1998: a França vencia o Campeonato Mundial de Futebol; o Quebec pedia a independência do Canadá; Portugal inaugurava a Expo’98; a Microsoft tornava-se a maior empresa do mundo e, nos EUA, Jimmy Fallon conquistava o seu lugar no Saturday Night Live. Com um stand up de 8 minutos, fez o que parecia impensável – provocou uma gargalhada a Lorne Michaels, o então produtor do SNL, com uma imitação de Adam Sandler.
Era a segunda vez que Fallon se expunha em frente aos produtores do SNL numa tentativa de conseguir o seu trabalho de sonho. A primeira aconteceu no ano anterior e não correu muito bem. Estava muito nervoso e o SNL acabou por contratar Tracy Morgan. Foi aos 24 anos que o actual apresentador do The Tonight Show, após reescrever toda a sua performance, que inclui imitações dos U2, The Cure e Alanis Morissette, a apresentou durante pouco mais de 8 minutos.
Nos anos que se seguiram, Fallon fez inúmeros sketches de humor onde imitou Enrique Iglesias, Nick Lachey (então marido de Jessica Simpson) ou Justin Bieber – ao lado de Michael Bublé -, mas era com a guitarra na mão a imitar John Meyers, Elton John ou com letras criativas sobre vários temas – “Star Wars” ou o “Dia dos Namorados” -, que se destacava e exteriorizava o seu lado mais cómico. Foi na companhia de Will Ferrell, Tracy Morgan e Molly Shannon que o comediante conquistou o seu lugar ao sol no SNL, até 2004.
Pelo meio co-apresentou com Kirsten Dunst, em 2001, o MTV Movie Awards e, em 2002, lançou o álbum “The Bathroom Wall”, com pouco mais de 35 minutos de música. Aventurou-se no cinema com “Taxi”, em 2004 – ao lado de Queen Latifah – e “Fever Pitch”, em 2005, com Drew Barrymore.
Jimmy não concede muitas entrevistas e talvez por isso seja pouco claro quais as razões das suas escolhas profissionais ou mesmo os detalhes da sua vida pessoal. Apenas uma coisa é certa: o nova-yorkino demonstrou, desde cedo, a sua queda para as imitações. Aliás, foi quando venceu um concurso de paródias na sua terra natal – Nova York -, antes de fazer a audição para o SNL, que soube que queria fazer aquilo para o resto da sua vida.
A partir de 2009, Jimmy Fallon consolidou o seu percurso profissional com a entrada no Late Night – substituindo Conan O’Brien – onde cimentou o seu tipo de programa: centrado em piadas leves, sketches, momentos de mímica, jogos e momentos de comédia musical. Iniciou segmentos virais como “The History of Rap” com Justin Timberlake, ou mesmo o conhecido “Slow Jam the News”, ao qual Barack Obama se juntou, pela primeira vez, em 2012, e mais tarde no The Tonight Show, já no final do seu mandato, em 2016.
Foi após a saída (definitiva) de Jay Leno do The Tonight Show, em 2014, que Jimmy Fallon se tornou o sexto apresentador do talk show, exigindo que o programa fosse gravado em Nova York, ao lado do seu braço direito, Steve Higgins, e ao som dos The Roots. E assim foi, em Fevereiro de 2014, aparecia um Jimmy Fallon fresco, jovial e performer de variedades, à frente daquela que ainda é a sua secretária no The Tonight Show Starring Jimmy Fallon. Foi o tom leve, a versatilidade e o à-vontade do comediante que fizeram aumentar as audiências do programa nos anos seguintes.
No entanto, em 2016, Fallon caiu do seu pedestal ou, como escreveu o New York Times: “Jimmy Fallon Was On Top Of The World. Then Came Trump”. E foi verdade, não pelo então candidato à presidência ter ganho as eleições, mas pela sua passagem como convidado no The Tonight Show. Seguindo a sua linha pouco ou nada política, Fallon fez o que (diz) “toda a gente queria fazer na altura: tocar e despentear o cabelo de Donald Trump”. As críticas e reacções negativas não tardaram nas redes sociais. Fallon era acusado de humanizar Trump, de ser brando com ele, quando tinha a oportunidade de o confrontar com alguns dos seus detestáveis comentários homofóbicos e racistas. Fallon não o fez, em vez disso fez o que sempre tinha vindo a fazer, não entrou pelo caminho político e teve uma postura leve e descontraída no qual brincou com o seu convidado. Para os fãs e não fãs do apresentador e do programa, Fallon tinha uma oportunidade de ridicularizar ou, pelo menos, confrontar o então candidato à presidência dos EUA, num momento em que quase ninguém parecia acreditar na sua vitória, descredibilizando-o.
Este episódio teve um impacto imediato nas audiências do programa: o The Tonight Show perdeu cerca de ⅕ dos seus espectadores. No entanto, Jimmy Fallon só reagiu mais tarde, explicando que não o fez para o humanizar e que compreendia que tivesse desiludido alguns dos seus seguidores, mas que os comentários nas redes sociais não iriam mudar a sua personalidade e a forma como faz humor. Só mais tarde o apresentador considerou ter cometido um erro, mas sem nunca perder a confiança dos seus chefes da NBC que se mostraram despreocupados com a queda das audiências e as críticas ao programa e ao seu apresentador. Por sua vez, Fallon nunca alimentou qualquer polémica e a verdade é que continua fiel ao seu estilo, dando seguimento aos seus jogos com celebridades, sem enveredar pelo caminho político, ao contrário dos seus colegas Stephen Colbert ou Jimmy Kimmel.
Apesar disso, o apresentador do The Tonight Show mantém-se fiel à sua fórmula de sucesso: convidar celebridades para o seu programa e criar momentos divertidos à volta de jogos ou segmentos musicais muito próximos da cultura pop e dos espectadores dos EUA. Aliás, no Top10 dos vídeos mais populares no canal de Youtube do programa, Fallon mostra o seu talento e versatilidade e desafia os convidados – como Ariana Grande, Emma Stone ou Christina Aguilera – a interpretarem músicas imitando outros cantores, como é o caso do já famoso “Wheel of Musical Impressions”. O comediante parece uma daquelas pessoas bastante acessível e de quem facilmente gostamos, sem ser preciso grande esforço para nos impressionar. Talvez seja essa a magia de Jimmy Fallon: é de riso fácil (se bem que há quem não acredite na espontaneidade das suas gargalhadas), mostrando-se sempre ultra entusiasmado com as conquistas ou até trivialidades dos seus convidados e isso é apelativo. Sabe seguir tendências e introduziu-se muito bem nas redes sociais, criando por vezes hashtags que se tornam virais. Para além disso, Fallon consegue criar entreter os seus convidados, de forma a deixá-los confortáveis, levando-os a confessar histórias que nem ele nem o público descobriria de outra forma, como aconteceu com Nicole Kidman em 2015 – vale a pena ver.
Talvez o segredo de Fallon seja aquele cliché que já ouvimos vezes sem conta, mas que continua a fazer sentido: o comediante gosta mesmo do que faz e a sua felicidade é o que nos faz continuar a gostar dele, com ou sem visão política.