Prosperidade: um futuro pós-crescimento

Desde o século XIX que o crescimento tem sido um objecto central no pensamento económico, mas hoje em dia há um crescente movimento de académicos que contesta essa centralidade e procura orientações alternativas.

O economista Tim Jackson é um líder deste movimento, defendendo que a chave para um sistema económico sustentável é a promoção de políticas que favorecem a prosperidade económica, por oposição a políticas cujo objectivo é o crescimento.

Crescimento económico consiste no aumento da produção de uma economia, sendo comumente medido através da taxa de variação do Produto Interno Bruto (PIB) de um certo ano face a anos anteriores. O nível positivo deste indicador é tido como essencial para a “boa saúde” de uma economia, pois está associado ao aumento de emprego, estabilidade financeira, e aumento do consumo.

O consumo é um factor fundamental no cenário económico actual, visto que é o seu aumento que permite às empresas produzir mais, criar mais emprego e investir mais. Contudo, este ciclo de produção alarma economistas como Jackson, que acreditam que a relação directa entre consumo e crescimento não é sustentável a longo prazo. Por um lado, o foco no consumo gera dívida, principalmente em momentos de recessão em que os rendimentos diminuem. Por outro, o incentivo ao consumo perpetua uma cultura de materialismo e de acumulação de riqueza como objectivo último, em vez de incentivar o investimento em novas tecnologias e em novas políticas governamentais que de facto contribuam para o aumento do bem-estar da humanidade.

É um facto que os países cujas economias crescem durante um período continuado tendem a verificar uma melhoria generalizada na qualidade de vida da sua população, e, portanto, o crescimento económico não é irrelevante para o bem-estar da sociedade. Porém, nas economias que já atingiram um nível elevado de qualidade de vida a relevância do crescimento contínuo para a prosperidade não é tão claro. Está aliás provado que o aumento dos rendimentos dos indivíduos não contribui directamente para o aumento da sua felicidade.

É precisamente face a esta realidade que a noção de prosperidade ganha força, pois é um conceito que ultrapassa objectivos quantitativos de produção e crescimento económico, ao invés destacando aspectos mais qualitativos como o nível de vida dos indivíduos, para a qual a protecção ambiental é essencial a médio-longo prazo.

Economistas que seguem a linha de pensamento de Jackson consideram possível um mundo pós-crescimento, em que os países continuarão a trabalhar para aumentar a sua prosperidade, mas desligando-a do crescimento económico. Nesse contexto, as políticas de fomento económico dirigir-se-ão para o desenvolvimento de tecnologias ecológicas e as políticas sociais terão como grande objectivo incentivar o desenvolvimento de um maior sentido de comunidade e de relações pessoais que dêem significado à vida das pessoas, contribuindo assim para uma contínua melhoria da qualidade de vida e consequente aumento da felicidade e da prosperidade geral do país.

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