Estava eu repimpada a passar pelas brasas numa viagem de metro, quando se sentam quase ao meu colo duas senhoras idosas. Até aqui tudo bem, porque até estava frio e assim fiquei mais aconchegada. O que me chamou a atenção foi o teor da conversa. As seniores discutiam ferverosamente que, nos tempos que correm, as pessoas têm medo da sua própria grandeza. Confesso que abri um dos olhos e os ouvidos despertaram. No tempo delas, diziam, lutava-se por causas e ideologias e que actualmente se cultiva a mediocridade.
Os encontros de 1º grau com as testemunhas de Jeová deram os seus frutos e dei por mim a lembrar-me do complexo de Jonas. Trata-se de uma parábola bíblica na qual Deus aparece ao profeta e pede que este divulgue a sua palavra numa grande cidade. Jonas, atemorizado por tal responsabilidade, foge de barco para uma cidade no sentido oposto. Durante o trajecto, o barco quase naufraga e os tripulantes ao saberem que Jonas tinha desobedecido à palavra de Deus, culpabilizam-no e atiram-no ao mar. Ele acaba por ser engolido por uma baleia e, durante 3 dias, ora e pede a Deus que lhe perdoe e dê nova oportunidade. Ao fim desse tempo, é largado numa praia. O profeta então retoma à grande cidade para cumprir a pregação que havia negado anteriormente e, assim, cumpre o seu destino.
Já Thoreau confidenciava, em Walden ou a Vida nos Bosques, “fui para os bosques porque pretendia viver deliberadamente, defrontar-me apenas com os factos essenciais da vida, e ver se podia aprender o que ela tinha a ensinar-me, em vez de descobrir à hora da morte que não tinha vivido.”
É necessário reconhecer que grande parte das nossas escolhas são baseadas no medo e que acabamos por ficar no quentinho da nossa zona de conforto e segurança, ficando quem sabe aquém do nosso real potencial.
O tempo passa, e a vida também. É importante que saibamos estar presentes dentro de nós mesmos, para que as grandes oportunidades não nos passem ao lado.
Com um brilhozinho nos olhos saí do metro, e senti que tinha em mim todos os sonhos do mundo.