Entramos numa corrida de alta velocidade atrás do último gadget, da última peça de roupa que irá revolucionar o mercado ou da nova série que todos veem. Entramos numa corrida para não ficarmos fora de moda. E porque é que simplesmente não paramos de correr? Provavelmente, pelo medo de ficarmos para trás.
Procurando uma definição, percebemos que “andar na moda” é “estar a par das últimas tendências (culturais, musicais, de vestuário, etc.), vestir o que se usa no momento”. Isto significa que para andar na moda é necessário acompanhar as últimas tendências, mas durante quanto tempo as tendências serão as últimas tendências? Com que velocidade teremos que correr para não sermos apanhados fora de moda?
A moda tem memória curta, é efémera, e a velocidade a que surge uma nova moda é simplesmente extenuante. O desejo pela novidade parece ser uma constante nesta sociedade moderna. O novo está na moda, mas rapidamente deixa de ser novo e passa de moda, dando lugar a outro novo que em breve dará o seu lugar ao seguinte. É um ciclo vicioso. A lógica do mercado alimenta-se de mortes induzidas, criando para tudo um ciclo de vida demasiado curto. Nesta lógica, tudo é descartável.
Voltemos, então, ao início: porque alimentamos este ciclo? O pensamento Zygmunt Bauman (1925-2017) poderá oferecer-nos uma leitura. A sociedade contemporânea é por ele denominada de “líquido-moderna”. Tudo é fluido e transitório. Por isso, como é explicado num dos livros de Bauman, Vida Líquida, “a vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incerteza constante”.
“As preocupações mais intensas e obstinadas que assombram esse tipo de vida são os temores de ser pego tirando uma soneca, não conseguir acompanhar a rapidez dos eventos, ficar para trás, deixar passar as datas de vencimento, ficar sobrecarregado de bens agora indesejáveis, perder o momento que pede mudança e mudar de rumo antes de tomar um caminho sem volta. A vida líquida é uma sucessão de reinícios, e precisamente por isso é que os finais rápidos e indolores, sem os quais reiniciar seria inimaginável, tendem a ser os momentos mais desafiadores e as dores de cabeça mais inquietantes.”
“A vida líquida é uma sucessão de reinícios”. Predomina o desapego e a incapacidade de criar vínculos. Até as pessoas precisam de se submeter a constantes mudanças para que não fiquem obsoletas. Devem mudar constantemente e seguir as tendências para não serem ultrapassadas. Parar parece não ser uma opção.
“As preocupações mais intensas e obstinadas que assombram esse tipo de vida são os temores de ser pego tirando uma soneca, não conseguir acompanhar a rapidez dos eventos, ficar para trás”. Provavelmente, por isso, alimentamos o ciclo. Temos medo de ficar para trás, de não acompanhar velocidade com que tudo sucede, de sermos ultrapassados. E em resposta ao medo entramos numa corrida de alta velocidade simplesmente para não ficarmos fora de moda.
É engraçado, contudo, como o passado, por vezes, também volta a estar na moda, sendo usado como inspiração em diversas áreas. Não esquecendo que esse regresso ao passado transporta consigo uma série de significados, fica, então, a questão: será que queremos voltar a um tempo em que tudo era menos liquido? Estaremos à procura de um porto seguro para esta vida de constante incerteza?