À cerca de um mês fomos confrontados com os custos de um tal altar (que afinal até eram 2), para celebrar as Jornadas Mundiais da Juventude.
Desde 1911 que Portugal é um Estado laico, logo é um país onde o Estado e a Igreja são poderes separados, e onde está garantida a proteção de crença e as liberdades religiosas de todos.
Foi então com grande espanto, que eu, e provavelmente grande parte da malta que por aí anda, assistiu, boquiaberta, que iriamos desembolsar (nós contribuintes) qualquer coisa como 5 milhões de euros (5.000.000,00€), para uma porcaria de um mono, ali para os lados da Bobadela, onde meia dúzia de padres, e provavelmente o Papa (pois parece que não há assim tanta certeza que venha à festa, está previsto, mas ainda não totalmente confirmado, pelo que se ouve), iam pregar uns sermões a meia dúzia de gaiatos e suas famílias.
Mas como alguns padres são ‘’chiquésses’’ não iam colocar suas patitas e batinas engomadas na Bobadela, logo ficariam bem alocados ali para os lados do Parque Eduardo VII, esse antro de prostituição noturna, aproveitando assim para espalhar a palavra do Senhor a esses seres devassos que se atrevem a vender prazer, muitas vezes por troca de uma dose de qualquer droga marada, no parque e ruas adjacentes.
Vindo toda esta barracada a público, lá veio o presidente Moedas (com sua voz de ventríloquo), tentar emendar a asneirada, mas cá para mim ainda fez pior. Parecia um puto a fazer uma birra, a dizer que isto ia ter um retorno financeiro brutal para o país, que tanto pode ser 1 milhão, ou 20 milhões ou 100 milhões… na realidade pode ser tudo ou nada, porque ninguém faz ideia, só têm por base o que aconteceu noutros países.
Outro dos argumentos para toda esta estupidez é que depois o palco fica para grandes eventos. Ainda vamos ver o José Castelo Branco (atenção que eu adoro o JCB suas ‘’bitches’’) a dar um show ali para os lados da Bobadela, ou qualquer outra grande estrela internacional quem sabe?
Depois da pressão da sociedade, lá decidiram que os contribuintes iam pagar o palco da Bobadela, que afinal ia custar 2,9 milhões de euros (o que continua a ser uma exorbitância), e a Igreja Católica, pobrezinha que é, ficaria com o encargo do Palco no parque Eduardo VII, que na realidade será pago pelos putos que vêm rezar, pois o pacote base são 145€. Pois é meus amigos, os putos vão pagar para vir às Jornadas Mundiais da Juventude. Acham que era de borla, não? Querem um lugarzinho no céu? Paguem! Querem ser voluntários? Paguem… E curiosamente há fila de espera!
Se fizermos uma conta rápida, considerando o tal milhão de jovens que a organização perspetiva, a 145€ por cabeça, são 145 milhões de encaixe financeiro para a igreja. Ah, pois, é que os jovens vêm para rezar e cantar o ”Deus está aqui” e não para se enfrascar no Urban ou dar um salto ao Bairro Alto.
Todos os dias saem novas notícias, completamente bizarras sobre este assunto, ora que vão ter 150 confessionários, ora que vão ter casas de banho construídas por reclusos. Na realidade já há uns dias que não falam no assunto (saíram notícias bem mais graves desta ‘’Igreja’’), mas os contribuintes (otários) já ficaram a arder com mais 2,9M€, que podiam ser aplicados na melhorias de outras coisas banais, assim como a saúde ou educação… Uma dessas ‘’merdices’’!
Pergunto-me, no meio de toda esta loucura que se instalou, e se qualquer outra entidade religiosa (Judeus, Muçulmanos, Budistas, Ubandistas, Reikianos, Hinduístas) quisesse fazer o mesmo?
Imagine-se as Jornadas Mundiais dos jovens Budistas, onde o Estado Português e uma qualquer câmara municipal, iriam usar o dinheiro dos contribuintes para colocar um gongo gigante e construir uma réplica de um templo ao estilo dos ‘’Jovens Heróis de Saholin’’. Era viável? Neste momento claro que sim, qual seria o argumento para recusar? Se uns podem, os outros também.
A politica e a Igreja Católica, continuam de mão dada, e ao que parece cada vez mais.
No entretanto, a comissão independente, que foi criada em 2021, para investigar os abusos sexuais na Igreja, apresentou os resultados do estudo que levaram a cabo.
Tiveram 4.800 denuncias, sinceramente, ao contrário do Presidente da República, para mim, mesmo que fosse só 1 caso, já era demais. O senhor em questão achou que 400 casos era pouco, quando chegou o resultado ficou entupido e sem resposta!
Os relatos dos denunciantes são hediondos, padres e outros membros (do clero e civis), aproveitaram-se da sua posição, perante as crianças frágeis, e protegidos por toda a sua capa da Santa Sé, saciaram as suas vontades da maneira mais reles, ordinária e criminosa. Traíram a sua confiança como Judas traiu Jesus.
Massacraram as crianças, da mesma forma que massacraram as mulheres e os não católicos durante toda a sua existência.
Lembremo-nos dos autos de fé, as fogueiras a crepitar, com mulheres e crianças lá dentro e o povo a assistir.
Não consigo entender as paroquianas, que vão ao domingo à missa (ai José Cid, tens tanta razão) a defender os padres suspeitos de abuso! E se fossem as filhas/filhos ou netos/netas delas? Também teriam a mesma reação? Não creio, mas realmente pimenta no cu dos outros é refresco e a reação desta gente revela isso mesmo!
Da parte da Igreja, a reação era a esperada! Negar, negar tudo, tal como Pedro negou Jesus! Indemnizações às vítimas? É uma afronta, diz um Bispo (o maior de todos)! Suspender os padres? Nem pensar, diz outro Bispo! Afastá-los das crianças? É um ultraje! Isto dito por senhores, celibatários que vestem vestidos vermelhos e brancos e acham que as mulheres são seres inferiores e que um abuso a uma criança é um pequeno desvio que deve ser perdoado.
É esta a sociedade em que vivemos, revestida de um patriarcado decadente, que esconde as suas necessidades debaixo de um manto de mentiras e se mostra muito puritana.
Pois eu acredito numa outra Igreja, aquela que respeita todos por igual, que aceita diferenças, que protege os mais fracos!
Acredito na versão do amor, aquela em que Jesus era um homem normal que se perdeu de amores por Maria Madalena, e que na realidade fornicaram à grande e tiveram um rol de filhos, foram felizes, ao contrário destes tristes que por aqui andam a violar criancinhas.
Tenho nojo desta igreja que hoje nos apresentam, que interpreta a bíblia, um livro maravilhoso, de forma castradora, como se tudo o que fazemos fosse mau e que, no escuro dos seu pensamentos perpetua os crimes mais repugnantes.
Isto é apenas a ponta do iceberg, pois estes crimes de pedofilia não se resumem à igreja, mas é um grande avanço, esperemos que a justiça não se deixe corromper e faça o seu trabalho.
Como membro da sociedade, tenho vergonha pelo estado a que isto chegou e de não termos, em tempo útil, ajudado estas e outras crianças.
Afinal, crescemos com o mito de que os comunistas comiam criancinhas, na realidade quem come as crianças são homens maus e sem carácter.
Fica o apelo, se desconfiarem de casos suspeitos, seja de crianças ou não, denunciem, pois já chega de estarmos parados a olhar, sem que na realidade estejamos a ver o que está a acontecer.
Este artigo está só incrível!
Sinto que estou a despejar aqui tudo o que me vai na alma! Grata Cátia Félix pela tua escrita, grata por mostrares o que tantos de nós quer manifestar e, ou não tem coragem, ou não tem habilidade, ou tem receios e medos, ou por outro motivo qualquer.
Está na altura de nos erguermos, nós povo e lutarmos com as nossas armas, palavras e amor, contra todos estes demagogistas que insistem em manipular, ostracizar todos o que contra eles atuam.
Política e Igreja, cada vez se mostram mais sujas e decadentes, creio que esta era Patriarcal está com os dias contados. Que assim seja! Vou partilhar,
Que texto brilhante Cátia . Deste voz a tantas de nós que ainda sofremos na pele de tantas crenças impostas por este sistema patriarcal. Deste voz às crianças que um dia foram, ou tentaram ser e que hoje ainda sofrem por tanta crueldade de que foram vítimas. Sim vítimas, não adianta tentarem tapar o sol com a peneira. Deste voz inclusivé àqueles que fingem que está tudo bem, que olham para o lado e não se querem pronunciar para não parecer mal. Também acredito neste Jesus de que falas…neste Jesus que não castiga, que não é castrador. Este mesmo Jesus que nos ensinou algo muito maior – o Amor. O Amor que cuida, nutre, transforma e que se pratica nos mais pequenos gestos. E a Igreja deveria estar edificada neste pilar. Tudo o resto está no que a tua alma passou para o papel. Gratidão imensa. Continua este teu trabalho que acrescenta tanto neste mundo. Bem hajas.
Que texto brilhante Cátia. Deste voz a tantas de nós que ainda sofremos na pele de tantas crenças impostas por este sistema patriarcal que se tenta disfarçar. Deste voz às crianças que um dia foram, ou tentaram ser e que um dia foram, ou tentaram ser e que hoje ainda sofrem por tanta crueldade de que foram vítimas. Sim vítimas não adianta tentarem tapar o sol com a peneira. Deste voz inclusivé aqueles que fingem que está tudo bem, que olham para o lado e não se querem pronunciar para não parecer mal. Também acredito neste Jesus de que falas… que não castiga, que não é castrador e que viveu uma vida terrena experenciando com as pessoas. Este mesmo Jesus que nos ensinou algo muito maior – o Amor. O Amor que cuida, que nutre, que transforma e que se pratica nos mais pequenos gestos. E a Igreja deveria estar edificada neste pilar. Por isso que se levantem as vozes a dizerem basta. Basta de toda esta farsa numa sociedade que não olha a meios para chegar aos seus objetivos maléficos. Gratidão imensa por teres passado para o papel aquilo que a tua alma te pediu. Continua este teu trabalho que tanto acrescenta no mundo. Bem hajas.
Não obstante o facto das barbaridades cometidas por uma igreja que na minha opinião é a origem da ainda sociedade patriarcal em que vivemos, com todas as suas particularidades desprezíveis e inaceitáveis, não me parece de todo justo ( mesmo que de forma irónica), carimbar os contribuintes de otários, e reduzir a nobreza e importância que áreas como a educação e saúde têm para a sociedade a “merdices”. Infelizmente ainda existem culturas e países em que não podemos sequer expressar a nossa opinião, e por isso acho que devemos utilizar esse “privilégio “ de uma forma mais eloquente e limpa.
Porque a mim como cidadão e contribuinte , também me indignam as incongruências pornográficas e anedóticas de milhões gastos em ostentações e malabarismos financeiros das elites, sejam elas as políticas, as da igreja, do futebol, das TAP’s e dos BES’s da vida. Bem como aquelas mais cotidianas, como as comissões abusivas ( para tudo e mais alguma coisa) , que os bancos nos cobram sem dó nem piedade.
Com todo o respeito pelo seu texto e opinião.