O filme Joker de Todd Phillips pode ou não estar cheio 9 perguntas sem respostas, de pontas soltas, de enigmas e finais abertos. Aliás, pode não, está. Nada foi feito ao acaso.
CUIDADO COM OS SPOILERS
São tantas as teorias que se conseguiram criar em análises microscópicas às cenas, às falas, que o filme quase que deixa de ser apenas um filme para ser, sobretudo, um quebra cabeças. Importa assim tanto especular sobre se as mortes dos pais do pequeno Bruce, Thomas e Martha Wayne, o transformaram depois no Batman? O filme não nos dá essa resposta, pois não?
E sobre a suposta relação de Arthur com a sua vizinha, Sophie Dumond, o que sabemos? Que há um primeiro encontro no elevador, que depois ele a convida para assistir a um espetáculo de stand-up comedy em que ele fracassa e que ela lhe faz companhia, quando a mãe de Arthur é hospitalizada. Contudo, não sabemos se isto realmente acontece, porque depois o filme mostra-nos Arthur a invadir a casa de Sophie, num momento de desespero. Ela tem medo dele, chama-o de invasor e percebemos que o filme nunca nos disse muito sobre Sophie.
A verdade é que Arthur também não é um narrador confiável.
E Penny é ou não a verdadeira mãe dele? Ele já não sabe e nós também não. Um flashback mostra o momento em que Alfred descobre registos clínicos que dizem que a mãe é esquizofrénica e que ele é adotado. Só que… fica a dúvida, porque era conveniente a Thomas Wayne questionar a sanidade mental de Penny e encobrir o relacionamento deles. Contudo lá vem aquela cena no final onde vemos a fotografia da jovem Penny com uma dedicatória escrita: “Adoro o teu sorriso. T.W“
Com tantas teorias e análises, será que não passa um pouco para segundo plano a história simples do filme?
Mesmo que a história do filme seja apenas a de um homem que sofre de um distúrbio que o impede de controlar o riso e que se esforça para ser descontraído e gentil. Porém, o seu problema gera desconfiança e incompreensão.
Um homem que vivia cada segundo em esforço para ser aceite e reconhecido. Um homem que sente por demais a incapacidade que os outros têm de praticar o exercício da empatia. Um homem doente, sem recursos, sozinho, invadido por dúvidas de identidade, que passou a ver-se vítima de uma sociedade corrompida e não como um vilão.
É a história de uma pessoa que desiste de ter esperança na compreensão dos outros. Um homem coberto de medos que não se vêm à superfície.
Joker, ou Arthur Fleck, é um homem perdido na sua psicose e abandonado pelo “sistema”. Se a história do filme fosse apenas esta, então, teríamos um “Joker” que de “Joker”, às tantas, não tem graça nenhuma.
Um homem triste que quer fazer rir e os fracassos das suas atuações que alimentam mais a sua doença. Os que o rodeiam parecem-lhe ser cada vez mais maldosos, oportunistas, dissimulados, convenientes e distantes. Um homem que vivia cada segundo em esforço para ser aceite e reconhecido.
Um homem que sente por demais a incapacidade que os outros têm de praticar o exercício da empatia. Um homem doente, sem recursos, sozinho, invadido por dúvidas de identidade, que passou a ver-se vítima de uma sociedade corrompida e não como um vilão. É a história de uma pessoa que desiste de ter esperança na compreensão dos outros. Um homem coberto de medos que não se vêm à superfície.
“Joker” mostra-nos que o menosprezo dado aos problemas psicológicos e a dificuldade que existe em saber lidar e acreditar no sofrimento do outro podem ter resultados catastróficos. É um filme que mostra como é perigoso dizer a um homem que ele é um fracasso, quando o que ele sente é tristeza. Perturba pelo tanto de pureza e verdade que tem.