Este é um filme que recomendo, porque me envolveu através da sua narrativa, a beleza e o simbolismo de várias cenas. Fiquei presa ao desempenho brilhante da personagem feminina, Anne, protagonizada por Léa Drucker.
A realização está a cargo de Catherine Breillat, que retrata a versão francesa do filme dinamarquês Dronningen (Rainha de Copas, 2019) de Mayel-Toukhy. Acaba por ser bastante diferente da versão original, e a realizadora deixa o seu cunho pessoal no mesmo. Catherine começou a sua carreira como escritora (livro editado em 1964, com 17 anos), e também como actriz (entra no Último Tango em Paris, em 1972) Mas foi no cinema que descobriu a forma ideal de contar as suas histórias. É acusada até aos dias de hoje de ser uma autora porno, quando no fundo é apenas uma mulher com uma visão livre da sexualidade feminina,
Neste filme, Anne é uma advogada de renome, especializada na defesa de menores vítimas de abusos. Vive em harmonia familiar com o marido, Pierre (Olivier Rabourdin) e as filhas adoptivas de ambos. Theo (Samuel Kricher), de 17 anos, filho de um casamento anterior, vai morar com eles. E esse (suposto) equilíbrio quebra-se quando Anne e Theo se envolvem, e acabam por se apaixonar.
Partilho um pormenor interessante: Catherine Breillat inspira-se muito na pintura para as cenas dos seus filmes. Num dos cenários de amor entre Anne e Theo, o momento de prazer no rosto de Anne foi inspirado na obra de Caravaggio, “Maria Madalena em êxtase”.
Anne e Pierre dão vida a personagens que, ao mesmo tempo, se deixam dominar pelas suas emoções, tentando manter-se imperturbáveis, e se colocam no limiar da decência, à custa de aceitar o peso esmagador de um segredo que só pode ser admitido sem convicção. O que é que estamos dispostos a aceitar por amor? Este é sem dúvida um dos temas centrais do filme.
A banda sonora pertence a Kim Gordon.
Ficaram com vontade de ir ao cinema?
Nota: Este artigo foi escrito segundo as regras do Antigo acordo ortográfico.