Tenho por hábito fazer umas caminhadas nocturnas para esticar as pernas e sentir que não estou a cumprir pena de prisão.
Era uma noite quente e aventurei-me pela zona de campo circundante à minha área de residência.
Estava eu em plena meditação em movimento, quando começo a ver luzinhas. Inicialmente ainda ponderei que o chá de camomila que tinha bebido ao jantar tinha algum efeito alucinogénico, mas rapidamente me rodearam uma série de pirilampos e fiquei maravilhada.
Parecia que algumas estrelas do céu brincavam comigo.
Dei por mim a filosofar sobre a magnificência da natureza em todo o seu esplendor.
Se Deus existe, está explanado nos rios e montanhas, nos melros e nos besouros, nas ondas que rebentam no mar, nos mamíferos que correm pelas savanas ou no olhar magnético do meu gato. No fundo, só uma inteligência sobrenatural poderá ter uma criatividade e fertilidade infinitas.
Tudo o que existe no nosso planeta tem valor intrínseco, tem direito à vida. Quem somos nós para nos julgarmos acima dos outros seres? Se nos pusermos em perspectiva, somos exploradores de tudo o que vive. Ainda são poucos os que defendem a abolição da escravatura para a natureza e tudo o que nela existe.
“Eu sou feito da inteira evolução da Terra; sou um microcosmo do macrocosmo. Nada há no universo que não esteja em mim. O inteiro universo está encapsulado em mim, como uma árvore está encapsulada numa semente. Nada há ali fora no universo que não esteja aqui, em mim. Terra, ar, fogo, água, tempo, espaço, luz, história, evolução e consciência – tudo está em mim. No primeiro instante do Big Bang, eu estava lá, por isso trago a inteira evolução da Terra em mim. Também trago em mim os biliões de anos de evolução por vir. Sou o passado e o futuro.
A nossa identidade não pode ser definida tão estreitamente como afirmando que sou inglês, indiano, cristão, muçulmano, hindu, budista, médico ou advogado. Estas identidades são secundárias, de conveniência. A nossa identidade verdadeira é cósmica, universal. Quando me torno consciente desta identidade primordial, posso então ver o meu verdadeiro lugar no universo e cada uma das minhas acções torna-se uma acção espiritual” (Satish Kumar, Spiritual Compass, The Three Qualities of Life, Foxhole, Green Books, 2007, pág.77).
Acredito na igualdade biocêntrica. Temos uma visão utilitarista dos ecossistemas sem integrarmos em consciência que nós somos mais um elemento dessa teia da vida.
O bem-estar e o florescimento da vida humana e não humana no planeta terra possui valor em si próprios. Esses valores são independentes da utilidade de não humanos para os propósitos humanos.
E lá continuei eu bem acompanhada pela noite adentro prometendo a mim mesma que tenho de fazer muito mais enquanto activista ambiental.