O acto de ser amigo, ou amiga. A interação entre duas, ou mais pessoas que envolve uma troca de hábitos comuns. Um sentimento de ligação e união por outra(s) pessoa(s). Haverá uma definição exacta para a palavra ‘amizade’? Provavelmente, não.
O século XX desencadeou uma série de transformações ao nível tecnológico, únicas na história. Especialmente, a nível dos media, que foram possíveis graças a inventos como a electricidade (do século XIX). O telefone, a rádio, a televisão, o telemóvel, a Internet mudaram para sempre o mundo. A forma como as pessoas reagiram mudou. Como tal, começou a assistir-se à criação de dependências destes meios, que, ao longo das décadas, foi aumentando. O sentimento de dependência aumentou de tal modo que, cada vez mais, os seus utilizadores se refugiam e se separam – actualmente, a nova faixa etária infanto-juvenil já se designa de “geração touchscreen”. A ascensão cibernética aliada à ascensão das redes sociais revela-se um fenómeno marcante naquilo que toca às relações interpessoais.
Uma vez que o social é uno e único, ele necessitou de, adaptando-se à tecnologia contemporânea, encontrar mecanismos, nomeadamente digitais, que conseguissem manter essa lógica “orgânica”, citando o sociólogo francês Michel Maffesoli. Na sua obra Tempo das Tribos, explica que é a vertente afectiva a principal razão de vários fenómenos, entre os quais a multiplicação das redes de comunicação.
Entretanto, nasce uma nova forma de amizade, a amizade online.
Bastando ver o ‘Facebook’, depreende-se a rápida capacidade de adicionar ‘amigos’ ao nosso perfil. Ora, porque conhecemos de outros ‘amigos’, ora através do ‘Pessoas que talvez conheças’. Nesta rede social em concreto, destaque-se o feed de notícias, que coloca em contacto com a realidade do “outro”. O sinal ‘Gosto’ revela-se mais uma maneira de unir, combinando gostos e interesses, potenciando, por conseguinte, novas interacções e novas amizades.
Agora, coloca-se em questão a ética de toda esta modernidade. Até que ponto as amizades virtuais são verdadeiras amizades, em que coexistem os valores emocionais e sentimentais partilhados entre seres sociais? Primeiro, até que ponto se consegue essa transmissão? Segundo, até que ponto o visual e o auditivo nos captam uma visão fidedigna do real social? Terceiro, até que ponto se preservam e conservam valores importantes, como o respeito, a lealdade, a confiança? Toda uma aproximação amistosa acaba por se sumir cada vez mais. O real passa a virtual, o concreto torna-se abstracto.
Porém, há algo positivo no meio de tudo isto. As verdadeiras amizades mantêm-se. O indivíduo que quer encontrar outro sabe que o quer encontrar. Esforça-se para manter contacto com ele. Com efeito, são esses que nunca se esquecem. Portanto, o avanço tecnológico também promove uma maior selecção dos amigos, contribuindo para o reforço dos laços interpessoais.
Enfim, ser amigo, neste era do digital, enfrenta vários desafios: quem devemos ter na nossa lista de amigos? Que aspectos devemos denotar dos que nos rodeiam com vista a afirmá-los como nossos amigos? Até que ponto devemos ir pelos nossos amigos? São algumas questões que ficam, em jeito de reflexão. A introspecção revela-se algo necessária. A ponderação e o uso da razão ajudam a regular a acção individual. A amizade é um sentimento, algo que perdura no tempo, pelo que persiste a necessidade de saber lidar com ele. Este é um grande desafio.