You can’t take a picture of this… it’s already gone.
– Nate
Esta série conta a história da família Fisher, uma família disfuncional que tenta conciliar o drama da vida pessoal com o negócio de uma funerária.
Six Feet Under ou A Sete Palmos de Terra é muito provavelmente a série mais “deprimente” que já vi na vida e não digo isto como algo negativo, mas, sim, como consequência da reflexão constante que a série faz sobre a vida e a morte e quão ténue é a linha entre estes dois “estados”. A série invariavelmente lida com a morte, até porque a família principal é dona de uma funerária. E por isso em todos os episódios temos uma morte e grande parte dos episódios lidam com o luto de alguém e as diferentes formas desse luto ser feito.
A paleta de cores usada pela série é muito seca, ou seja, todas as cores são muito apagadas (intencionalmente) para transmitir esta sensação de tristeza e “ausência de vida” constante.
A série começa cada episódio com uma morte diferente e aleatória, o que é um fator que traz muito entretenimento a todos os capítulos, porque existem mortes muito diversificadas e é quase um “pré-convite” para ver cada episódio de forma a descobrirmos como vai ser a morte daquele episódio.
A série toda é desencadeada pela morte de Nathaniel Fisher, o patriarca da família e embora existam sempre mortes no início de cada episódio, os episódios em si lidam com linhas narrativas contínuas sobre a vida amorosa e profissional de todos os membros da família Fisher.
Nesta família, temos Nate Fisher (Peter Krauser), e embora eu não ache que a série tem especificamente um protagonista, se considerarmos que tem, esse protagonista terá que ser Nate. O filho pródigo que regressa após uma longa ausência e que se encarrega da funerária juntamente com o seu irmão. Muitos dos momentos mais chocantes e trágicos da série acontecem em redor desta personagem que evolui bastante de temporada para temporada.
Temos também David Fisher (Michael C. Hall), o mais sensato e responsável da família que esconde o segredo sobre a sua sexualidade e também oferece momentos de enorme drama.
Claire Fisher (Lauren Ambrose) é a benjamim da família, que se tenta encontrar com a influência dos amigos e da família;
Por fim Ruth Fisher (Frances Conroy) a solitária e incompreendida viúva que também esconde muitos segredos que são revelados após a morte do marido.
No departamento de representação tenho que destacar a enorme interpretação de Michael C. Hall. O ator prova mais uma vez ser um artista de mão cheia, e muitos anos antes de entrar na série que iria definir a sua carreira (Dexter) já mostrava um espectro de emoções completamente fora do normal. Foi a maior surpresa para mim ao ver esta série. O outro destaque vai para Frances Conroy que consegue passar uma estranha empatia por uma mulher completamente amargurada na sua solidão e um quase sentimento de abandono por parte dos filhos.
Existem alguns aspetos menos positivos, como alguns episódios mais monótonos e sem qualquer tipo de cor e dinâmica que tornam algumas partes das temporadas aborrecidas.
A série, ainda assim, funciona porque consegue canalizar nas suas diferentes personagens formas muito diversas de lidar com a vida e formas muito diversas de lidar com a morte.
A série ficou mundialmente conhecida pelo seu final (que falarei mais abaixo) que consegue de uma forma simplesmente genial transmitir a sensação e a passagem da série em poucos minutos, como poucas conseguira. É um final completamente inesperado mas que encaixa na perfeição em toda a série. Provavelmente o melhor final de sempre em televisão.
* CUIDADO COM SPOILERS *
Como disse acima, o final da série é aclamado e foi para muita gente a razão pela qual ouviram sequer falar da série. O que aconteceu afinal de tão “especial” neste episódio final que elevou a série como um todo?
Bem, a série lida com morte em todos os episódios e é o grande tema de toda a série e nos minutos finais Claire prepara-se para viajar e ir em busca do seu sonho, minutos antes Claire tira uma foto à família toda e o fantasma de Nate (falecido episódios antes) avisa-a “Não podes tirar uma fotografia a isto, isto já passou” e com essa frase na mente de como tudo é passageiro e como todos estamos aqui nessa mesma passagem. Claire viaja no seu carro e conseguimos ver o futuro de todas as personagens e como todas elas morrem, não só as principais como as mais secundárias, conseguimos ver toda a gente a morrer e depois de Claire morrer também, regressamos de forma brusca ao presente e temos a visão de Claire jovem a ir encontrar o seu futuro quando foi nos já apresentado o final de cada um. Foi o final mais brilhante que vi em séries, principalmente pela forma como honra o tema de toda a série e nos dá um sentimento de luto para todas as personagens. É exatamente assim que uma série deve pensar o seu final e é merecidamente um marco na televisão.
Deixo por fim os 5 melhores episódios para mim:
S04E01, “Falling Into Place” – Após a morte de Lisa no final da terceira temporada, todo o build up estava feito e este episódio conseguiu ainda assim elevar todas as expectativas. Um episódio perfeito com desenvolvimentos de todas as personagens e a melhor atuação de Peter Krause.
S05E12, “Everyone’s Waiting” – O marcante final que coroa a série e que a tornou uma referência para muitos. Nada a acrescentar, um final simplesmente genial.
S03E13, “I’m Sorry, I’m Lost” – Um final de temporada arrepiante com Nate mais uma vez a ser o centro da tragédia e do terror com um culminar de várias situações e revelações chocantes.
S03E11, “Death Works Overtime” – Um episódio marcante pois imensas mortes começam a acontecer e “enchem” a funerária. É um episódio que se distingue de todos os outros na série e que ainda com a premissa original trouxe imensas cenas de intensidade e inteligente “foreshadowing”
S05E10, “All Alone” – No seguimento da chocante morte de Nate, a família prepara o seu funeral e é um episódio completamente devastador mas poderoso em simultâneo por toda a carga dramática que oferece a todos os membros da família.