Alexandre Severo foi um fotógrafo brasileiro, nascido em Recife no ano de 1978 e que partiu cedo demais num acidente aéreo em 2014.
Conhecido pelo seu olhar sensível e tecnicamente apurado, ganhou vários prémios nacionais e internacionais e expôs trabalhos no Tate Modern em Londres e também publicou fotografias na revista Time.
Produziu vários trabalhos e ensaios, como é o caso do trabalho Amor de Verdade de 2011, onde usou a intemporal Barbie e o famoso Ken para criar uma alusão com os relacionamentos homossexuais.
Contudo, foi o trabalho À Flor da Pele que marcou a sua carreira, devido à singularidade do assunto captado. O ensaio consistiu em captar fotografias de uma família negra de Permanbuco, que tinha uma pequena grande peculiaridade: três das cinco crianças eram albinas!
O albinismo define-se como sendo uma anomalia genética que causa ausência ou falta de pigmentação no cabelo, nos pelos, na pele e nos olhos (fonte: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa).
Uma vez que estas crianças pertenciam a uma família negra, a falta de pigmentação despertou o interesse do fotógrafo. Assim, Severo decidiu fotografar o dia a dia desta família e das dificuldades que estas crianças passam devido à discriminação por serem diferentes e devido ao clima quente do Brasil.
Com este défice de pigmentação, o calor é um transtorno para qualquer albino e é necessário o uso constante de protetor solar para proteger a pele. Os cuidados e atenção têm de ser contínuos com um corpo tão sensível às temperaturas.
Além disso, estas crianças também sofrem com a discriminação e bullying por parte dos colegas da escola. Todos nós temos menos dos desconhecido e do que é diferente e com as crianças não é diferente. A crítica, a troça e o insulto são meios para inferiorizar quando não estamos confortáveis os outros.
Contudo e analisando as fotografias captadas, são crianças como as outras crianças. Vão à escola, correm, brincam, são risonhas, ajudam nas tarefas domésticas, comem, dormem… tudo o que as outras crianças fazem no seu dia a dia – ou pelo menos deveriam fazer. E nota-se pelas fotografias que a família é uma família carenciada, não há grandes mordomias na habitação, nas roupas ou noutro tipo de bens, mas nota-se que são crianças alegres.
“Nasceram sem cor, numa família de pretos. Três irmãos que sobrevivem fugindo da luz, procurando alegria no escuro. O mais novo diz que é branco vira-lata. Os insultos do colégio viraram identidade. A mãe cochicha que são anjinhos. Eles têm raça sim. São filhos de mãe negra. O pai é moreno. Estiraram língua para as estatísticas e, por um defeito genético, nasceram albinos. Negros de pele branca. A chance dos três nascerem assim na mesma família era de uma em um milhão. Nasceram. Dos cinco irmãos, apenas a mais nova é filha de outro pai. Esta é a história do contrário”.
(Fonte: Obvious Mag)
No fundo Alexandre Severo humanizou esta família negra com uma anomalia genética que transformou as suas vivências no local onde vivem, pois são crianças que causam curiosidade e estranheza. Só que não são crianças de outro planeta, são crianças que nasceram com o propósito de serem peculiares.
Com este trabalho, Alexandre Severo recebeu, em 2009, uma menção honrosa no 31º Prémio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.
Fonte: https://catracalivre.com.br/criatividade/homenagem-veja-fotos-de-alexandre-severo-fotografo-que-faleceu-no-acidente-aereo-de-eduardo-campos/
Fonte da imagem de destaque: https://designculture.com.br/a-flor-da-pele-por-alexandre-severo