O extraordinário Mr. Clint Eastwood

O cinema tem a capacidade de fazer sonhar, de levar as pessoas a cenários que não existem, mas que foram imaginados. Uma evasão que é criada com o intuito de aliviar as mágoas de cada um e puxar as rédeas de ser herói por momentos. Os actores são os escolhidos para viverem inúmeras vidas e a deles, a que é verdadeira, passa para segundo plano e reduz-se a uma mera miragem, sem luz nem cor como os homens e mulheres que conseguem ter no écran gigante.

Clint Eastwood é o super-homem que tudo consegue fazer. De cowboy inseguro a realizador implacável, não vira a cara à luta e enfrenta-a de todos os ângulos que possam surgir. De rebelde chega a maduro e mostra que os sonhos são um campo fértil e podem sempre ser atingidos. O tempo é tão relativo que nem se nota a passar. É a magia do cinema a funcionar.

Entrou num cinema, pela primeira vez, com 11 anos pela mão do pai. Criança introvertida e muito tímida, talvez o fascínio da sétima arte lhe moldasse a forma de estar na vida. “Sargento York” mudou-lhe a vida e os dados estavam lançados para sempre, uma roleta que nunca mais iria parar. Uns anos mais tarde conhece o realizador e a amizade e admiração unem-se numa aliança perfeita.

Homem dos sete ofícios, talvez instado pelas inúmeras mudanças que os pais efectuaram entre a Califórnia e o Oregon, a sua vida profissional acompanhou o mesmo ritmo. Nadador-salvador, bombeiro, motorista de camiões e o militar constam do seu currículo e deram-lhe endurance para o que se seguiria: a representação.

De figurante passou a cowboy e a vida sorriu-lhe. “Por um punhado de dólares” que os recebeu, lança-o na tela. Seguem-se “Por mais alguns dólares” e “O bom, o mau e o vilão“. A ausência de nome cria o seu natural carisma e “Dirty Harry“, com o seu olhar penetrante e frio, abre-lhe as portas do estrelato e da legião de seguidores. O insensível ganhou terreno.

Aos 40 anos, era o actor mais bem pago da indústria e o seu físico continuava a atrair inúmeras mulheres. Na parte sentimental, foi sempre muito reservado e austero, apesar de, com alguma facilidade, lhe serem encontradas as traições e escapadelas. Quanto ao verdadeiro número de filhos torna-se complicado fazer a contabilidade pois ainda há mistérios sobre os mesmos.

Quando filmava “As Pontes de Madison County“, confessou que era bem mais complicado desempenhar papéis românticos que os seus tiros, que lhe aliviam a alma. O amor fazia doer e tinha que pensar bem na verdadeira interpretação. Por isso teve a coragem de desempenhar a dureza da vida e mostrar as realidades actuais.

Entre 1986 e 1988, foi Presidente da Câmara de Carmel, o que não o impediu de realizar “O Sargento de Ferro” e “Bird“. Apesar de ter começado com os papéis de cowboy e mostrar sempre um semblante duro e determinado, é alérgico a cavalos, o que lhe dificultou muitas das clássicas cenas.

Grand Torino” custou trinta e um milhões de dólares, o que não o deixou nada satisfeito. Considerou um enorme desperdício, apesar do estrondoso êxito. Frugal e contido, ainda brincou com a situação dizendo que com esse montante teria invadido um pequeno país com resultados melhores.

Tem na sua posse quatro estatuetas, Óscares que não lhe reconheceram o valor enquanto o excelente actor que é. Dois deles são para Melhor Realizador e Melhor Filme em “Imperdoável” e “Million Dollar Baby“. Uma injustiça que se tem mantido ao longo dos tempos. Curiosamente este homem fascinante também é músico, porque teve a capacidade e a audácia de compor a banda sonora para seis dos seus filmes.

Verdadeiro realizador implacável que gosta de dirigir sem cortes, não parece estar com vontade de abrandar mesmo que a idade seja já elevada. Referiu-se a Manoel de Oliveira como um homem de aparência de sessenta anos, apesar dos 103 que já tinha. Por isso, nunca conseguirá parar aquela veia que o alimenta de curiosidade e fome de viver.

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