Na TV, esbofeteiam-nos com a violência nas ruas. No mundo de hoje, vemos Paris em chamas, Itália a ser gerida pelo ódio, o Reino Unido a isolar-se e os EUA… não há palavras para descrever os EUA. Porque é que olhamos à nossa volta e parece que o mundo é governado pelo Ódio e pelo Egocentrismo?
O nascimento da União Europeia, assim como a queda do muro de Berlim em 1989, que é vista como o marco do fim fracassado do comunismo, o qual permitiu a expansão do capitalismo pelo leste europeu, levavam a crer que estaríamos a construir pontes entre estados e não muros! Contudo, na verdade, temos assistido à escala global, a uma cultura de ódio, guerras comerciais e um virar de costas entre países, acompanhado por uma viragem à direita na política internacional. Quais os fundamentos para esta nova tendência?
Um pouco por todo o mundo, vão-se acentuando opções que revelam uma postura nacionalista por parte dos mais conservadores, que olham para os imigrantes como ilegítimos usurpadores dos seus postos de trabalho, ou sobretudo como um peso extra para o estado. Na mesma linha, lideres como Donald Trump nos EUA, ou Bolsonaro, têm vindo a ganhar uma surpreendente notoriedade com o seu discurso homofóbico e xenófobo.
A escolha de um líder de extrema-direita como Jair Bolsonaro, no final do ano passado, foi uma bandeira dos brasileiros na luta contra a corrupção e insegurança, o povo tornou-se impaciente e menos brando com a justiça. Porém, gerou um tsunami e atravessou o atlântico, abalou uma Europa cada vez mais dividida. Por um lado, os que temem a extrema-direita, que receiam por em causa alguns direitos tão dificilmente alcançados pelas minorias e os que anseiam por uma mudança radical.
Na Europa, até a pioneira de extrema-direita Marine Le Pen, eleita presidente da Frente Nacional em 2011, quando confrontada com as declarações polémicas de Bolsonaro, que disse preferir ver os filhos mortos, caso fossem homossexuais e que mulheres merecem ganhar menos do que os homens, afirmou: “Não vejo Bolsonaro como um candidato de extrema-direita. Ele diz coisas extremamente desagradáveis que são intransponíveis em França.” Em Dezembro de 2018, Trump criticou o acordo de Paris sobre o clima, considerando que os protestos são prova de que o pacto “não funciona”. França não gostou e disse ao presidente dos EUA para não se meter na política interna francesa.
Também em Itália, onde está instalado um governo da direita radical desde Março de 2018. Matteo Salvini, líder da Liga (partido nacionalista e anti-imigração), numa coligação de direita. O outro vice-primeiro-ministro é Luigi Di Maio, filho de um antigo membro do partido fascista Movimento Social Italiano, é líder do Movimento 5 Estrelas, um partido radical eurocético e antissistema.
Aqui ao lado, em Espanha, o Vox apareceu nas sondagens com 12,9% de intenção de votos, e abriu caminho para a entrada da extrema-direita no parlamento espanhol. Nas eleições da Andaluzia, em dezembro de 2018, ganhou popularidade essencialmente devido à chegada de migrantes pelo mar naquela região.
Porque estarão os partidos de extrema-direita a ganhar espaço no universo político? A sociedade capitalista que vivemos, tem tornado as pessoas cada vez mais ambiciosas e gananciosas, o ter é mais importante que o ser, a chegada de emigrantes de países menos desenvolvidos, é uma preocupação pela sobrecarga que estes poderão ter nas contas do estado. No fundo, é o medo e a ganância que nos fazem gritar por uma revolução!?
Estará o socialismo em desuso? Segundo a ideologia marxista, o socialismo seria um género de um comunismo moderado, um patamar para se chegar à extrema-esquerda do comunismo. O objetivo seria fazer desaparecer o capitalismo e as classes socias, teoricamente, mais próximo dos interesses das pessoas. No comunismo de Karl Marx, o individuo seria praticamente dependente do estado, que lhes garantia o acesso grátis à educação e saúde, mas por outro lado privava toda e qualquer pessoa de ambicionar quaisquer bens privados…
Os países ditos comunistas, como Coreia, Cuba e China, assim chamados por se inspirarem nas ideias marxistas, na verdade, nunca conseguiram materializar a derradeira etapa comunista. Uma autêntica utopia!
Temos de voltar atrás, para lembrar que os principais vencedores da 2ª Guerra mundial, EUA e URSS, protagonizaram a Guerra Fria e polarizaram o mundo com o capitalismo e comunismo, saiu vitoriosa a ideologia norte-americana. A globalização, veio fomentar o consumismo desenfreado e até mesmo a ganancia humana, pelas coisas. Não é preciso nos esforçarmos muito, para associar o capitalismo aos ricos, e a doutrina comunista aos pobres. Senão, por que motivo, ninguém quer ir para o paraíso comunista, mas toda a gente quer fugir para o inferno capitalista?
Atualmente, este aparente descontentamento com os regimes socialistas, possibilita que os partidos de extrema-direita, almejem conquistar espaço noutros países europeus. Em Portugal, a Nova Ordem Social não desarma. Fundada por Mario Machado, antigo líder do movimento nacionalista Hammerskins, que foi apresentado, no início de 2019, num programa da estação de televisão TVI, como o “autor de algumas declarações polémicas”. Muitos vieram contestar que não se devia dar tempo de antena a um individuo, recentemente libertado após cumprir pena por crimes alegadamente ligados ao racismo e à violência xenófoba.
Independentemente da questão de ideologia política, devemos estar preocupados com as divisões sociais que possam aparecer. Certo, que já lá vai o tempo do fascismo elevado ao nazismo, apologistas de limpezas étnicas. No entanto, o neonazismo, tem na sua génese ideias que optam pela discriminação ou exclusão social, que levam à privação dos direitos humanos universais, colocando em causa princípios éticos e jurídicos.
A intolerância às diferenças, o preconceito e a prática da discriminação transforma-se em medo. Esse medo traz o odio, e gera segregação social e violência. Devíamos estar focados na construção de uma sociedade livre de preconceito, onde a diversidade seja aceite, mas, analisando as recentes movimentações políticas, não é descabido o cenário, de uma futura e hipotética separação a régua e esquadro, em cidadãos de primeira e de segunda! Será isto que queremos?
A verdade é que o radicalismo ou extremismo (esquerda ou direita) sempre conseguiu cativar massas, se a incontinência verbal de Donald Trump e o frenesim do excêntrico Kim Jong Un valeu-lhes uma nomeação em 2018 para o Nobel da paz, então, aparentemente ir contra esta tendência na valorização da cultura do ódio, parece ser como soprar contra uma ventoinha, e deste modo, este é o mundo que merecemos!