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Viajar é aprender

Desde sempre que o sair de casa me chamou a atenção. Nas férias grandes ia para casa de familiares, que era bem longe da minha e aí passava o Verão. Como era numa zona onde nasceu o turismo moderno, habituei-me a lidar com pessoas de outras nacionalidades e as suas conversas fizeram com que eu me interessasse pelos seus países e culturas.

Felizmente que tive a sorte de ter uma “queda” para línguas e aprendia com facilidade. Aos 3 anos já tinha conversas em inglês e o francês parecia-me tão fácil que devorei aquilo tudo em 3 tempos. As outras que foram surgindo eram mais complicadas, mas, como nunca fui de virar costas a desafios, enfrentei-as de frente e vamos a isso.

Mesmo ali ao lado estava o país vizinho, tão apetecível, a chamar e o apelo era tão forte que comecei por aí. A língua não era nenhuma barreira, até porque tinha familiares espanhóis e praticava com frequência. E foi o começo da aventura. De barco, a dois passos de “casa” e tudo tão diferente! Os cheiros, as pessoas, a maneira de estar, os horários e as posturas. Ganhei o hábito de lá ir comprar calçado. Não sei o porquê, mas as espanholas têm vergonha que se saibam que são mulheres de pés grandes e aldrabam os números.

Como era possível que a uns míseros quilómetros tudo fosse tão especial? Os letreiros eram mais luminosos, mais apelativos e tudo parecia ter um íman, porque eu não parava de rodar e rodar e estava fascinada. Podia dizer que eram coisas de miúda, mas não é assim que as coisas acontecem. Este foi só o início das várias fascinações que se sucederam.

De cada vez que saía, voltava mais rica, com novos conhecimentos, com novas ideias, com a cabeça e os pés irrequietos. Não conseguia parar. Começa a tornar-se um vício. Não eram as recordações físicas que importavam, mas sim as experiências, as conversas que tinha com as pessoas, as refeições que experimentava e os olhos que se enchiam de novos horizontes.

Algumas das vezes traçava um roteiro e tentava segui-lo, mas, rapidamente se tornava obsoleto, porque o que me era dado ver superava tudo aquilo que tinha pesquisado. Ir à descoberta, de mochila às costas e com pouco dinheiro, aguça o engenho e as técnicas de sobrevivência tornam a pessoa muito mais forte. Bastava o essencial e logo se via. Claro que a idade é um facto muito importante e permite certas frescuras, mas não há nada como o desconhecido!

Com o passar do tempo e o avançar da idade, os preparativos passaram a ser outros, mas a aventura não deixou de ser a mesma. O que tem mais valor são aqueles que conhecemos no caminho, as pessoas reais, os verdadeiros seres. Umas vezes podemos conhecer outros como nós, outras vezes deparamos com pessoas totalmente diferentes. Isso é enriquecedor.

Podemos olhar para a Torre de Pisa e vimos uma torre que está torta, que não foi bem construída, porque não usaram a trigonometria de modo correcto, o que a tornou célebre, como sabemos. Porém, o nosso olhar é sempre diferente. Não é só pedra que está à nossa frente, mas também homens que a construíram, vidas que foram aplicadas em esforço. E todo o folclore das fotografias, cheias e estilo e tantos equilibristas que a querem endireitar.

Também acontece conhecer pessoas tão diferentes que nem sabem o que é a numeração romana e para que serve. É gratificante explicar, com toda a calma e verificar que nos ouvem, que querem saber. São amigos que fazemos, mesmo que nunca mais os vejamos. Podemos trocar mails, mas sabemos que eles não se esquecem de nós.

E que agradável é ficar surpreendido, ao entrar num posto de turismo, numa localidade que se descobriu por mero acaso, onde a Idade Média está perfeitamente conservada e maravilhosa e saberem que existem portugueses e oferecem um folheto na nossa língua. O Santo António, sem o saber, é um grande diplomata e continua a unir povos.

Em Espanha, país vocacionado para o turismo, o atendimento é profissional e não negam nada. Incentivam e explicam, muitas das vezes em línguas locais, o que torna ainda mais desafiante o conhecimento. Aprendemos tanto com estes momentos! Nóe chegou aqui com a sua arca. Maravilhoso! Os Mouros não conseguiram chegar aqui, porque o piso era acidentado. Ainda hoje o é e vamos até lá, imaginar as batalhas e as vitórias e derrotas de cada um.

Em Andorra mergulhamos no sonho, nos postais ilustrados e verdadeiros, nas vacas que passam as férias ao sol e nos olham com desdém. Tantas línguas que aí são faladas e a História continua a moderar. Não é só de paisagens que nos enchemos, mas também de acontecimentos, de momentos e, sobretudo da nossa maravilhosa capacidade de imaginar.

A mochila e a tenda nunca sairão de nós, de tal modo enraizadas que fazem parte do corpo. E queremos mais e cada vez mais, que já não nos satisfazemos só com aquilo. O Conde Drácula conversa ao nosso lado, os últimos países repartem connosco a sua beleza e gastronomia, entendemos o que significa unir e separar. Unimo-nos pelo mesmo objectivo e separamo-nos, porque cada um de nós tem uma vida diferente.

As redes sociais colocam todos perto, mas as experiências são únicas, pessoais e intransmissíveis. Como explicar o que se sente quando se entra num coliseu e ainda se ouvem as vozes dos que ali foram martirizados? E o sangue que nunca mais sai da nossa alma e nos remete para outros tempos que agora são considerados bárbaros?

Ouvimos George Washington a falar aos seus, a dar instruções, encantamo-nos com a beleza dos índios brasileiros, dançamos ao som da salsa e deliciamo-nos com as raridades do Belize. As favelas são reais e os bairros de lata existem em todo o mundo. Mergulhamos num rio onde as vacas são sagradas e estão ao nosso lado, meditamos com monges que acreditam no Nirvana, observamos os elefantes que comandam as manadas e descobrimos o paraíso na Terra.

Como não gostar de tudo isto? Tanto que se aprende, que se recebe, que se dá e que se arquiva. A nossa memória é infinita e tem sempre necessidade de ter mais. Descemos às profundezas, subimos as maiores montanhas, filtramos o sol com a mente e sentimo-nos tão humanos. Tantos que por ali passaram, tantas marcas que ficaram e a nossa também será importante, porque a vivemos, é nossa!

Cada viagem é uma vida nova, uma nova caravela que se aventura nos descobrimentos, que enfrenta os monstros do passado, com um sorriso nos lábios, que sabe tudo o que se passou e que quer viver, na sua pele, na sua alma, respirar todos os aromas, receber todas as chuvas e ainda querer mais e mais e nunca estar completa. A felicidade conquista-se todos os dias e viajar é uma migalha que gostamos de mastigar.

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