+1 202 555 0180

Have a question, comment, or concern? Our dedicated team of experts is ready to hear and assist you. Reach us through our social media, phone, or live chat.

[Outubro] Inspirar para Ensinar

Corria o ano de 1958, na Bélgica, um país dividido em três comunidades – os falantes do alemão, os falantes do francês e os falantes do neerlandês –, quando a guerra entre a escola pública e a escola privada e católica viu o seu fim chegar. Desde a independência deste país, em 1830, que a Igreja Católica havia marcado o compasso das políticas educacionais, não havendo, fora dos grandes centros urbanos, escolas primárias com uma educação neutra e sendo necessária a aprovação de um parlamento maioritariamente católico para a criação de escolas secundárias publicas. Com o poder católico no governo entre 1884 e 1950, a Bélgica era um país com o crescimento deficitário da escola publica e com um sistema de escolas privadas católicas, com acesso a subsídios estatais em abundância, em larga expansão.

“There are only two kinds of people we can call reasonable: either those who serve God with their whole heart because they know him, or those who search after him with all heart because they do not know him.”

(Blaise Pascal)

Os grupos anti-clericais, perante esta situação, organizaram demonstrações e acções de protesto pelas ruas belgas, para demonstrarem o seu descontentamento perante o poder católico na sociedade belga. Este grupo, decidido a terminar com o controlo católico no sistema de ensino, concentrou a sua energia e os seus esforços na campanha eleitoral de 1954, que acabaria por lhes trazer uma grande vitória, ao terminar com a maioria parlamentar dos católicos e ao criarem uma coligação governamental que se iria manter no poder até 1958. Durante estes anos, o ministro da Educação, L. Collard, trabalhou para terminar com todas as leis que beneficiavam o ensino católico.

“You don’t understand, you fool’ say Yegor, looking dreamily up at the sky. You’ve never understood what kind of person I am, nor will you in a million years… You just think I’m a mad person who has thrown his life away… Once the free spirit has taken hold of a man, there’s no way of getting it out of him.”

(Anton Chekhov)

Com as medidas adoptadas por um governo mais liberal, as mudanças na estrutura de ensino não tardaram a sentir-se. O número de alunos com um diploma superior reduziu, no ensino obrigatório e gratuito começou a ser possível optar entre o ensino religioso e um sem essa componente, profissionalizou-se o estatuto do professor e o estado reservou-se ao direito de abrir escolas básicas autónomas das escolas católicas. Todas estas alterações debilitaram a presença católica no ensino belga, levando os seus defensores a iniciarem campanhas contra o governo, com recurso a todos os meios legislativos e não parlamentares para assinalarem o seu protesto. Esta Guerra de Escolas terminou, quando as duas facções demonstraram a vontade de chegar a um entendimento político.

Conhecido como o Pacto das Escolas, o acordo alcançado previu a criação de uma comissão gestora do sistema educativo, que iria ser baseada na livre escolha dos pais sobre o destino educacional que cada um pretendia dar aos seus filhos, consoante a sua ideologia e a distância a que a sua residência fica da escola. Na prática, isto significou que as escolas publicas podiam ampliar a sua rede de infraestruturas, enquanto que as privadas tinham acesso a novos apoios estatais, para que os seus alunos não tivessem de pagar o acesso a uma educação mais católica. Deste modo, houve uma melhoria qualitativa no modo de ensinar no país, graças à eficiente gestão do National Secretariaat van het Kattoliek Onderwijs (Secretariado Nacional da Educação Católica), que era composta por representantes das três comunidades belgas, o sistema das escolas católicas começou a ter um plano curricular estruturado, que não tinha anteriormente, e as inscrições no ensino secundário (e não obrigatório) aumentou exponencialmente.

“Diversity may be both the hardest thing to live with and the most dangerous thing to be without.”

(William Sloane Coffin)

Corria o ano de 2007, nos Estados Unidos da América, quando estreou o filme Freedom Writers nas salas de cinema. Contando a história verídica de uma professora branca que tenta marcar a diferença numa turma de secundário constituída maioritariamente por afro-americanos, latinos e asiáticos. Erin Gruwell (Hillary Swank) tem como desafio alcançar estes jovens marcados pela venda e consumo de drogas, pela prisão e pela raiva com que vivem constantemente por pertencerem a uma comunidade em constante guerra e onde a morte passeia pelas ruas. São alunos revoltados com o ensino e têm muito pouco respeito para com um sistema educacional que não se interessa pelas suas verdadeiras necessidades, principalmente numa escola que vive presa a um passado em que foi frequentada pelos melhores alunos do distrito.

“Why should I give you my respect to you? Because you’re a teacher? I don’t know you. How do I know you’re not a liar standing up there? How do I know you’re a bad person standing up there? I’m not just gonna give you my respect because you’re called a teacher.”

(Mario, em Freedom Writers)

Apercebendo-se de que o currículo adoptado pela escola não conseguia cativar os seus alunos, Gruwell modifica o seu plano curricular, adoptando temáticas mais próximas da realidade dos alunos. Decide ensinar-lhes sobre o Holocausto e sobre como a separação racial pode ser levada a extremos devastadores. Ensina-lhes sobre a importância da palavra escrita, pedindo-lhes que escrevam um diário sobre os seus dias e que lessem o livro O Diário de Anne Frank. Ensina-lhes valores morais associados às diferenças que os unem e que podem aplicar em todos os momentos da sua vida. Como a professora idealista que é, Erin Gruwell mostra aos seus alunos como as suas batalhas são semelhantes às de outras pessoas no mundo e na história. Através do Holocausto, dá-lhes uma circunstância para se expressarem e ensina-lhes a usarem o poder da sua voz. Desta forma, transmite-lhes a maior lição de todas: a força que pode surgir da diversidade, quando os indivíduos derrubam as paredes que os separam dos de mais.

“You know what this is? This is a Fuck You to me and to everyone in this class. I don’t want excuses. I know what you’re up against. We’re all of us up against something. So you better wake up your mind, because until you have the balls to look me straight in the eye and tell me this is all you deserve, I am not letting you fail. Even if that means coming to your house every night until you finish the work. I see who you are. Do you understand me? I can see you. And you are not failing.”

(Hillary Swan, em Freedom Writers)

Freedom Writers relembra-nos de que todos nós temos uma história para contar, que pode ser pessoal, forte e poderosa. Relembra-nos de que todos nós temos lutas, durante a nossa vida, e, por causa de determinadas circunstâncias, alguns de nós estão limitados na educação e na iluminação que a vida tem para oferecer, sendo que todos temos a capacidade de atingir a grandeza. Para tal basta, muitas vezes, ter um professor que tenha uma verdadeira paixão pelo ensino e que nos inspire a sermos a melhor versão de nós mesmos. Foi o que o Pacto das Escolas, na Bélgica, permitiu fazer, inspirando o sistema educacional de muitos países europeus, e o que Erin Gruwell fez, ao criar pontes entre os seus alunos e o mundo.

“Não se pode ensinar coisa alguma a alguém; pode-se apenas ensiná-la a descobrir por si mesma.”

(Galileu)

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Só lhe sobra a pele

Next Post

A morte como sinónimo da vida em Mali

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Read next

Olivia Rodrigo

Olivia Rodrigo quebra recorde e detém canção feminina com a maior semana em streams nos EUA. Com esta introdução…