O Rugido de um Ferrari

Ferrari, o cavallino rampante de Maranello. Nenhuma marca é mais emblemática para o desporto automóvel, nem o incorpora melhor. São máquinas, obras de arte mesmo e não carros, criadas com uma paixão que poucas marcas atingem. Já foi dito e comprovado várias vezes que um motor da Ferrari não faz barulho, toca música (Herbert von Karajan). São carros que ou se adoram, ou se detestam. Apesar de estar mais ligada à Fórmula 1, o desporto rei do automobilismo e onde a Ferrari fez o seu nome, também participou nos campeonatos de endurance, ganhando algumas das corridas mais importantes do campeonato.

Desde que foi fundada em 1947, que a receita pouco, ou nada mudou. Dois ou quatro lugares, tracção traseira, sempre a gasolina e um motor com oito, ou doze cilindros, que pouco ou nada varia, mas que simultaneamente é inovador e que é considerado por muitos a alma de um Ferrari. Recentemente apresentou-se ao mercado com um sistema de tracção às quatro rodas inovador e com um super-desportivo híbrido, provando que está atenta à concorrência, mas o que representa um sistema híbrido para um Ferrari?

Antes de mais, tenho de me confessar: regra geral, detesto qualquer carro que apresente um sistema híbrido. Não por serem híbridos em si, mas por não funcionarem de uma maneira que, a mim, me parece a mais correcta. Há, no entanto, duas excepções, Porsche 918 Spyder e o McLaren P1, pois permitem que o modo eléctrico seja usado, enquanto as baterias são carregadas pelo motor que funciona ao ralenti. Num Ferrari, já muito foi dito sobre a inclusão de um sistema híbrido. Há quem ache que é o futuro da marca, há quem ache que é uma heresia, pois um Ferrari deve ser só a gasolina, e há quem não se importe com isso, mantendo a reserva de que o carro continua a ser fiel aos princípios da marca. Os carros de Fórmula 1 já usam sistemas híbridos e os de protótipos de Le Mans também. Será assim tão absurdo começar a pensar em desportivos e super-desportivos com um sistema híbrido a auxiliar a potência? Estarão os desportivos tão acima dos monolugares de Fórmula 1 que não possam usar sistemas híbridos? Não, não estão. Devemos começar a usar sistemas híbridos também nos desportivos, porém, devemos também assegurar que os mesmos não percam o espírito da marca. Não queremos um Ferrari sensato, queremos um Ferrari selvagem, que com o mínimo toque de acelerador ruja com todo o motor.

Enzo Ferrari disse uma vez que Ferrari não é um carro, é um estilo de vida. É uma paixão que não se explica, é uma maneira diferente (de relembrar que na explicação do sistema de tracção às quatro rodas apresentado pela Ferrari existiam as palavras “mais ou menos alinhado”), mas que resulta de fazer coisas. É ter uma máquina que cospe fogo, é ter uma voz na nossa cabeça que nos segreda “se cometeres um erro mato-te” (dizia-se que, se nos sentíssemos seguros num Ferrari, é porque não o estávamos a conduzir bem), mas que, ao mesmo tempo, nos põe um sorriso parvo na cara. É ter um carro que, apesar de moderno, evoca sempre o passado e é guiar 500 km pelo simples prazer de ouvir o motor a funcionar.

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