Depeche Mode – Devoção aos reis do synthpop

Formados em 1980, originalmente com o vocalista David Gahan, teclista Andrew Fletcher, e os versáteis instrumentistas e compositores Vince Clarke e Martin L. Gore. Inspirados na capa de uma revista francesa de moda, onde o francês dépêche, significa “despachar” e mode significa “moda”, a expressão que batizou os ingleses de Essex, Depeche Mode poderá-se traduzir como “Ultima Moda”!

Após o álbum de estreia, Clarke deixou a banda e dedicou-se aos projetos Yazoo e Erasure. Foi substituído por Alan Wilder, que viria a sair em 1994, mas ainda hoje muito aclamado pelos fãs dos DM. Muitas das vezes com batidas incessantes, com frases de cunho sombrio e melancólico numa musicalidade eletrónica e industrial. Têm-se evidenciado, desde os anos 80 com letras apaixonantes e reflexivas sobre o amor, a religião e política.

O primeiro álbum, “Speak & Spell”, lançado em 1981, teve bastante influência dos pioneiros eletrónicos Kraftwerk e do eurodisco. Ainda liderados por Vince Clarke, num registo new wave e techno pop muito crú. Obtiveram o primeiro sucesso com “Just Can’t Get Enough”, ainda hoje, um ícone da música pop eletrónica.

No ano seguinte, surge “A Broken Frame”, com letras naif e timbres exóticos, é um álbum de difícil digestão mesmo para os verdadeiros fãs. Gahan, Gore e Fletcher, recomeçaram do zero, depois da saída de Clarke. Martin assumiu-se como letrista e compositor e comparado com Clarke, revela-se um autor mais obscuro.

O 3º álbum, “Construction Time Again de 1983, já com o dedo de Alan Wilder, contratado através de um anúncio de jornal, pianista de formação e compositor de excelência, tornou-se peça chave na banda. Numa abordagem crítica, política, social, obscura e enigmática, é um álbum demarcadamente de sonoridade industrial. O single “Everything Counts”, fez furor e é considerada um dos melhores temas da banda até hoje.

Some Great Reward”, o 4º álbum dos Depeche, é um disco imprescindivel do new wave, com uma forte mistura dance pop e um realismo industrial, como “People Are People” ou “Master And Servant”, esta acerca de uma relação sadomasoquista. Noutro registo, a preciosa e romântica “Somebody”, com piano e a suave voz de Gore, afirmando-se o segundo vocalista da banda, mas sobretudo como compositor de referência mundial.

Lançado em 1986, o quinto álbum de originais da banda, “Black Celebration”, foi criado em Berlim antes da queda do muro, fazendo-se sentir uma sonoridade sombria, numa música mais densa, tensa e intensa, traduzindo sinais profundos da escrita mais realista e pessoal de Gore. Destacam-se os temas “Stripped”, onde se explora o amor obsessivo e “Question of Time”, que promoveram a fama e glória da banda para outro nível.

Music For The Masses”, de 1987, menos sombrio que as tonalidades exploradas no antecessor, estava destinado a ser um álbum para as massas! Foi com a “Music for the Masses Tour” que a banda ganhou notoriedade nos espectaculos ao vivo, com Dave a tornar-se num verdadeiro animal de palco, a filmagem desta digressão originou um filme e primeiro álbum ao vivo da banda, o mítico 101! Desde “Strangelove” até aos temas “Never Let Me Down Again” e “Behind the Wheel”, os DM aparecem num registo pop dançável e sedutor. No lado B de Behind the Wheel, surge uma empolgante versão da conhecida musica “Route 66”.

Lançado em 1990, “Violator”, o 7º álbum dos DM, é uma simbiose perfeita de dance music, synthpop e rock gótico com um registo funk, um resultado final com sabor a uma espécie de blues eletrónico. O clássico dos clássicos, o esplendor do pop/rock eletrónico! Com sintetizadores analógicos, brotaram músicas ritmadas de melodias lindas, graças aos arranjos geniais de Alan Wilder. “Personal Jesus” é o principal single, com uma forte batida country, muita guitarra e mixagens com vozes. Um êxito mágico e mítico! O 2º single “Enjoy the Silence”, é outra obra de arte, escrita por Martin, considerado o maior sucesso da banda e uma das melhores músicas de todos os tempos, uma melodia emocionante, e apesar do estilo synthpop muito forte, apresenta um pessimismo sombrio característico em todo o álbum. Com uma letra moralista, “Policy of Truth” é a música com mais riffs de guitarra do álbum. “World in My Eyes” é menos dançável e vistoso, mas muito sensual. Martin mescla o sexo e o vício em “Sweetest Perfection” e no final, com “Clean”.

Em 1993, a banda surge com o harmonioso álbum “Songs of Faith and Devotion”, que apela à consciencialização da espiritualidade, as temáticas de “Violator” estão presentes, amor, sexo e religião, mas num registo menos romântico, mais suave e introspetivo, visível nos sucessos “I Feel You”, “Walking In My Shoes” e “In Your Room”. As letras geniais de Martin sobre pecado, dor e absolvição, deram a Dave uma forte convicção na interpretação. Notam-se influências norte-americanas, de hard-rock, grunge e até gospel nas letras e ritmos, com a contribuição inovadora de duas Backing Vocals. Deu origem à Devotional Tour, das mais emblemáticas dos Depeche até hoje, principalmente nos EUA. A longa duração desta turné, a instabilidade de Gahan devido ao vício em heroína, assim como as constantes convulsões de Gore desgastaram o seio do grupo e Fletcher regressou a casa com uma crise nervosa. Em junho de 1995, Alan Wilder anunciou a saída e continuou com o seu projeto Recoil, alegando estar insatisfeito com os métodos e relações de trabalho.

Foi num clima tenebroso, que o 9º álbum foi concebido em 1997. Após a pesada saída de Wilder e a tentativa de suicídio do vocalista Dave Gahan, durante as gravações, numa overdose que o deixou clinicamente morto. “Ultra” foi, ao mesmo tempo, a morte, a ressurreição e a consagração do trio britânico e recolocou os Depeche nos eixos depois dessa fase conturbada. No final do álbum, a banda e a editora decidiram não fazer uma digressão, para não expor o estado frágil de Gahan, no período de recuperação. Destacam-se os temas “It’s No Good” e “Barrel Of A Gun”, com um synthpop hipnótico, batidas tentadoras, letras cínicas e vocais poderosos.

Em 2001, surge “Exciter”, gravado em Londres, Nova Iorque e Califórnia, é um trabalho algo apático, fosco, seco, introspetivo, embora homogéneo. “Freelove” e “Goodnight Lovers” apresentam melodias que ficam no ouvido. De qualidade sonora indiscutível, mas provavelmente, dos álbuns menos excitantes da banda até hoje.

Playing the angel” abre com a imponente sirene de “A Pain That I’m Used To”, uma explosão sonora, que ajuda a quebrar o clímax anterior. Um álbum mais heterogéneo que prima pela tecnologia e inovação inesperada em 2005, com registos tribais e vocais envolventes e sombrios. Destacam-se os ritmados “John the Revelator”, “Suffer Well”, “Precious”, e os mais introspetivos “Macro”, “I Want It All” e “Damaged People”.

Surgido em 2009, “Sounds Of The Universe” manteve a sonoridade sombria, com letras depressivas e resvalando no rock industrial. Iguais a si próprios, os timbres alcançados têm alguns momentos eletrizantes, num álbum coerente e harmonioso. Martin Gore continua o cérebro da banda, mas cedeu a Gahan uma fatia maior na composição. O primeiro single do álbum, “Wrong”, tem um registo simples, com uma mistura dos sintetizadores típicos iniciais a algo mais pesado. Dos trabalhos mais agradáveis da banda, desde “Ultra”.

Lançado em 2013, “Delta Machine”, o 13º álbum de estúdio, tem uma musicalidade rica em blues, soul e gospel. Começa com “Welcome to my world”, que aconselha a deixar os calmantes em casa, espelha um excelente trabalho de sintetizadores que prossegue em “Soft touch” e “Should be Higher”, numa mensagem critica de um amor onde a mentira é mais atraente do que a verdade. Mas no meio da eletrónica, emerge uma das guitarras mais subestimadas do rock, a de Martin L. Gore, casos de “Angel”, de “Heaven” e de “Goodbye”.

Spirit”, de 2017, o 14º disco da carreira até agora, tem uma sonoridade ríspida mas intemporal. Ao bom estilo de Gore, os temas continuam a falar de religião, amor, pecado, moral, luxúria, com alguma crítica à sociedade e política atual, sentindo no intransigente single “Where´s The Revolution”. De letra envolvente, “Cover Me”, evolui lentamente para um registo mais dancável, sem dúvida a melodia mais viciante deste álbum.

Os Depeche Mode nasceram nos anos 80 e tornaram-se a mais legendária banda de Synthpop, do mundo! Permanecem uma banda original e inovadora. 38 anos após a sua fundação, continuam a ser a mais influente no panorama pop-rock eletrónico. Se a música está intimamente ligada com o nosso estado de espírito, os Depeche Mode são a cura, mais que autêntico sedativos naturais para a nossa alma, eles são a salvação!

Estatisticamente, a cada 3 anos criam um novo álbum, por isso é legítimo esperar que 2020 nos traga mais sonoridades mágicas e uma world tour em 2021! Até lá… Enjoy the Silence

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