Depois de percorrer todas as carruagens, Anita escolheu sentar-se no primeiro banco do primeiro vagão do comboio das 8h30. Os bancos estavam impecavelmente limpos e cheiravam a alfazema e rosas. Inspirou fundo. Queria absorver aquele momento que sabia iria mudar a sua vida para sempre.
Ainda segurava no colo a pequena mala preparada na noite anterior com algumas roupas – as que considerara mais bonitas. A coragem de que se valeu nos dias que antecederam esta manhã, falhava agora que o sonho passara a realidade. Estava nervosa, as pernas e as mãos tremiam-lhe, mas nunca estivera tão feliz!
As rodas do comboio deslizavam por cima dos carris provocando um barulho ensurdecedor e rítmico, mas não para ela. Anita estava deliciada com aquela melodia. Para trás ficara a sua vida vazia e sem tom.
Colocou a mala no compartimento designado para o efeito e retirou de lá de dentro um papel. Sorriu, levou-o ao peito e releu para si as doces palavras do seu amado:
Minha Anita,
O meu coração bate desenfreado quando penso que em breve estaremos juntos.
Nada temas meu amor, prometo-te que serás a mulher mais feliz à face da terra.
Sempre teu,
Francisco.
Anita levantou-se num ápice quando viu Francisco entrar, e correu até ele.
Abraçaram-se e sentiram o aconchego que só este acto consegue transmitir. Olharam-se nos olhos e o beijo carinhoso, leve e suave surgiu com a naturalidade de quem respira e com a força e a coragem que só quem ama consegue ter.
Francisco baixou-se até ficar ao nível do regaço de Anita, acariciou-lhe o ventre e sussurrou:
– Sabes o quão sortudo eu sou? As mulheres mais bonitas do mundo são aquelas a quem posso chamar de minhas.
E a lágrima da felicidade percorreu o seu caminho até ao sorriso que lhe dera origem.