«Carpe Diem» – uma análise ao filme Dead Poets Society

That you are here,

That life exists and identity.

That the powerful play goes on,

and you may contribute a verse.

Leaves of Grass – Walt Whitman

Dead Poets Society é um filme dirigido por Peter Weir que estreou em 1989; reflete várias questões sociais e históricas, além de incorporar simbolismo e metáforas, que contribuem para o impacto duradouro na cultura popular ao longo dos anos.

A ação acontece:

  • durante o ano letivo de 1959, na época em que o mundo passava por transformações do pós segunda guerra mundial;
  • na fictícia academia Welton, uma prestigiada escola onde o ensino se baseia em quatro pilares: tradição, disciplina, honra e excelência, portanto uma escola tradicional e conservadora.

O filme também reflete as preocupações da geração que cresceu na década de 1980, marcada por mudanças sociais e culturais e, por isso, aborda questões de identidade e individualidade. A ênfase na conformidade na procura de profissões tradicionais pode ser vista como representação da mentalidade da época, em que os jovens não tinham poder de escolha e as ideias e vontades não eram ouvidas nem respeitadas pelas famílias e pelos professores.

As personagens principais do filme são um professor de inglês – John Keating – e sete alunos – Todd, Neil, Charlie, Knox, Gerard, Steven e Richard. Há dois nomes no elenco que certamente conhecem: Robin Williams que interpreta Mr Keating e Ethan Hawke que interpreta o jovem Todd. Este filme contribuiu para elevar a carreira de Robin Williams, que entregou uma representação memorável, mas gostaria de destacar também a performance de dois dos jovens: Todd e Neil, que representaram com simplicidade aspetos tão controversos. Keating desafia as convenções pedagógicas tradicionais, inspirando os alunos a abraçar a poesia e estimulando-os a formar uma sociedade e a questionar a autoridade e a conformidade, tornando-se uma figura inspiradora para os alunos.

O nome do filme e a sociedade secreta com sessões de poesia criada pelos alunos representam a ideia de que a poesia e a autenticidade podem transformar vidas. A mensagem é clara: «Carpe Diem», ou seja, «Aproveitem o dia». Keating utiliza poetas renomados, como Walt Whitman, para inspirar os alunos a explorar as próprias vozes e a compartilhar as emoções e os pensamentos mais profundos. Os alunos são encorajados a enfrentar o medo, a incerteza e a pressão social, através das palavras. No final do filme, os estudantes homenageiam o professor, subindo às mesas e declamando «Oh Captain, My Captain», uma referência ao poema de Whitman, que utiliza a metáfora de uma viagem marítima para expressar a sensação de perda e luto pela morte de Abraham Lincoln, que foi como um capitão-líder que guiou uma nação. O poema é um tributo a este presidente e no filme representa o impacto que Keating nas vidas daqueles jovens.

O filme é conhecido por uma cinematografia atmosférica que amplifica os temas e contribui para aprofundar a experiência emocional dos espetadores:

  • ângulos de câmara que criam diferentes sensações e significados: ângulos baixos para mostrar os alunos a olhar para o professor com admiração, destacando o respeito pela personagem, e ângulos mais amplos para capturar a grandeza da escola e o peso das tradições;
  • iluminação suave e difusa que cria um ambiente acolhedor e nostálgico nas cenas da sala de aula, onde Keating inspira os alunos, e iluminação mais dura nas cenas que mostram a pressão da sociedade, acentuando o conflito entre a liberdade de expressão e as expetativas sociais;
  • elementos visuais simbólicos: os retratos na escola representam a tradição e a conformidade, enquanto a câmara volta a atenção para os retratos dos antigos alunos que outrora foram jovens, mas agora estão mortos, destacando a passagem do tempo e a fugacidade da juventude;
  • sountrack por Maurice Jarre: música melódica, evocando uma sensação de nostalgia, idealismo e juventude, acentuando os momentos emocionais do filme, como as cenas em que os alunos recitam poesia ou confrontam as pressões da sociedade;
  • escolha significativa de música: há uma cena em que aparece a música clássica «Ode to Joy» de Ludwig van Beethoven, que celebra a alegria, a união e a beleza da vida, temas fundamentais ao longo do filme;
  • uso inteligente do silêncio: há momentos em que o silêncio domina, enfatizando a intensidade emocional das cenas, como na homenagem ao professor.

O filme captura a essência da educação que vai além da preparação para a vida profissional e explica a importância de explorar as nossas paixões. No filme, a poesia é mais do que palavras no papel; é uma ferramenta para descobrir a alma humana, para questionar as normas da sociedade e para inspirar a mudança. Dead Poets Society continua a inspirar gerações de espetadores, porque lembra-nos da importância de viver com autenticidade, e de educadores, porque questiona os métodos tradicionais de ensino e encoraja a liberdade de expressão e o pensamento crítico, valorizando a curiosidade e a criatividade. O filme inspira-nos também a seguir os nossos próprios desejos sem medo de desiludir os outros e a ser resiliente face a obstáculos para encontrar o nosso próprio caminho.

Existem ainda outras lições importantes que o filme transmite:

  • «Há momentos para ser ousado e momentos para ser cauteloso.» nunca anular a nossa maneira de ser e defender sempre aquilo em que acreditamos, mesmo que algumas pessoas não concordem, critiquem e se afastem, e quando queremos algo, não há maneiras fáceis de o conseguir, temos que enfrentar os desafios;
  • «fui para os bosques viver de livre vontade para sugar o tutano da vida.» – dar entusiasmo e aproveitar a vida, explorar todas as oportunidades e experiências, saborear cada aspeto da existência, viver plenamente sem arrependimentos e absorver todas as aprendizagens que a vida oferece; não ser meros espetadores na vida, mas atores ativos que tornam a vida extraordinária.

Agora pergunto-vos:

  • O que dá sentido à vossa rotina?
  • O que dá propósito à vossa vida?

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico.

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