Euro 2016 à portuguesa

Portugal fez história ao apurar-se pela sexta vez consecutiva (sétima no total) para uma fase final de um Campeonato Europeu de Futebol. Além disso, conseguiu o recorde de, nas sete participações, ter sempre conseguido o apuramento para a fase a eliminar. A juntar a isto tudo, há o facto de estarmos nas meias-finais pela quarta vez e na final por duas vezes em cinco edições. Será assim tão pouco para um país pequeno como o nosso? Não é, mas como bons portugueses que somos, nunca estamos satisfeitos.

Prova disso, foi a 1ª fase, que prometia muito, já que o grupo, teoricamente, era acessível (provou-se que não era bem assim). “Ronaldo & Companhia” chegaram a França com a responsabilidade de serem campeões, imposta por Fernando Santos, desde que ocupou o lugar deixado por Paulo Bento. Treinador esse, que abandonou o cargo após a “humilhante” derrota, logo no primeiro jogo da qualificação, frente à Albânia por 1-0.

O “engenheiro do penta”, como ficou conhecido entre os adeptos portistas, pegou na equipa e nos sete jogos da qualificação obteve… sete vitórias! Portugal conseguiu assim o tão desejado apuramento para o Europeu gaulês.

Bem, depois com a competição a sério e um grupo constituído por Hungria, Áustria e Islândia, nem o mais pessimista adepto imaginaria o que estava para vir.

Logo no jogo de abertura, Portugal cedeu um empate a uma bola, frente a uma estreante equipa nórdica, apesar de terem rematado por 27 vezes. Não sendo um mau resultado, deu para baixar as expectativas. O povo luso começou a achar um grande disparate o facto de o selecionador dizer que só regressava a 11 de Julho, após a final. E a ideia acentuou-se com o segundo empate no segundo jogo, desta feita frente à Áustria. A equipa portuguesa mostrava muita vontade, voltando a rematar muito, efetuando, desta vez, 23 remates na totalidade, mas, novamente, com eficácia nula, acabando o jogo empatado a zero.

Com um arranque abaixo do desejado, a seleção lusa partiu para o último jogo da fase de grupos com as contas por fazer, como é hábito. Frente à Hungria, podemos dizer que a sorte virou as costas às cores lusas. Sofrer dois golos com ressaltos e ter que correr atrás do resultado, nunca é fácil. Porém, aí apareceu Ronaldo ao seu melhor nível, com dois golos, um deles, um grande golo de calcanhar. Portugal acabaria por obter o seu terceiro empate (3-3) em três jogos e que conjugado com a vitória islandesa frente à Áustria, “atirou-nos” para o lado teoricamente mais acessível do quadro dos 1/8s final.

No primeiro jogo do “mata-mata”, Portugal enfrentou a Croácia, uma equipa recheada de estrelas como Modric, Rakitic, Mandzukic, entre outros. Com uma estratégia de dar a bola ao adversário, tapando todos os caminhos para a sua baliza, a seleção tentava equilibrar o jogo com as armas que tinha, em rápidas transições ofensivas. Apesar de alguns sustos pelo meio, as coisas acabaram por correr bem. E aos 27 minutos do prolongamento, deu-se o “golpe de sorte”, com a bola a embater no poste direito da baliza de Patrício e na jogada seguinte, numa rápida transição ofensiva, CR7 remata para uma boa defesa de Subasic, que, no entanto, deixa fugir a bola para Quaresma, que só teve de empurrá-la de cabeça, para dentro da baliza. Estavam abertas as portas dos 1/4s de Final. Contudo, não acabou a partida sem antes, a Croácia ter pregado mais um valente susto, mas a qualificação estava garantida.

Seguiu-se a Polónia e as coisas não podiam ter corrido pior, com o golo de Lewandowski, logo aos 2’. Com a equipa lusa amarrada, só um remate de Renato Sanches, inesperado, restabeleceu o empate, pouco depois da meia hora. A partir daí, o jogo equilibrou e houve necessidade de um prolongamento, novamente. Não era novidade para nenhum dos dois conjuntos, pois ambos já tinham passado por essa experiência na eliminatória anterior, tendo, inclusive, os polacos decidido a passagem nas grandes penalidades. E nesse período, pouco ou nada aconteceu, adivinhando-se a decisão por grandes penalidades (a segunda para a Polónia). E neste item, Ronaldo deu o exemplo, marcando a primeira, com o miúdo Renato Sanches a pedir para marcar a segunda e a não falhar. E as coisas seguiram até que Kuba Blaszczykowski permitiu a defesa a Patrício, deixando a decisão nos pés de Ricardo Quaresma, que não falhou e lançou-nos para as semifinais.

Estava dado o mote para uma campanha gloriosa em terras gaulesas. Portugal tinha pela frente uma equipa do País de Gales, que não sendo acessível, era uma equipa a quem poderíamos ganhar. E assim foi. No entanto, com uma primeira parte muito lenta e sem ideias, dava a sensação que o prolongamento era um destino ao qual não fugiríamos. Até que apareceu o “capitão CR7” a saltar nas alturas e a fazer um cabeceamento indefensável, aos 50’. E três minutos volvidos, Nani carimbou a passagem para a grande final de Saint Denis frente aos anfitriões. Era “apenas” mais um reencontro frente a um conjunto que não deixava boas memórias.

Muito se falou, com muitas provocações vindas do lado francês, muitas estatísticas a fazer lembrar que nada jogava a favor do lado luso… exceptuo a possível sobranceria gaulesa. E assim a equipa entrou numa final, com o mundo a olhar para nós como um “David” frente a um “Golias”. E verdade seja dita, o selecionado luso entrou muito na expectativa e pior ficou com a lesão de Ronaldo, que teve que ser substituído por Quaresma. A equipa perdeu completamente o norte e só um Rui Patrício em dia, sim, salvou Portugal de uma derrota certa, com quatro grandes defesas, ao longo dos noventa minutos.

Os comandados de Fernando Santos tentavam sair em contra-ataque, mas poucas oportunidades tiveram para tal. Só a partir da entrada de Éder é que Portugal conseguiu ganhar bolas na frente, com o avançado a ter um papel fundamental, segurando o esférico e ganhando faltas. A partir daqui, o jogo equilibrou e chegou ao fim do tempo regulamentar como tinha começado, ou seja, com nulo no placard. No entanto, não nos livrámos de um grande susto já em tempo de descontos, com Gignac a atirar ao poste depois de ter sentado Pepe, um dos melhores centrais da competição. E veio o prolongamento, pela terceira vez em quatro jogos a eliminar. Aí, a França acusou falta de frescura física, muito pelo facto de ter tido menos um dia de descanso em relação ao adversário. Assim nesse período, os “descendentes de Viriato” mostraram maior poder físico e muito querer, acima de tudo. E foi desta forma que apareceu o herói improvável, com um golo de levantar uma nação inteira… ÉDER!

Com este nome se escreve a mais bela história do futebol português. Obviamente, não é o único herói, porém, é o rosto mais visível de tal façanha. Sendo, talvez, o nome menos consensual dos 23, mostrou que estava lá para ajudar, sem ligar a críticas e piadas de um país que o via como um mal-amado. Verdade seja dita, mesmo que não acreditemos em astros ou algo do género, tudo parecia alinhado para sairmos vencedores. Ronaldo lesionou-se, é verdade, mas depois Rui Patrício defendeu tudo o que era possível, até o poste ajudou já nos descontos e, finalmente, a entrada do “patinho feio” que virou “cisne”. Portugal chegou ao topo da Europa no desporto-rei… tenhamos orgulho!

 

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