Na chama de todos os desejos e vícios, existe um que assombra alguns de nós, que é particularmente difícil de resistir. O de comer, de se manter saciado, ou de empurrar comida para lugares que não estão bem preenchidos. É o vício mais fácil, barato e acessível que podemos encontrar, e que em contrapartida nos define ou nos coloca, por vezes, em situações indesejadas. As consequências de um exagero alimentar levam-nos a uma condição e, por sua vez, ficarmos acima do nosso peso ideal coloca-nos um rótulo, criado pela sociedade e pelas organizações competentes de saúde. Uma pessoa obesa.
Quando comemos, existem vários fatores interessantes associados. Supostamente, deveríamos comer para sobreviver e não para suplementarmos um capricho, ou fomentarmos a gula. Os nossos antepassados consideravam as pessoas obesas (e caracteriza-se obesidade, quando se ultrapassa o Índice de Massa Corporal (IMC)) como pessoas de estatuto elevado, de bem com a sociedade e por sua vez, erradamente, saudáveis. Tudo isto desenvolveu, não só, uma rede inacabável de doenças cardiovasculares, endócrinas, metabólicas, gastrointestinais e claro, psicológicas, como uma construção errática da imagem física ideal do ser humano. Se, de muito cedo, começássemos a tratar a obesidade como uma ameaça, muito provavelmente seria considerada pandémica até aos dias de hoje. A sociedade, mais tarde, desacreditou estatutos antigos, e ponderou uma abordagem médica para esta condição. Foram feitos estudos e descobriu-se diversos fatores relacionados com a obesidade. Desde fatores genéticos a fatores psicológicos. Isto claro, falando na obesidade, caracterizando-a aqui, “externa”. Ou seja, que não temos qualquer controlo na situação.
O descontrolo, associado a fatores psicológicos, pode-se correlacionar pela incapacidade de colocar o travão. Isto, porque a comida não só nos dá energia, como nos conforta e muitos de nós procura o conforto certo na comida. Pode-se dizer que, por vezes, esta necessidade pode estar relacionada com traumas no passado, ausência de acompanhamento na infância, ou de suporte na capacidade de suportar certos transtornos ou emoções. A comida, por si só, pode ser companheira e na solidão, uma alimentação descuidada e avantajada, pode ser uma excelente amiga. E daqui, parte o início de um ciclo vicioso.
Do foro médico, a obesidade é maioritariamente considerada fisiológica e anatómica. Não descartando estas hipóteses, porque sabemos que muitos dos distúrbios alimentares, estão associados a algumas patologias particulares, ou como já foi referido, por fatores genéticos. Contudo, não aligeiremos este em particular, porque este não se autocriou, iniciou a sua alteração no código genético através de algo. Houve um primórdio que iniciou este ciclo até hoje.
Infelizmente, por vezes a intervenção médica é tarde demais ou surge no seu limite, quando vários órgãos começam a falhar. É preciso mais campanhas de sensibilização, mais suporte médico e psicológico quando ao encontro destes se senta uma pessoa em aflição, que se conforta com imensas calorias. É necessário saber se autoavaliar sobre uma situação destas. É imprescindível olharmo-nos ao espelho e entender a mensagem que o nosso cérebro nos envia. Se estamos acima do peso, mas conscientes das nossas ações, e assim gostarmos, apenas precisamos de manter consciente a ideia de uma possível aceitação positiva e assumirmos o nosso estilo de vida. Se não nos virmos neste padrão, é necessário procurarmos ajuda.
O nosso corpo é a moldura que simplesmente embeleza o nosso verdadeiro ser, é preciso cuidar e ao mesmo tempo, manter-nos fiéis ao equilíbrio entre a vertente física e psicológica.