Parabenos
120 bilhões de embalagens por ano
Micropartículas
Lóbis
Fibra de amianto
Marcas
Multinacionais
Lucro fácil
Substâncias cancerígenas
Mercúrio
Make-up
Promessas
Perigo
Apatia
Chumbo
Ingredientes e mais ingredientes. Etiquetas generosamente recheadas de substâncias desconhecidas. Um conceito de beleza imposto.
Tantas vezes somos felizes, porque simplesmente ignoramos. Ignoramos e mantemo-nos de forma teimosa a assobiar para o lado.
Ouve-se aqui e ali, uns suaves zumbidos, mas preferimos pensar que não é nada connosco.
Injetam-nos estereótipos de belezas fabricadas. Nomes sonantes da moda, do cinema, da música e até os chamados ‘influencers’, são pagos com generosas maquias para se exibirem num suposto estado de pura perfeição.
Há potencial. O mercado atento às novidades, avido de milagres, é presa fácil. As grandes marcas de cosmética são vendedoras de poções ‘mágicas’.
Lábios sensuais, cabelos deslumbrantes, peles luminosas, olhos de sonho…, tudo é possível.
E o consumidor lá vai cantando e rindo e acredita. Acredita e compra. Compra e paga. Paga e nem olha para trás.
É preciso ficar com ar de Hollywood, não importa quanto custa.
É preciso ter pele de 20 em corpos de 60. A cosmética promete apagar rugas, manchas e outras imperfeições. Campanhas dinâmicas e muito apelativas, entram nas casas, entranham-se nas vidas dos consumidores.
Multiplicam-se os canais de distribuição. Supermercados, farmácias, venda por catálogo e online, tudo serve para inundar o mundo de ‘beleza’.
Princípios ativos supostamente divinos, são razão para aumentar os preços de cremes, produtos capilares, protetores solares e maquilhagem. As campanhas ‘esquecem-se’ de informar que a existirem realmente nas fórmulas dos produtos, sê-lo-ão em quantidades ínfimas, que em nada justificam a exorbitância do preço ao consumidor.
Quantos já pararam para ler um rótulo, de uma das 120 biliões de embalagens de produtos de higiene e cosmética que se vendem anualmente?
Acredito que mesmo que os que o façam, ficarão limitados no conhecimento. A verdade é que desconhecemos o que está por detrás daqueles estranhos nomes.
As embalagens dão preciosa ajuda às marcas, uma caixa grande com letras prateadas que cativa. Dentro dela, uma outra que abarca um frasquinho que parece maior do que na realidade é. Tudo em nome do lucro. Reparem nos cremes de rosto. Olhem como o produto é armazenado numa pequena parte do frasco. Mas é marca conhecida, por isso merece as dezenas euros que pagamos.
Levamos para casa, verdadeiras bombas atómicas para a nossa saúde. Substância toxicas e cancerígenas, são empacotadas sem escrúpulos. O consumidor gaba-se das marcas que usa e sente-se feliz.
Falemos por exemplo dos “parabenos”. Apesar de haver já alguma tentativa de mudança, tudo permanece ainda densamente nublado. Estas substâncias fortemente usadas na cosmética, são conservantes altamente eficazes, que eliminam microrganismos, fungos e bactérias, conseguindo prolongar de forma bastante económica, a vida de cremes, shampoos, desodorizantes e por vezes até, de toalhetes para bebé. Episódios de cancro, envelhecimento precoce, infertilidade e alergias, aparecem diretamente associados a esta substância química.
Comprar ou não comprar problemas, eis a questão?
Podemos falar também dos animais em toda esta perigosa cadeia. Muitos seres inocentes têm sido sacrificados em testes. Sujeitos a uma vida infeliz, cheia de sofrimento. Sou completamente contrária a esta prática dantesca. Mesmo grandes marcas, que aparecem em campanhas solidárias e se tentam mostrar evoluídas, não passam de verdadeiros carniceiros. No entanto, o sacrifico animal não se fica pelos testes, existem enumeras substâncias de origem animal que entram na composição de muitos cosméticos, deixo aqui alguns exemplos: tutano de boi e placenta, carmim, queratina, o almíscar, só para citar alguns.
Estimativas apontam para um número assustador de embalagens utilizadas pela indústria da cosmética, que maioritariamente são usadas uma única vez e atiradas à sua sorte, para o planeta. 120 biliões.
Recordo aqui para os mais distraídos, que a questão da reciclagem, não passa em grande parte de um embuste. A maioria das embalagens que uns quantos crentes vão separando, acabam por terras e mares, num fim de linha que nos vai fazer agonizar a todos.
Uma grande parte do plástico acaba, juntamente com outros lixos, nas chamadas zonas de convergência, das correntes dos oceanos.
E não, o plástico não desaparece por obra de um qualquer espírito. Na natureza nada se perde, tudo se transforma. Tudo nos retorna. Este plástico vai-se fraturando em partículas mais pequenas e sucessivamente tão pequenas, que acabam no aparelho digestivo de muitos animais marinhos. Muitos destes, incluídos na cadeia alimentar do Homem.
Como se não bastasse, existem ainda as micropartículas plásticas, que entram na composição de diversos esfoliantes, géis de banho, pastas dentífricas entre outros.
Muito se fala, pouco se faz. Acredito que para algo mudar, temos de começar por nós. A mudança é o somatório de muitos pequenos novos gestos, novas atitudes, novos hábitos.
Sim, se assim o entendermos podemos começar, aqui e agora.
Sinto uma enorme vontade de partilhar a minha experiência. Sobre ela eu posso escrever.
Sei, no entanto, que todos somos livres e todas as opiniões deverão ser respeitadas. Sei ainda mais, que cada um só muda, se algum dia mudar, se e quando sentir internamente essa vontade. A alteração de hábitos de consumo tem o seu tempo, a sua cadencia pessoal e não adianta forçarmos seja o que for.
Sou por natureza, uma pessoa inconformada e esse estado de alma, levou-me a descobrir caminhos alternativos. Comecei a ouvir falar, depois a frequentar workshops de cosmética e sabão natural e em pouco tempo dei por mim, a medo, mas sem retrocesso, a produzir sabão artesanal, cremes, pasta de dentes, shampoo sólido e amaciador capilar.
Quase sem me aperceber, fui sabendo mais e fui-me aventurando neste caminho de descobertas.
Hoje trato óleos vegetais, óleos essências, argilas e águas florais com alguma familiaridade. É um mundo para mim, completamente novo, tentador e desafiante. Todos os dias me surpreendo com novas aprendizagens.
O mais fascinante é que sei o que ponha na minha pele, no meu cabelo, nos meus dentes. Eu e a minha família.
Preparo cada creme, cada condicionador com intenção e carinho. Cada pessoa tem as suas necessidades especificas, não somos padrões, não somos formatações, por mais que nos tentem manipular. Somo únicos. Somos gota e fazemos oceanos.
Um creme corporal para alguém que está a fazer quimioterapia, tem de ter ingredientes pensados cuidadosamente. Tem de ser eficaz sem ser agressivo. Um creme de rosto para um adolescente a rebentar de acne tem de ter ingredientes que combatam a inflação cutânea, sem deixar marcas para o futuro.
A rosa mosqueta, o abacate, o coco, a manteiga de cacau, a lavanda, o gerânio rosa, a argila verde…entraram na minha vida e estou muita grata por isso.
E sim, neste novo mundo, temos esfoliantes. Esfoliantes sem pecado entenda-se, sementes de papoila, caroço de azeitona moída… ficaria aqui, muitas páginas a contar-vos sobre paixões.
A cosmética natural, é para mim, uma alternativa deliciosa. Claro que há por aí a tal mole de indignados que não prescinde de uma bela marca de cosmético, para exibir nos encontros de amigos. Tem de ser caro para ser bom. Essa coisa das questões ambientais não é para eles. São gente ocupada com mais em que pensar.
Gosto de partilhar o que a vida tem trazido até mim e há muito que deixei de aceitar que me imponham correntes de pensamento, ou regras de comportamento.
Não quero perder pitada do que tenho para aprender e evoluir. Viverei o tempo certo para mim, mas cá entre nós, escrevo: Queria viver pelo menos 500 anos. É que só há pouco entendi, que tenho tanto para aprender e mudar. E é tão bom mudar, não é?
Chego até a imaginar, que a Mãe Terra leva o Homem a criar a ilusão que pode modificar o percurso da natureza e que na prática, bastará uma manifestação da real força dos elementos, para aniquilar a mão destruidora do Ser Humano.