da arte e criação o seu babul.
– Repto: apoie os empresários e serviços; agentes culturais, turísticos, recreativos e comunicacionais; artistas e desportistas; comerciais e industriais, pescas e agropecuários!
ANIL / ÍNDIGO
– Mistura entre o azul e o violeta, logo está entre ambos. Também é conhecido como «índigo», por ser a planta fonte do corante ‘anil’. Indica alguém que é intuitivo, metafísico, extrovertido, meditativo, preocupado com o bem-estar dos outros e amante do convívio familiar.
– Síntese: o anil indica enorme espírito de doação, um ato viril.
– Repto: conforte as Famílias e todos os que, ao conseguirem isolar-se socialmente, fugiram do stresse, redescobriram a paz e a vontade em certos prazeres da vida no seu lar!
VIOLETA / ROXO
– Sobre esta cor, especificamente, escreverei em breve uma crónica apenas sobre ela. Não me detendo agora nela.
– Síntese: o violeta leva a confiança e a segurança na sua leve maleta.
– Repto: tranquilize todos os amantes da Vida e ativos não antes visados; os orantes e leigos das diferentes religiões, líderes ecuménicos, clérigos, místicos, agnósticos e ateus!
Cobramo-nos do Bem, num só Arco do bem-fazer: que a outra metade do arco-íris sejamos todos nós, completando as suas cores. Essas são as cores que endogenizam o valor desmedido do ditado: “faz o bem sem olhares a quem”. Já que “procurando o bem dos outros, encontramos o nosso” (Platão). Ou porque, segundo I. Jacob e N. Tonin, “nós somos o espaço e o fruto do bem dos outros. (…) O bem não precisa de outra recompensa que a felicidade que sentimos por praticá-lo generosamente”. Importa que o Bem – no seu todo – nos defina, seja a nossa obra que não cobra, seja a fragrância crepitante que fica da nossa vida, até que se expire. Até para não advir o que, assim, escreveu Shakespeare: “O mal que os homens fazem sobrevive-lhes; o bem é muitas vezes enterrado com os seus ossos”.
Mesmo que em algum momento da nossa vida, incolor, ela se assemelhe ao tempo acinzentado das nuvens, e dos dias poluentes e apoquentados, o arco-íris eleva-se e enleva-se na imensidão do céu. Sendo, nele, menor é tão grande e melhor! Da bênção da chuva e com a aparição do sol, ele nos é dado – a todos por igual, sem exceção – como diva de esplendor e dádiva de Bem, com fulgor. O seu efeito derivado à refração suscita em nós enorme atração. E emoção. Haja sempre um arco-íris em nós, coletiva e individualmente, tal qual a música: “há um arco-íris em cada criança, para colorir com as cores da esperança!”. E – com muita cor e amor – sejamos, sempre, o arco-íris na vida de alguém!