Há duas coisas muito importantes a saber sobre mim antes de prosseguir com a leitura. Uma é que há muitos anos atrás, quando ainda não sabia o que queria fazer da vida, pensei em seguir História, a outra é que estou a ficar sem espaço para guardar livros em casa.
O Tatuador de Auschwitz junta duas coisas que me fascinam por si só, a literatura e a II Guerra Mundial. Como é que a II Guerra Mundial me pode fascinar? Porque, apesar de todas as atrocidades, apesar de todo o sofrimento, houve espaço para as pessoas boas continuarem a ser boas e, felizmente, há hoje em dia quem se dedique a contar as suas histórias. E Heather Morris conta estas histórias brilhantemente.
O Tätowierer é uma pessoa, não é fruto da imaginação de Heather Morris, é alguém com quem passou anos, a gravar as suas memórias no papel. E tem uma capacidade incrível de passar a essência deste homem, através das páginas e do tempo.
Como tantos outros judeus, em 1942 a Lale Sokolov não lhe é dada a opção e é enviado para o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Mas quando os nazis se apercebem de que fala várias línguas, é-lhe incumbida a tarefa de marcar os restantes prisioneiros, tatuando-lhes o número que os identificaria para o resto da vida no braço – sim, esse número que se tornou uma imagem marcante do Holocausto. Lale esteve preso mais de dois anos e meio, e num desses mais de novecentos dias, vê-se em frente a uma jovem nervosa e com receio, que estava prestes a ser marcada para a vida, mas de entre tantos outros presos, Lale conforta-a e nunca mais a esqueceu. Mais tarde descobre que o nome desta jovem é Gita.
Não há palavras suficientemente fortes para se conseguir descrever o que aconteceu nos campos de concentração, ainda menos as há para descrever Auschwitz-Birkenau, mas o que é arrepiante na história de Lale é como o terror se tornou a sua rotina e o que é exímio na escrita de Heather Morris é como ela descreve o dia-a-dia no campo, sem recorrer a grafismos extremos, e com uma simplicidade que faz o leitor ser transportado para aqueles dias. E sim, todo este terror arrepia os leitores e faz estremecer, mas no meio desta escuridão toda, é possível encontrar esperança e um propósito.
“If you wake up in the morning, it is a good day”
-Lale Sokolov
Este homem estava a atravessar um dos piores capítulos da História, e não só conseguiu sobreviver, como encontrou no meio do horror, a luz da esperança e o amor da sua vida. Improvável? Sim. Verdadeiro? Também.
Até conhecer Gita, Lale sabia que tinha de sobreviver, concentrando-se no como, mas não sabia o porquê. Conhecer Gita mudou a sua vida e também o torna mais corajoso e Lale passa de partilhar as suas pequenas benesses – como a ração extra – com os outros presos, a ser o organizador de um mercado negro bem-sucedido e cujo único objetivo era o de tornar a vida de todos mais suportável. Convence os presos responsáveis por organizar os pertences dos recém-chegados a darem-lhe alguns dos valores que encontram para que este os possa trocar, com a ajuda de civis, por comida e até por medicamentos. Lale ajudou muitos, mas o seu principal objetivo era que Gita estivesse sempre em segurança.
É difícil de acreditar que seja possível existir uma história de amor nestas condições com um final feliz. Mas alternando entre a brutalidade do campo e o desrespeito pela condição humana, Heather Morris consegue de uma forma sensacional lembrar-nos a todos que os homens são capazes, não só do maior dos pecados, como também do maior dos amores. E é por isso, que esta história é tão merecedora de ter sido contada, porque assim que se fecha o livro pela última vez o pensamento é “Que homem incrível este” e respira-se de alívio, por saber que ultrapassou todos os obstáculos que lhe atiraram para a frente.
E se depois de tudo isto estiverem curiosos sobre quem é este senhor, espreitem aqui!