Existe a crise e depois existe o futebol. Enquanto há futebol, não há crise que o valha. É esquecida a condição do país e há ainda quem defenda que esta é a melhor altura para o governo anunciar novas medidas de austeridade, pois certamente passarão despercebidas aos comuns mortais, que somos nós. O futebol é vivido além estádio e, na era em que vivemos, onde as tecnologias e as redes sociais assumiram primazia no nosso quotidiano, é tema para ser discutido até à exaustão. De facto, não há mesas que o valha, nem teclados que o poupe (ou salve).
Nestas últimas semanas, o Facebook tornou-se uma espécie de Aldeia da Roupa que foi tudo menos branca… muita suja se lavou. De ver esta lavandaria em funcionamento, cheguei mesmo a concluir que o clube que tem mais adeptos não é um clube, mas sim uma espécie de clube anti-clube. Os benfiquistas gozam desmesuradamente com a desfortunada época sportinguista e têm também um enorme desprazer por animais da mitologia. Os sportinguistas, cheios de ouvir os benfiquistas, tornam-se no Sporting Clube do Porto e os Portistas, esses, é a eterna rivalidade com o clube da Luz, cuja troca de galhardetes já nos habituaram. Por fim, há ainda um clube que julgo ser o mais importante de todos e que lhe atribuo o 1º lugar no ranking: o anti-Benfica e português, uma vez que os seus adeptos preferem mudar de nacionalidade a defender Portugal através do vermelho.
Porém, após o Benfica ter perdido na Liga Europa, a minha alma ficou parva. O Facebook havia sido invadido por uma onda de generosidade e parabenização dos adeptos que, em momentos de insanidade, passaram a ser do seu próprio clube. Que bonito que foi de se ver, afinal existiam pessoas que, mais que serem do Benfica, Sporting ou Porto, honravam o ser-se português. “Afinal há salvação para a humanidade” – pensei. Acalmaram-se as vozes, mas no silêncio residia a ínfima esperança do Benfica ser campeão no último jogo da jornada portuguesa, nem que fosse naquele rasgo de sorte que seguramente não assistiu ao Benfica nesta época. Conclusão, foi-se a esperança e o SLB levou com mais um balde de água fria, literalmente da Ribeira.
Mais uma moedinha, mais uma voltinha e lá entra a lavandaria em acção. As picardias iniciadas em tom de brincadeira levam o humor pela insistência. O tom começou a ficar mais sério e os insultos entraram no tema da corrupção, isto porque os portistas (note-se a generalização), são todos uns corruptos. Os sportinguistas anti-Benfica mortinhos pela sua derrota, juntaram-se ao Porto para comemorar, comemorando também o seu 7º lugar (valha-nos isso). Os portistas, esses, lá se entreteram a comemorar a sua vitória, não se abstendo de mandar uma ou outra piada já da praxe ao seu “querido” SLB. Em suma, estalou-se o verniz e lá se foi o fairplay.
Nada de novo para as últimas semanas, não fosse nos festejos darem-se discussões entre amigos de longa data, mas rivais desportivos, que nas palavras trocadas de cabeça quente confundem o limite do desporto com o início da amizade. Adeptos que, ao comemorarem a vitória do seu clube, vêem o seu carro vandalizado, porque foram comemorar a vitória para os lados da Luz. “Ah e tal, meteu-se a jeito, estavas à espera do quê?”. Eu cá não estava à espera de nada, simplesmente ainda tinha fé no bom senso humano que validei não ser qualidade que se aplique ao futebol português.
Sorte que se há característica que se aplica ao ser humano é a facilidade com que as coisas caem no esquecimento e, com o passar dos dias, os ânimos vão-se acalmado tanto nas mesas do café como no mural do Facebook. Contudo, as lavagens ainda não acabaram, como dizem em tom de ironia, “ainda têm a taça para ganhar”. Na mesma medida que ainda há esperança de um título, há também a dor de cabeça de uma nova vaga anti-Benfica, caso o clube perca no Jamor. Aproveito a oportunidade para lançar o desafio, assim na loucura: sejam do vosso próprio clube e vivam as vossas próprias conquistas. Quem sabe é coisa para resultar?